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Japão lembra 75 anos da bomba atômica em meio à escalada militar

Os 75 anos do episódio, em 1945, acontecem após explosão em Beirute que lembrou o formato de "cogumelo" das bombas no Japão

BOMBA DE HIROSHIMA: 75 anos do episódio trágico que marcou o fim da Segunda Guerra (George R. Caron/Wikimedia Commons)

BOMBA DE HIROSHIMA: 75 anos do episódio trágico que marcou o fim da Segunda Guerra (George R. Caron/Wikimedia Commons)

LB

Leo Branco

Publicado em 5 de agosto de 2020 às 06h35.

Última atualização em 5 de agosto de 2020 às 06h58.

É em meio a uma triste coincidência que o mundo relembrará a explosão da bomba atômica, último momento da Segunda Guerra Mundial. Após uma explosão que destruiu ontem parte de Beirute, capital do Líbano, o Japão homenageia na noite desta quarta-feira, 5, as vítimas da detonação da bomba atômica em Hiroshima, em data que marca os 75 anos do episódio.

A cerimônia oficial está prevista das 6:50 às 8:15 da manhã da quinta-feira na hora local (18h50 da quarta no Brasil), horário exato da detonação da bomba, que deixou entre 90.000 e 166.000 mortos. Dias depois daquele 6 de agosto de 1945, outra bomba seria detonada em Nagasaki, em 9 de agosto, dando fim à guerra.

Na tarde de terça-feira, 4, no Líbano, muitos associaram o formato da fumaça da explosão ao "cogumelo" das bombas no Japão. Em Beirute, contudo, a explosão não foi atômica e a suspeita é de que um armazém com grande quantidade de nitrato de amônio possa ter provocado o acidente. Por enquanto, a hipótese é de explosão acidental. Ao menos 73 pessoas morreram.

Na cerimônia no Japão, por causa do risco de contágio pela covid-19, a celebração em um memorial pacifista no centro de Hiroshima será fechada a algumas dezenas de convidados. Na lista está o secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres. O evento será transmitido pela internet, assim como uma série de videoconferências de ativistas contrários à proliferação de armas nucleares.

A lembrança do horror causado pela bomba acontece em meio a uma escalada militar no Japão, que, derrotado na Segunda Guerra, por muito tempo deixou de lado até mesmo boa parte da defesa do próprio território -- terceirizada, em grande parte, ao exército dos Estados Unidos.

No início do ano, o governo japonês anunciou a criação de uma unidade militar para lançar satélites de autodefesa, numa evolução de um programa criado em 2018 pelo primeiro-ministro Shinzo Abe. A ideia do programa é destruir canais de comunicação de oponentes.

É uma novidade num país pacifista como o Japão. Por quatro décadas, a Constituição do país, feita em 1947 sob os traumas do pós-Guerra, vedou o uso militar do aparato espacial japonês. A proibição caiu em 2008, mas só está sendo usada agora.

O fato é importante porque o programa espacial do Japão possui o quinto maior orçamento do mundo, com mais de 3 bilhões de dólares, só atrás de Estados Unidos, Rússia, França e da vizinha China. Além disso, os gastos militares estão subindo. O orçamento para 2020 deve bater 5 trilhões de ienes (ou 47 bilhões de dólares), um recorde.

Há motivos de preocupação. Por um lado, os japoneses sofrem com a tensão incessante vinda da ditadura de Kim Jong-Un, na Coreia do Norte, que volta e meia dispara mísseis em direção ao Japão. Além disso, os japoneses precisam lidar com as ambições crescentes da China, manifestada, entre outras coisas, na disputa pela posse de ilhas não muito longe da costa japonesa.

Por ora, o Japão não quer saber de briga. O nono artigo da Constituição do país proíbe a declaração de guerra para solução de disputas internacionais. Mas um das maiores promessas de Abe, que está no poder desde 2012, tem sido mudar esse artigo para dar mais poderes ao Exército japonês.

Como não pode mais concorrer à reeleição, Abe tem até setembro do ano que vem para perseguir a meta. Mais de 60% dos japoneses discordam da mudança, mas quem decidirá a questão é o Parlamento, onde o governo tem maioria.

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