Francesca Chaouqui: a escritora se descreve quase como uma heroína disposta a ajudar Francisco (Max Rossi/Reuters)
EFE
Publicado em 7 de fevereiro de 2017 às 17h08.
Roma - A italiana Francesca Chaouqui, condenada a dez meses de prisão no julgamento feito no Vaticano pelo caso "Vatileaks 2", lançou nesta terça-feira um livro no qual ela acusa parte da Cúria Romana de remar contra as reformas do papa e no qual ela divulga documentos sobre as finanças da Igreja.
Em "Nel nome di Pietro" (Em nome de Pedro), ela relata fatos do tempo em que fez parte da COSEA, a comissão criada pelo papa Francisco para estudar as contas da Santa Sé.
Ela, que ocupava o cargo de relações públicas, se descreve quase como uma heroína disposta a ajudar Francisco: "Quando seus olhos (os do papa) se posam sobre mim, sinto como uma descarga elétrica e fico hipnotizada. De repente, descubro que por ele eu me jogaria no fogo. E sei que haverá fogo".
E que termina como uma espécie de vítima sacrificada por forças de dentro da Cúria, como o cardeal George Pell, prefeito da secretaria para a Economia do Vaticano.
No livro, ela o acusa de ter conseguido um cargo importante para se proteger das investigações na Austrália por ter escondido casos de pedofilia de alguns padres.
"Em Roma, o manto do Vaticano cobre qualquer mancha, mas é preciso um cargo que inclua um passaporte vaticano e Pell está tentando conseguir", garante no livro, de 279 páginas.
Uma figura que é frequentemente citada no texto é o sacerdote espanhol responsável pela COSEA, Lúcio Ángel Vallejo Balda.
Ele foi condenado nesse julgamento a 18 meses de prisão e, depois de cumprir mais da metade da pena no Vaticano, recebeu autorização do papa para ter liberdade condicional e foi transferido à Astorga.
Francesca o define como um homem impulsivo e excessivo, que perdeu a cabeça por não ter conseguido um posto de importância na Cúria e vazou os documentos aos dois jornalistas que também foram acusados no processo e depois absolvidos por falta de jurisdição.
Ela também relata a confissão do sacerdote espanhol, em um quarto de hotel em Florença, sobre sua sexualidade, mas o livro não publica as mensagens de Whatsapp lidas durante o processo e nos quais a relações públicas da COSEA chama Balda de "verme", "marica" e ameaça destrui-lo perante a imprensa.
A publicação reúne alguns documentos com dados sobre as contas do Vaticano, que já apareceram nos livros dos dois jornalistas, e a primeira página de um relatório sobre a segurança no Estado, que ela afirma que Balda encarregou aos serviços secretos espanhóis.
No suposto documento da inteligência espanhola, sem qualquer tipo de selo e escrito em italiano, os possíveis alvos sensíveis aparecem cobertos por motivos de segurança, conforme indica a nota de rodapé.
Ela também conta sobre as tentativas de suborno de alguém que representava o hospital pediátrico do Vaticano para que as irregularidades na gestão não fossem divulgadas.
Além de inclui o relatório sobre os "grupos de poder" e "interesses econômicos" de alguns altos cargos do Vaticano e que, segundo Francesca, Pell interceptou antes de chegar ao papa.
Aos 35 anos, ela ainda relata os "esbarrões" com Francisco nos corredores da Casa de Santa Marta e os terços que ele e ela rezaram sozinhos.
Agora, cabe à Promotoria de Justiça do Vaticano avaliar a publicação dos documentos é um crime. O escritório comunicação do Vaticano já adiantou à Agência Efe que o livro não faz ninguém "perder o sono".
No epílogo, como em um filme de suspense, a autora garante que na Igreja de São Luís dos Franceses, diante de obras do pintor Caravaggio, sua fonte na Secretaria de Estado do Vaticano passa as informações "passando papeizinhos".