Vela: na origem desta aventura está o clube náutico de Hout Bay (HBYC), um porto próximo à Cidade do Cabo (Gianluigi Guercia/Arquivos/AFP)
AFP
Publicado em 29 de dezembro de 2016 às 11h17.
Eles são jovens oriundos de bairros pobres, mais associados à violência do que à vela: em 1º de janeiro, sete garotos da África do Sul irão zarpar da Cidade do Cabo para realizar a regata de suas vidas, percorrendo 5.600km no Atlântico até o Rio de Janeiro.
Há meses, esta equipe vem treinado praticamente sem descanso na ponta do continente africano, com o objetivo de escrever seu nome na história do Cape2Rio, a maior competição de vela do hemisfério sul.
"Estou muito orgulhoso de meus garotos, do que conseguiram realizar até agora", garante Theo Yon, 27 anos e capitão do Griffon, um barco monocasco de 43 pés. "Formamos uma boa equipe, temos experiência e podemos conseguir", completou.
Na origem desta aventura está o clube náutico de Hout Bay (HBYC), um porto próximo à Cidade do Cabo, e a vontade de seus dirigentes de promover a vela entre jovens desfavorecidos de Hangberg, um bairro reservado a mestiços durante o regime racista do Apartheid.
Hangberg se tornou notícia digna das capas dos jornais em 2010, como cenário de distúrbios violentos entre forças policiais e moradores, que eram contra um projeto de realojamento. Hoje, os garotos da vela tentam colocar o bairro pobre no mapa de maneira mais positiva.
Theo Yon, nascido em Hangberg, descobriu a vela graças à fundação do clube náutico. Decidiu em seguida transmitir sua paixão para as próximas gerações.
"A ideia é tirar as crianças da rua", explica. "Teremos em nossa equipe jovens desfavorecidos e outros que têm dinheiro, será uma mescla", relata.
Cole Davids, de 16 anos, tem suas raízes em Hangberg e suas origens são muito modestas. Quando apareceu esta oportunidade, não teve dúvidas.
"Theo nos ensina a navegar e a razão para a qual eu faço isso também é porque evito cair na tentação das ruas. O contrabando, a droga, os crimes, os esfaqueamentos...", explica o jovem.
Waylen Jones, de apenas 11 anos, é novo demais para integrar a equipe que viajará ao Brasil, mas já teve a oportunidade de sair do bairro pobre graças à vela.
"Faço vela porque é muito legal ver o mar e os peixes. E navegar as águas", explica o menino. "Em casa é chato, aqui é melhor".
O capitão do Griffon, Theo Yon, já participou da Cape2Rio como membro da tripulação em 2014. Às ordens ele terá desta vez seu irmão mais novo Lorenzo (17 anos), que espera adicionar mais um título à sala de troféus da família em sua primeira travessia do Atlântico.
Jovem, mas muito motivada, a equipe de Griffon tem a certeza de que conseguirá brilhar na regata para evoluir o projeto social através das virtudes da competição esportiva.