Foto tirada e divulgada em 12 de fevereiro de 2024 pela The Vatican Media mostra o papa Francisco (D) durante uma reunião privada com o presidente argentino, Javier Milei, no Vaticano (Álvaro Villalobos/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 12 de fevereiro de 2024 às 13h32.
O presidente argentino, Javier Milei, foi recebido nesta segunda-feira (12) por seu compatriota papa Francisco no Vaticano, em uma reunião com o objetivo de estreitar as relações entre estes dois líderes de ideologias opostas.
Em um compromisso regado a alfajores, o pontífice e o presidente estiveram reunidos por uma hora e dez minutos no Palácio Apostólico, um dia após terem se encontrado pela primeira vez no Vaticano e de trocarem abraços na ocasião da canonização da beata Maria Antonia de Paz y Figueroa, conhecida como Mama Antula (1730 -1799) e primeira santa argentina.
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Em tom mais formal, o encontro teve como foco a tentativa de estreitar a relação entre ambos após os insultos que Milei proferiu à Francisco no passado.
Até o momento o Vaticano não se pronunciou sobre uma das grandes questões que rodearam a reunião, a possível viagem do papa à Argentina, país natal que não visita desde que foi eleito chefe da Igreja Católica em 2013.
Em um vídeo compartilhado pelo Vaticano, Milei presenteia seu compatriota com alguns alfajores de chocolate amargo e alguns biscoitos de limão, além de um cartão-postal em homenagem à Mama Antula.
Já o ex-arcebispo de Buenos Aires dedicou ao presidente argentino o seu discurso de paz deste ano, que pede a regulamentação da inteligência artificial. Também deu-lhe um medalhão de bronze inspirado no baldaquino, a imponente estrutura de quatro colunas salomônicas que cobre o altar da Basílica de São Pedro.
No centro do medalhão, a pomba do Espírito Santo, como "símbolo de unidade, força e inspiração", segundo o documento explicativo divulgado pela Santa Sé.
Cordialidades à parte, Francisco e Milei reuniram-se em um contexto de tensão política e social na Argentina, e entre as próprias diferenças ideológicas.
O presidente, forte defensor do livre mercado, defende um corte radical nos gastos públicos, uma ampla política de privatizações e uma intervenção mínima do Estado. Entre suas primeiras medidas, desvalorizou o peso em 50%.
Já o pontífice baseou grande parte de seu trabalho pastoral na crítica às tendências econômicas e ambientais do neoliberalismo, e defende constantemente que os poderes públicos protejam os mais vulneráveis.
"O papa está sempre preocupado; é evidentemente uma questão que lhe é cara, que as pessoas não sofram", disse à imprensa no Vaticano o cardeal argentino Víctor Manuel Fernández, chefe do Dicastério para a Doutrina da Fé.
Na semana passada, Milei teve sua primeira grande crise com o fracasso de seu mega pacote de reformas econômicas, políticas e administrativas e agora deverá repensar sua estratégia diante de uma oposição crescente.
A pauta econômica também foi assunto de seu encontro com Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, após se reunir com Francisco.
"Durante as conversas cordiais na Secretaria de Estado", foi discutido detalhadamente "o programa do novo Governo para enfrentar a crise econômica" na Argentina, afirmou um breve comunicado do Vaticano.
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No passado, o presidente argentino acusou Francisco de "tentar expandir o comunismo" e, mais recentemente, de "interferência política", durante sua campanha eleitoral.
Entretanto, mudou o tom nos últimos meses, e em janeiro fez um convite oficial para que o sumo pontífice visitasse a Argentina.
Francisco, de 87 anos, minimizou os ataques proferidos, atribuindo-lhes ao contexto eleitoral, e após o encontro de domingo, os dois protagonizaram uma nova harmonia com seus abraços no Vaticano.
Segundo seus informantes, o papa, que no passado teve divergências com vários presidentes como Mauricio Macri e os Kirchner, Néstor e Cristina, não queria viajar para a Argentina até agora para evitar que sua presença fosse utilizada politicamente.
Em sua segunda viagem ao exterior desde que assumiu a presidência em 10 de dezembro, Milei chegou a Roma na sexta-feira procedente de Israel.
Entre sua delegação na Itália e no Vaticano estão sua irmã Karina, secretária-geral da Presidência, o ministro do Interior, Guillermo Francos, a chanceler Diana Mondino e o rabino Axel Wahnish, conselheiro espiritual do presidente e embaixador designado no Estado de Israel.
Nesta segunda-feira, o presidente argentino também se reunirá com o seu homólogo italiano, Sergio Mattarella, e com a primeira-ministra Giorgia Meloni.