Apesar do presidente ainda ter forças para se manter como candidato, alguns nomes já foram citados como uma opção para a disputa nas eleições deste ano (Andrew Harnik /Getty Images)
Repórter
Publicado em 9 de julho de 2024 às 11h32.
Última atualização em 15 de julho de 2024 às 11h22.
Nesta terça-feira, 9, os congressistas do partido democrata se reúnem na sede do partido em Washington para discutir a portas fechadas a participação do presidente Joe Biden nas eleições deste ano.
“Será o primeiro encontro presencial dos cabeças do time democratas após o debate. Publicamente, o atual presidente tem apoio dos democratas, mas não tenho dúvidas de que nos bastidores haja uma pressão entre os doadores para que Biden desista da disputa”, afirma Vinícius Vieira, professor de Relações Internacionais da FAAP e da FGV.
Entre os doares, o professor destaca os Political Action Committees (Comitês de Ação Política), que são comitês que possuem um papel fundamental na arrecadação de fundos.
“São eles que distribuem recursos conforme as causas defendidas pelos candidatos”, diz. “Comitês vinculados a minorias, aos trabalhistas e sobretudo aqueles que têm muito dinheiro, como empresários que são mais simpáticos ao campo democrata, podem reduzir os recursos financeiros ou sinalizar que vão reduzir as doações em geral, enquanto os congressistas não fizerem gestões de bastidores”, afirma Vieira.
A pressão por parte do partido democrata ao Biden, no entanto, não deve ser pública em respeito à imagem presidencial, afirma o professor, que acredita que a permanência do atual presidente nas eleições deste ano ainda é esperada, principalmente pela falta de um nome de peso para o substituir.
Apesar do presidente ainda ter forças para se manter como candidato, alguns nomes já foram citados como uma opção para a disputa nas eleições deste ano.
“Entre os principais nomes para substituir Biden estão Gretchen Whitmer, governadora de Michigan, Gavin Newsom, governador da Califórnia, e Kamala Harris, atual vice-presidente dos EUA”, diz Vieira.
Michelle Obama, se quisesse, poderia ser a principal substituta, afirma o professor de Relações Internacionais. “Michelle poderia ser uma substituta viável, mas ela não sinaliza vontade de seguir uma carreira política, imagino até pela experiência negativa da Hillary Clinton, esposa ex-primeira-dama de um presidente, que falhou em chegar à presidência.”
Professor também lembra que Michelle viu de perto a pressão de um presidente dos Estados Unidos, o que deve ser mais um motivo que a desencoraja a governar o país. “Ela mesma viveu ao lado do presidente Obama, viu de perto da pressão do cargo, não deve ser algo que ela deve ambicionar para a vida dela neste momento, mas se ela quisesse, teria um caminho relativamente tranquilo para a presidência”.
A grande vantagem de Michelle Obama, segundo Vieira, está em uma boa parte do eleitorado que hoje está com Trump, como os centristas ou até mesmo aqueles que queiram ficar em casa no dia da votação.
“Muitos que hoje não pensam em sair de casa para votar, certamente sairiam para votar em Michelle, principalmente os afro-americanos e mulheres, que podem ser determinantes em alguns estados, como a Georgia, que tudo indica que vai se tornar, se é que já não é, o que chamamos de ‘swing state’, estado que não tem maioria absoluta de intenção de votos”.
Outro estado que pode ser um “swing sate” é a Nevada, por ter uma população latina significativa, mas essa população não é um parâmetro para outros estados, afirma Vieira.
“Arizona e Novo México são estados que, diferentemente da Califórnia, embora tenham muitos latinos e muitas minorias, eles têm ali um histórico forte de republicanos.”
Michigan, por sua vez, por ter uma forte comunidade árabe-americana, poderia ser uma preocupação para Trump, afirma o professor, mas ele reforça que a questão Israel-Hamas deixa uma grande dúvida neste ano.
“Trump não teria muitos votos neste estado por se mostrar preconceituoso contra imigrantes em geral, mas o efeito no contexto da guerra Israel-Hamas pode fazer com que muitas pessoas não saiam de casa para votar em Biden neste ano.”
Biden segue forte no time democrata em algumas áreas, principalmente entre as bases trabalhistas e alguns segmentos afro-americanos, que são as populações, trabalhadores, operários e o pessoal afro-americano que ele defendeu, diz o professor da FGV e da FAAP. “Biden também vai bem na economia relativamente”.
Apesar de ser forte nessas alas, o presidente Biden tem perdido forças nesta eleição. Ele não foi muito bem no debate contra o ex-presidente Trump e outros fatores acabam por enfraquecer a sua candidatura, principalmente o fato de que Trump permanece forte.
“Biden derrotou Trump em condições muito específicas no pós-Covid. Ele pode repetir isso agora? As pesquisas indicam que não”, diz Vieira. “Ainda que Biden seja um candidato altamente qualificado, será preciso mostrar suas fortalezas no próximo debate, afinal a imagem numa era midiática como a que nós vivemos é fundamental para o resultado de uma eleição tão acirrada.”