Funcionário realiza a leitura da radiação na Usina Nuclear de Fukushima: pelo menos 300 toneladas de água com partículas radiativas escorrem todos os dias da usina (Toshifumi Kitamura/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2013 às 22h29.
Tóquio - O método de congelar o solo com um líquido refrigerado correndo através de canos sob a terra foi usado pela primeira vez na década de 1860 para escorar minas de carvão. Mais de 150 anos depois, é a mais recente ideia para conter o desastre nuclear em Fukushima.
Pelo menos 300 toneladas de água com partículas radiativas de césio e estrôncio – ligados ao câncer de osso – e trítio escorrem todos os dias da usina nuclear japonesa até o Oceano Pacífico. O plano para conter esse risco sanitário é construir um muro de contenção subterrâneo feito de gelo.
Após repetidos fracassos nas tentativas de conter a água contaminada, a operadora da central, a Tokyo Electric Power Co, está ficando sem alternativas para lidar com o que foi considerado “um problema urgente” pelo primeiro-ministro Shinzo Abe na semana passada pela primeira vez. Lidar com os vazamentos é uma “emergência”, afirmou a Autoridade de Regulamentação Nuclear. Os contribuintes japoneses já enfrentam um custo estimado de limpeza de 11 trilhões de ienes (US$ 112 bilhões).
Paredes subterrâneas de gelo já foram usadas para bloquear a radiação num experimento no antigo local do Laboratório Nacional de Oak Ridge, Tennessee, que produzia plutônio para armas nucleares, conforme um relatório da empreiteira Arctic Foundations Inc., empresa de congelamento de terra com sede no Alaska.
Longa espera
O plano para Fukushima tem desvantagens: não terminará antes de 2015 e ainda não tem um custo estimado. O muro de gelo subterrâneo teria 1,4 km, a maior extensão contínua de terra congelada artificialmente do mundo, segundo o departamento de resposta a acidentes nucleares do Japão.
A Kajima Corp., a principal construtora da central nuclear Dai-Ichi, deve entregar até 31 de março de 2014 um estudo de viabilidade do projeto.
A água fortemente poluída começou a se acumular nos subsolos do complexo de Fukushima quando injetaram toneladas de água nos reatores após o terremoto e o tsunami de 11 de março de 2011, que destruíram os sistemas de refrigeração da central.
Depois, a água subterrânea começou a vazar para os porões, aumentando o volume de água contaminada. Por sua vez, a água radiativa se infiltrou nos lençóis de água subterrâneos, fazendo com que a radiação dos poços de monitoramento atingisse valores muito altos. O Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão estima que pelo menos 300 toneladas de água subterrânea poluída vazam para o oceano todos os dias.
Parede de gelo
A proposta da Kajima é enfiar ao redor da estrutura canos verticais entre 20 e 40 metros de profundidade e um metro de distância entre si. Depois, injetar o líquido refrigerado nos canos a partir de uma unidade de refrigeração próxima, formando um muro de gelo, que manteria a água poluída dentro da central e desviaria a água fresca que flui das montanhas circundantes. O governo espera manter a terra congelada durante seis anos a partir de julho de 2015.
Ainda não foram feitas estimativas oficiais dos custos.
Os funcionários decidiram aceitar essa proposta como parte da oferta do governo para contribuir com mais fundos para os trabalhos para conter o fluxo de água contaminada que vaza para o oceano.
“A escala desta operação não tem precedentes no mundo”, disse o chefe de gabinete japonês, Yoshihide Suga, numa conferência de imprensa. “Portanto, consideramos que o governo deve dar um passo à frente e apoiar essa realização”.