Refugiados querendo cruzar fronteira: pelo menos 412 morreram em combates, diz ONG (Murad Sezer/Reuters)
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2014 às 20h23.
Os jihadistas do Estado Islâmico que combatem para capturar a cidade síria de Kobane, na fronteira com a Turquia, avançavam rua a rua nesta quarta-feira, apesar da resistência das forças curdas e dos ataques aéreos da coalizão liderada pelos Estados Unidos.
O destino dos habitantes da cidade de maioria curda permanece uma incógnita, enquanto Washington reconhece que os ataques aéreos, que se intensificaram nas últimas 24 horas, não serão suficientes para defender Kobane.
"Apenas os ataques aéreos não vão resolver isto, não vão salvar a cidade de Kobane", disse o porta-voz do Pentágono John Kirby.
Somente tropas "qualificadas" em terra (combatentes rebeldes na Síria e forças do governo no Iraque) poderão derrotar o Estado Islâmico, destacou Kirby.
O diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, revelou que os jihadistas avançam a partir do leste para o centro da cidade.
Segundo Rahman, reforços de homens e veículos blindados chegaram a partir da província de Raqqa (norte da Síria), sob controle do EI, para os extremistas na periferia de Kobane.
De acordo com a ONG, pelo menos 412 pessoas morreram nos combates, mas esse número pode ser muito maior.
A França defendeu a ideia de uma "zona de amortecimento" entre Síria e Turquia para proteger os civis que fogem do avanço do Estado Islâmico, proposta apoiada pela Grã-Bretanha.
O secretário de Estado americano, John Kerry, disse que Washington "não descarta a ideia", mas a porta-voz do departamento de Estado Jennifer Psaki afirmou que "não estamos projetando levá-la adiante nesse momento".
Os jihadistas do EI entraram na noite de segunda-feira em Kobane, depois de quase três semanas de combates nas proximidades da cidade, que fica muito perto da fronteira com a Turquia.
Desde então, os combates ganharam as ruas, com as YPG (Unidades de Proteção do Povo Curdo) em menor número e com menos armas em uma resistência desesperada ao avanço do grupo islamita.
Ruas "cheias de corpos"
O barulho de morteiros e disparos podia ser ouvido a partir da fronteira turca nesta quarta-feira, de acordo com uma equipe de AFP no local.
Mustafa Ebdi, militante e jornalista de Kobane, afirmou em sua conta no Facebook que "as ruas de Maqtala", no sudeste da cidade, estão "cheias de cadáveres de combatentes do Daesh", sigla em árabe do Estado Islâmico.
Mas centenas de civis permanecem na cidade, segundo ele, que acrescentou que a situação humanitária é "difícil, porque as pessoas precisam de comida e água".
É muito difícil avaliar o número de civis que continuam na cidade. Algumas fontes relatam uma fuga total da população, enquanto outras, como Ebdi, afirmam que ainda há moradores.
Durante a noite, de acordo com Idriss Nahsen, 350 pessoas atravessaram a fronteira turca, mas os serviços de inteligência turcos os detiveram por suspeita de ligações com os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Esses civis estão em dois edifícios em uma aldeia na fronteira, e serão transferidos para prisões nas cidades de Diyarbakir e Sanliurfa.
"Se eles não forem libertados, vão se imolar", acrescentou Nahsen, dizendo que alguns já haviam incendiado cobertores durante a noite.
Curdos protestam para salvar Kobane
Milhares de curdos iraquianos protestaram nesta quarta-feira nas ruas de Erbil, capital da região autônoma do Curdistão, para reivindicar apoio internacional à cidade de Kobane.
Reunidos na frente da sede das Nações Unidas em Erbil (norte do Iraque), a maioria dos manifestantes agitava bandeiras do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão proibido na Turquia, além de retratos de seu líder, Abdullah Ocalan. No protesto, a multidão denunciou a passividade de Ancara.
A recusa do governo turco para intervir em defesa de Kobane deflagrou distúrbios no sudeste da Turquia, que deixaram pelo menos 21 mortos. Os confrontos continuavam nesta quarta.
"Pedimos à ONU que forneça ajuda de urgência a Kobane, uma ajuda humanitária e um apoio militar", assim como "a implantação de um corredor aéreo para encaminhar essa ajuda", disse à AFP Ghafur Makhmuri, um dos organizadores da manifestação em Erbil.
"Kobane e o Curdistão são as vítimas de uma empreitada genocida, e estamos aqui para impedir esse crime", afirmou uma das manifestantes, Leila Jlick, pedindo que "todos os curdos permaneçam unidos".