Rachadura encontrada na parede de um poço é possivelmente a causa do vazamento de água contaminada (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 3 de abril de 2011 às 12h47.
Tóquio - O governo do Japão alertou no domingo que pode levar meses para parar o vazamento de material radioativo da usina nuclear atingida por um forte terremoto e um tsunami, há três semanas, enquanto mais corpos eram encontrados em áreas devastadas no nordeste do Japão.
Um assessor do primeiro-ministro, Naoto Kan, disse que a prioridade do governo é acabar com os vazamentos de radiação que estão assustando o povo e atrapalhando o trabalho de refrigeração das barras de combustível nuclear superaquecidas.
"Não escapamos de uma situação de crise, mas ela está de certa forma estabilizada", disse Goshi Hosono, um parlamentar do partido do governo e assessor de Kan.
"Quanto tempo vai demorar para atingir (o objetivo de deter o vazamento de radiação)? Acho que muitos meses pode ser uma boa meta", disse Hosono em um programa em rede nacional da Fuji TV, no domingo.
Um funcionário da Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da usina, encontrou uma rachadura numa parede de concreto do poço do reator número 2, no complexo Fukushima Daiichi, no fim de semana, gerando uma leitura de 1.000 miliserviets de radioatividade por hora no ar lá dentro.
O vazamento não parou depois que despejaram concreto no poço, e a Tepco passou a utilizar polímeros que absorvem líquido para evitar que mais água contaminada saísse.
O último esforço para estancar o fluxo da água radioativa para o oceano Pacífico começou no domingo à tarde. Funcionários cobriram os polímeros com mais concreto.
"Esperávamos que os polímeros funcionassem como fraldas, mas ainda não percebemos nenhum efeito visível", disse o diretor-geral-adjunto da Agência de Segurança Nuclear e Industrial, Hidehiko Nishiyama.
Autoridades acreditam que a rachadura pode ser uma fonte do vazamento de radiação que tem atrasado os esforços de controlar o complexo de seis reatores e fez com que os níveis de radiação no mar ultrapassassem 4.000 vezes o limite legal.
A luta para resfriar os reatores aquecidos e evitar a perigosa fusão das barras de combustível altamente radioativas já fez com que os funcionários jogassem água salgada nelas, mas isso deixou a instalação inundada, impedindo que os homens chegassem mais perto dos reatores.
Nishiyama disse que água doce estava sendo bombeada agora para os reatores 1, 2 e 3, usando energia externa, que se mostrou mais estável do que os geradores a diesel de emergência, que vinha sendo usados.
Ele disse que os três reatores estavam agora estáveis.
O terremoto de magnitude 9,0 e o tsunami do dia 11 de março deixaram quase 28.000 mortos e desaparecidos e a costa nordeste do Japão arrasada. O desastre afetou a economia e trouxe um prejuízo que pode chegar a 300 bilhões de dólares.
Depois de três dias de uma intensa busca aérea e marítima, feita pelas forças norte-americanas e japonesas, foram recuperados mais 77 corpos, disse a agência de notícias Kyodo no domingo.
O primeiro-ministro está sofrendo intensa pressão para guiar o Japão nessa que é a sua pior crise desde a Segunda Guerra Mundial, mas depois de três semanas da tragédia, muitos japoneses estão zangados porque o desastre humanitário parece ter ficado em segundo plano devido à crise nuclear.