John McCain: o senador foi diagnosticado com um câncer cerebral (Mandel Ngan/AFP/AFP)
AFP
Publicado em 28 de julho de 2017 às 20h11.
John McCain foi recebido como herói quando voltou a Washington após ser diagnosticado com um câncer cerebral, especialmente por Donald Trump, mas ele continua sendo o incômodo eterno para o presidente republicano, e salvou o Obamacare votando com os democratas.
Ao fim da noite de quinta-feira, quando o Senado estava prestes a votar uma versão light da reforma de saúde de Obama, o vice-presidente Mike Pence, também presidente da Câmara Alta, se reuniu durante 10 minutos com McCain para tentar fazê-lo mudar de opinião pela última vez.
Esforço inútil. À 01H29, McCain se adiantou após alguns instantes de suspense e deu seu voto: "não".
Uma parte dos democratas aplaudiu o candidato à Presidência em 2008, que chegou há dois dias a Washington com uma cicatriz acima do olho esquerdo, sinal da operação feita há alguns dias.
Os republicanos controlam as duas Câmaras do Congresso, mas contam somente com 52 cadeiras das 100 no Senado, e, por isso, cada voto contava, principalmente o do emblemático senador republicano pelo Arizona.
E o presidente Trump tinha consciência disso.
A medida foi rejeitada por 51 votos contra 49. "Três republicanos e 48 democratas falharam com o povo americano", reagiu Trump no Twitter.
"Como disse desde o início, vamos deixar que o Obamacare imploda. Depois negociaremos", acrescentou.
"Foi uma grande desilusão", disse a seus colegas o líder da bancada republicana nessa Casa, Mitch McConnell, após uma das votações mais tensas dos últimos anos no Senado.
Considerando que cumpriu o seu dever, o senador retornou nesta sexta-feira ao Arizona para retomar, a partir de segunda-feira, o seu tratamento contra o câncer, e com a firme intenção de voltar a Washington depois das férias de verão parlamentares.
Na quinta-feira, McCain advertiu que votaria contra a versão light apesar das insistências de Trump com seus parlamentares pelo Twitter.
O ex-adversário de Barack Obama não é um grande defensor da reforma de saúde aprovada pelo presidente democrata em 2010, mas as fraquezas e os medos que inspiram o plano republicano, feito apressadamente e que deixaria milhões de americanos sem cobertura de saúde, eram impossíveis de ser ignoradas.
Muitos analistas viram nisto um novo gesto de provocação contra Trump, de quem McCain nunca foi um grande partidário, especialmente depois que em 2015 o presidente questionou publicamente a sua honra na guerra do Vietnã, onde McCain foi prisioneiro.
"Não gosto de pessoas que se deixam ser capturadas", havia declarado o magnata.
Muita coisa aconteceu desde então, mas John McCain provavelmente não se esqueceu do que foi dito.
O representante Steve Cohen tuitou nesta sexta-feira: "a resposta de John McCain a Trump - a vingança é um prato que se come frio".
O fracasso é um forte golpe para a liderança republicana e para Trump, que prometeu reiteradas vezes a revogação e a substituição do Obamacare.
A votação desta sexta se referia a um projeto de lei em versão light, o qual eliminaria apenas algumas partes da legislação em vigor.
Com isso, os republicanos pretendiam construir uma base sobre a qual negociar com a Câmara de Representantes. Essa "revogação de mínimos" parecia atender aos conservadores do partido. Agora, já são dois fracassos consecutivos no Senado.
Alguns republicanos - McCain entre eles - criticaram o projeto de lei, preocupando-se com que a Câmara baixa mudasse de opinião, aprovasse o projeto e o enviasse automaticamente para Trump. O presidente teria apenas de promulgar a lei.
"Agora, temos de voltar ao modo correto de legislar e devolver o projeto ao comitê, realizar audiências, receber opiniões de ambos os lados, ouvir as recomendações dos governadores da nação e elaborar um projeto que finalmente ofereça cobertura de saúde acessível para o povo americano", concluiu McCain.