Mulher reza em meio à neve em Iwate, no Japão, por vítimas de tsunami: além das perdas humanas, muitas pessoas abandonaram a região para tentar esquecer a tragédia (Kyodo/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de março de 2014 às 09h30.
Kamaishi - À primeira vista tudo voltou ao normal na região litorânea de Iwate três anos depois da passagem do tsunami, exceto para as 34 mil pessoas que ainda vivem fora de suas casas devido à catástrofe que assolou esta região esquecida do norte do Japão e que acelerou o despovoamento.
Como marca visível da recuperação da tragédia, que nesta terça-feira completa três anos, quase não restam prédios em ruínas e o "Pinheiro Milagroso" está lá como símbolo de resistência, sendo a única árvore que ficou de pé entre as 70 mil que coloriam a costa de Rikuzentakata.
Os trabalhos de remoção dos escombros e reconstrução estão 90% completos, enquanto as obras para reforçar a proteção do litoral diante da possibilidade de novos tsunamis e a realocação da população desabrigada se desenvolvem letamente por conta da complexidade técnica.
Iwate, que tem a economia baseada na indústria pesqueira, é a segunda província mais extensa do Japão e com menor densidade demográfica após a ilha de Hokkaido. Desde março de 2011 a população da região litorânea caiu 7,5%, de acordo com as autoridades locais.
Além das perdas humanas provocadas pelo tsunami - 5.814 desaparecidos em Iwate, dos mais de 18.500 em todo o país-, muitas pessoas, especialmente os jovens, abandonaram a região para tentar esquecer a tragédia e estudar ou trabalhar nas grandes cidades do país.
"Muitos estudantes se mudaram imediatamente após o desastre. Há mais oportunidades em outras regiões, aqui só entre 60% e 70% dos alunos encontram trabalho", explicou à Agência Efe o diretor da escola de ensino médio da cidade de Otsuchi, Morehi Anagata.
Kameko Kondo, uma aluna desta escola, tem planos de deixar a cidade quando acabar o instituto para ir à universidade. Seu sonho é fazer graduação em Enfermagem e "voltar algum dia a Otsuchi para ajudar o lugar a se tornar melhor", disse.
São os mais velhos que permanecem na região, e, entre eles, os evacuados pela catástrofe são os que estão em uma situação mais delicada após perder as casas. Em alguns casos, parte da família.
Os mais de 34 mil desabrigados vivem em alojamentos temporários distribuídos pela região como o de Heita, um dos maiores de Iwate com 430 residentes, um quarto deles com mais de 60 anos.
Saki Shinju, uma pensionista originária da cidade litorânea de Rikuzentakata, já está há três anos vivendo em Heita e não tem certeza se um dia conseguirá retornar para casa por conta da duração das obras para elevar o terreno oito metros sobre seu nível atual e para construir uma nova barreira de contenção de tsunamis de 12,5 metros de altura.
"Quero voltar a viver de frente para o mar, no lugar onde cresci, mas as obras são lentas e não sei se estarei com saúde dentro de três ou cinco anos", afirmou resignada.
Outro residente, o aposentado Sinji Sasaki, se mostra mais crítico e considera que Iwate "foi deixada de lado" pelo governo e pelas grandes empresas. Para ele, todos estão mais focados na preparação dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 do que na reconstrução da região, a mais castigada pela catástrofe de 2011 junto a Miyagi e Fukushima.
"Os políticos, as construtoras e as empresas que dão emprego estão voltadas para Tóquio. Ali há grandes oportunidades de negócio e aqui não", lamentou Sasaki, que não acredita que as Olimpíadas de 2020 beneficiarão a região "como diz o governo".
O complexo de Heita é composto de 221 casas e conta com creche, centro de atendimento para idosos, barbearia e outros estabelecimentos administrados por residentes e voluntários. Até pouco tempo, também tinha um supermercado, que fechou por baixa rentabilidade.
O governador de Iwate, Takuya Tasso, mostra sua preocupação quanto aos fundos estatais orçados para a reconstrução que atrasam ou vão parar nas construções de Tóquio 2020.
"Os moradores de Iwate fizeram um esforço enorme para sair com antecedência. Agora, pedimos ao governo central que continue nos ajudando para a recuperação", disse em um encontro com os veículos de comunicação.
Os problemas de Iwate - o envelhecimento da população e a estagnação econômica - são os mesmos que afetam o resto do Japão, onde se prevê que o número de pessoas em idade economicamente ativa caia para 40% até 2050.
Mas nesta região encravada entre as montanhas e o Pacífico a sombra do tsunami segue presente e pesa mais que a euforia pela organização das Olimpíadas de 2020.