Metrô na China: desespero dos solteiros é tão grande que chegam a pagar por namorados (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 10h17.
Pequim - Na China tradicional ser solteiro com 20 e 25 anos era quase uma raridade, mas com a transformação da sociedade, as pessoas estão casando cada vez mais tarde no país asiático, formando um grupo social que os chineses chamam de "sheng" (os "excedentes") e que está submetido às fortes pressões psicológicas.
Solidão, tristeza e ansiedade são alguns dos problemas que afligem esses "excedentes", que, além disso, para conseguir um namorado ou namorada são obrigados a tomar medidas pouco usuais como passar por interrogatório da família, perceber que são seus próprios pais que procuram um companheiro para eles ou mesmo fingir que têm namorado nas reuniões de famílias.
São casos como o de Tang Yong Xue, uma jovem de Chengdu (sudoeste da China) que este mês foi às ruas levando um cartaz no qual oferecia 10 mil iuanes (US$ 1,5 mil) a quem aceitasse ser apresentado a seus pais como seu namorado.
Tang pedia que o candidato tivesse de 26 a 30 anos, no mínimo 1,75 metro de altura e que fosse intuitivo para resolver os imprevistos ocasionais ao ser apresentado pela família.
Outra jovem de 27 anos pôs um anúncio na internet pedindo também um "falso namorado" e explicando que não era necessário acompanhá-la à casa dos pais, mas "só telefonar duas vezes por dia durante 10 dias enquanto estou com eles", oferecendo 600 iuanes (US$ 88) pelo "pacote".
O desespero das jovens é tanto que inclusive se chegou a propor a venda de produtos com "namorado incluído", no caso de um leilão online de um iPad no Natal por 6 mil iuanes (US$ 904) que vinha com um companheiro, a fim de ajudar as pessoas que passavam as festas de fim de ano sozinhas.
Os jovens, além disso, precisam lidar com o interrogatório dos pais.
Os famosos encontros amorosos são planejados em grandes feiras onde os pais trocam informação sobre seus filhos solteiros, como a que ocorreu na semana passada, que reuniu 50 mil pessoas no Parque Internacional de Escultura de Pequim.
Para jovens como Anmihua, um rapaz de 21 anos, tais medidas são consequência da pressão da família e da mentalidade dos pais "idêntica à de 2 mil anos atrás, quando se exigia que os filhos casassem o mais rápido possível para garantir a continuidade da unidade familiar".
Isso se soma ao momento na sociedade chinesa no qual é especialmente complicado encontrar namorados, devido às pressões trabalhistas e econômicas e a desproporção entre gêneros, consequência indireta da política do "filho único".
Uma enquete realizada na semana passada pela Associação de Médicos chinesa informou que, de um total de 160 mil jovens cujas idades oscilavam entre 27 e 35 anos, a metade trabalha de 8 a 10 horas, enquanto 20% declarou que costuma trabalhar entre 10 e 12 horas por dia, sem tempo livre para manter relacionamentos.
Além disso, os "excedentes" não conseguem namorar porque os baixos salários não facilitam na hora de cumprir com os requisitos das mulheres chinesas que, segundo um estudo da Associação de Casamentos e de Pesquisa Familiar, só consideram namorar homens que tenha uma casa, salário estável e economias.
Também afeta o mencionado desequilíbrio de gêneros na China, onde em 2005 nasceram 119 homens para cada 100 mulheres, em um país onde muitas famílias, especialmente no campo, preferem ter um menino a uma menina, recorrendo às vezes a abortos seletivos e abandonos de filhas.
Como consequência da crescente "solteirice", a enquete antes mencionada assinala que muitos cidadãos sofrem de infelicidade, solidão, ansiedade, pressão familiar e repressão sexual.
Na pesquisa só 25% admitiu ser feliz, enquanto 75% restante admitiu sofrer algum desses sintomas.
O fenômeno dos "excedentes" representa para a atual segunda maior economia de mercado um dos principais problemas da sociedade cuja taxa de jovens desesperados e pressionados só aumenta.