Arábia Saudita:"As mulheres sauditas são tratadas como escravas", afirmou a jovem saudita (Carlos Osorio/Reuters)
AFP
Publicado em 15 de janeiro de 2019 às 12h14.
Rahaf Mohamed al-Qunun, a jovem que recebeu asilo no Canadá, contou que fugiu da Arábia Saudita por causa de sua "condição de escrava" e pela violência física infligida a ela por sua mãe e seu irmão.
O caso da moça de 18 anos, que passou vários dias entrincheirada em um quarto de hotel em Bangcoc fazendo campanha on-line, causou uma mobilização internacional. Ela finalmente obteve asilo no Canadá, onde, aparentemente, pretende começar uma vida nova.
"Meu maior medo era que (meus pais) me encontrassem", declarou ela em árabe à emissora CBC, em sua primeira entrevista desde que chegou a Toronto, no sábado (12).
Ela também admitiu ter considerado o suicídio como uma alternativa para escapar da família.
"Fiquei trancada durante seis meses, porque cortei o cabelo", explicou, acrescentando que sofria regularmente "violência física" por parte do irmão e da mãe.
"As mulheres sauditas são tratadas como escravas", enfatizou.
No Canadá, ela contou ter recebido uma carta da família, na qual foi informada, entre outras coisas, de que eles a renegam como filha.
Por esta razão, a adolescente pediu para ser chamada apenas de Rahaf Mohammed e, assim, eliminar o sobrenome de sua família, Al-Qunun.
"Muitas pessoas me odeiam, seja da minha família, ou na Arábia Saudita em geral", acrescentou a jovem com voz embargada.
Com a ajuda de uma ONG, ela diz que quer estudar inglês e encontrar um emprego no Canadá.
"Senti que não poderia realizar meus sonhos, vivendo na Arábia Saudita", acrescentou, reiterando sua felicidade por ter recebido asilo.
"Eu tive a impressão de que renasci, especialmente quando senti todo esse amor e acolhida", explicou. "Diga aos canadenses que eu os amo", agradeceu.
A jovem foi detida na Tailândia na semana passada, ao chegar a Bangcoc, procedente do Kuwait, onde tinha conseguido escapar de sua família. Inicialmente, as autoridades tailandesas ameaçaram deportá-la de volta para casa, a pedido da Arábia Saudita.
Rahaf se entrincheirou em um quarto de hotel no aeroporto, tuitando várias mensagens e vídeos desesperados. Logo, chamou a atenção do mundo.
Depois de uma intensa mobilização a seu favor nas redes sociais, as autoridades tailandesas renunciaram à ideia de deportá-la e lhe permitiram sair do aeroporto com representantes do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
A Arábia Saudita é um dos países mais restritivos do mundo em termos de direitos das mulheres, que estão sujeitas à tutela de um homem (pai, marido, ou outro parente). Essa figura masculina exerce autoridade arbitrária sobre elas e toma decisões importantes em suas vidas.
O caso da jovem ocorreu em um período em que muitos olhares se voltam para a questão do respeito aos direitos humanos no país árabe, meses depois do assassinato do jornalista saudita dissidente Jamal Khashoggi, na Turquia.