Parte do reator de Angra 3: novas usinas deverão custar cerca de R$ 9 a R$ 10 bi cada (Divulgação/Eletronuclear)
Da Redação
Publicado em 14 de março de 2011 às 16h59.
Rio de Janeiro - O Brasil está preparado para enfrentar acidentes nucleares e não deverá retroceder nos planos de aumentar o seu parque nuclear por causa do acidente em uma usina no Japão, após o forte terremoto e tsunami que abalaram o país asiático na semana passada.
A avaliação é do assessor especial da presidência da Eletronuclear, braço da Eletrobras, Leonam Guimarães, que já prevê que o assunto dará munição aos opositores da expansão da energia nuclear no Brasil.
"Esse problema sem dúvida vai causar perturbação em todos os planos (de novas usinas). Mas o que aconteceu no Japão não muda os cenários individuais de cada país que levam à necessidade da geração elétrica nuclear", afirmou Guimarães à Reuters nesta segunda-feira.
O Japão se esforçava nesta segunda para evitar o colapso em um reator nuclear atingido por uma segunda explosão de hidrogênio, dias depois dos desastres naturais que mataram ao menos 10 mil pessoas. O maior temor é de um grande vazamento de radiação do complexo em Fukushima, a 240 quilômetros de Tóquio, onde engenheiros lutam para evitar um colapso nos reatores.
Para o representante da Eletronuclear, decisões como a da Suíça, que anunciou ter suspendido a aprovação de novas usinas nucleares, "são puramente emocionais" e um país que necessita de energia não poderá agir dessa forma.
"O fato de ter ocorrido esse acidente não muda em nada as necessidades e os critérios que levaram vários países do mundo a recorrer à energia nuclear." O Brasil pretende decidir este ano o local para a construção de quatro novas usinas nucleares de 1 mil megawatts cada, que devem estar prontas até 2030. O país finaliza também a usina Angra 3, a terceira usina nuclear brasileira, com capacidade para gerar cerca de 1,3 mil MW.
Para Guimarães, o clima de catástrofe que está se dando à questão nuclear no Japão é exagerado, e fazer um paralelo com o Brasil é ainda mais complicado.
Uma comparação com o grave acidente de Chernobyl também é descartado por Guimarães, já que as tecnologias atuais são bem diferentes. "Ficar brandindo com o fantasma de Chernobyl chega a ser irresponsável e desrespeitoso com os milhões de japoneses que estão hoje procurando seus desaparecidos e chorando seus mortos", disse.
De acordo com Guimarães, das 440 usinas nucleares existentes no mundo, 65 por cento usam sistema de água pressurizada, como o Brasil, e 25 por cento de água fervente, como o Japão. Apenas 10 por cento delas usam grafite ou moderador ou gás com fluído de resfriamento, que foi o caso de Chernobyl.
GEOLOGIA FAVORECE BRASIL Além de não estar sujeito a terremotos na escala vista no Japão, o Brasil está preparado para enfrentar eventuais fenômenos naturais de médio porte. As usinas Angra 1 e 2 aguentariam terremotos de até 7 graus e ondas de até 6 metros, informou o assessor especial da presidência da Eletronuclear, assim como estão preparadas para ciclones de alta velocidade.
Para evitar que ondas afetem o funcionamento das usinas em Angra foi construído um quebra-mar, explicou Guimarães, apesar de não imaginar um tsunami abalando o país.
"Um abalo sísmico daquele porte é inviável pelo ponto de vista da geologia no Brasil", afirmou. "O que acontece lá (no Japão) é o choque de placas tectônicas no Pacífico. No Atlântico é inviável, porque aqui existe também o encontro de duas placas tectônicas, mas as placas estão se afastando e isso não dá tsunami."