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Após registrar 5 mortes por coronavírus, Itália isola ao menos 11 cidades

O ritmo de avanço nos relatos diminuiu na China — e passou a preocupar mais em outros países

Coronavírus (Remo Casilli/Reuters)

Coronavírus (Remo Casilli/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de fevereiro de 2020 às 09h53.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2020 às 11h41.

O governo da Itália anunciou a quinta morte provocada pelo novo coronavírus no país nesta segunda-feira, 24. A quinta vítima é um idoso de 88 anos, morador de Caselle Lanne, na Lombardia. Desde domingo, 23, as autoridades italianas estão controlando ao menos 11 cidades na região norte - elas estão em quarentena, uma tentativa de evitar a propagação da doença.

Ao todo, cerca de 43 autoridades locais determinaram restrições à entrada e saída de pessoas. Quem não respeitar poderá ficar detido por até três meses.

Autoridades de proteção civil disseram que 219 pessoas deram positivo para o novo coronavírus na Itália e cinco morreram. Uma foi curada.

A polícia italiana também monitora postos de controle em cidades em quarentena no norte do país nesta segunda-feira, enquanto as autoridades tentaram conter casos do coronavírus que fizeram da Itália o principal local do surto na Europa.

No entanto, as autoridades ainda não identificaram a origem do contágio, que nesta segunda-feira se espalhou por mais regiões e levou a Áustria a interromper temporariamente o tráfego ferroviário através de sua fronteira com a Itália.

"Esses rápidos desenvolvimentos no fim de semana mostraram a rapidez com que essa situação pode mudar", disse a comissária de saúde da UE Stella Kyriakides em Bruxelas. "Precisamos levar essa situação muito a sério, mas não devemos ceder ao pânico e, ainda mais importante, à desinformação."

Os italianos que viajam para o exterior também começam a sentir o temor das autoridades de outros países em relação a eles. Um ônibus cuja origem era Milão foi barrado pela polícia na cidade francesa de Lyon para que os passageiros pudessem realizar exames.

Além desse caso, pelo menos um avião da Alitalia, a principal companhia aérea da Itália, foi bloqueado na pista ao pousar nas Ilhas Mauricio. O Ministério das Relações Exteriores da Itália disse que estava trabalhando para fornecer "a máxima assistência aos italianos a bordo". Muitos italianos estão viajando esta semana para as férias escolares no meio do inverno.

Os alertas mundiais sobre coronavírus entraram em um novo patamar nas últimas 48 horas, com mais relatos fora da China, toques de recolher e fechamento de fronteira. "O Covid-19 (nome técnico do novo coronavírus) já põe em risco a economia mundial" disse no domingo Kristalina Georgieva, chefe do Fundo Monetário Internacional, na reunião do G-20.

O presidente chinês, Xi Jinping, admitiu que o país vive sua maior crise sanitária desde 1949, quando se iniciou o regime comunista, e considerou que houve "deficiências" no combate inicial. O vírus, relatado no fim de dezembro em Wuhan, já causou 2.445 mortes e contaminou 78 mil.

Carnaval de Veneza e semana de moda afetados

O tradicional carnaval de Veneza foi suspenso no último domingo. O evento teve início em 8 de fevereiro e iria até o dia 25, terça-feira. Anualmente, a cidade recebe nesta época milhares de pessoas de todo o mundo.

Os temores se espalharam, também, pela capital da Lombardia, Milão, cidade considerada o centro financeiro da Itália. Os dois últimos desfiles da Milan Fashion Week, programados para segunda-feira, foram cancelados.

O vice-ministro da Saúde da Itália, Pier Paolo Silveri, disse que o país está apelando ao "senso cívico" dos italianos para respeitar as medidas de contenção nas duas semanas que a quarentena impõem.

Os casos crescentes surpreenderam o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, já que a Itália impôs medidas mais rigorosas do que qualquer outro país europeu depois que os primeiros casos foram relatados na China.

A Itália, em 31 de janeiro, por exemplo, proibiu voos para China Taiwan, Hong Kong e Macau, rastreou todos os passageiros que chegavam em seus aeroportos e declarou estado de emergência para liberar fundos para medidas de contenção.

Temor na Croácia, Eslovênia, Romênia, França e Albânia

Países vizinhos da Itália, Eslovênia e Croácia, destinos populares para turistas italianos e cujos cidadãos muitas vezes viajam para a Itália, realizavam reuniões de crise nesta segunda-feira. A Croácia anunciou que monitoraria todos os viajantes vindos da Itália, incluindo crianças croatas que retornam de viagens escolares.

O primeiro-ministro romeno, Ludovic Orban, disse que qualquer pessoa que entrar na Romênia, de qualquer região onde o vírus está presente, ficará em quarentena por 14 dias. A mídia local informou que os passageiros que chegavam estavam apenas preenchendo um formulário.

Na França, o governo orientou a qualquer pessoa que tenha visitado a região da Lombardia ou Vêneto - as duas mais afetadas da Itália - a usar máscaras faciais se sair de casa, limitar atividades não essenciais e medir a temperatura duas vezes por dia.

O Ministério da Saúde francês emitiu o mesmo aviso para quem viajou para a China, Coréia do Sul, Cingapura ou Macau. A França teve 12 casos do vírus identificados e uma morte.

Na Albânia, cerca de 5 mil passageiros que chegavam de avião, balsa e terra estavam sendo monitorados, com foco especial nos pontos de passagem de fronteira para os viajantes da Itália.

O comitê de segurança da saúde da UE se reuniu na segunda-feira para fazer um balanço dos desenvolvimentos, principalmente na Itália. Uma equipe conjunta da Organização Mundial da Saúde e o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças também devem visitar a Itália.

"Menos de dois meses atrás, o coronavírus era completamente desconhecido para nós. As últimas semanas demonstraram a rapidez com que o vírus se espalha pelo mundo e causa amplo medo e perturbação ", disse o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em entrevista coletiva em Estocolmo.

Ele afirmou que a OMS está especialmente preocupada com os casos na Itália, Coréia do Sul e Irã, onde o número de mortos pode ter chegado a 50 pessoas na cidade de Qom na segunda-feira.

Irã também sofre com o vírus

O porta-voz do Ministério da Saúde do Irã, Iraj Harirchia, afirmou que o número de mortos pelo vírus permanece em 12 pessoas. No entanto, parlamentar da cidade iraniana de Qom contradiz os números oficiais e diz que 50 pessoas morreram na cidade iraniana de Qom devido ao novo coronavírus apenas neste mês.

O novo número de mortos relatado pelo representante da Qom, Ahmad Amiriabadi Farahani, é significativamente maior do que o último número de casos confirmados em todo o país de infecções que as autoridades iranianas haviam relatado apenas algumas horas antes, de acordo com TV estatal.

No entanto, o governo iraniano rejeita esses números. Farahani também elevou o número de casos confirmados do vírus para 61. Outros 900 casos suspeitos estão sendo testados, disse ele.

"Ninguém está qualificado para discutir esse tipo de notícia", disse Harirchia, acrescentando que os legisladores não têm acesso às estatísticas do coronavírus e podem estar misturando números de mortes relacionadas a outras doenças como a gripe com o novo vírus, que surgiu pela primeira vez em China em dezembro.

Balanço na China

As autoridades chinesas anunciaram nesta segunda-feira que adiaram sua principal reunião de cúpula política do ano devido ao surto do coronavírus. O país asiático já relatou 2.592 mortes e 77.150 casos de infecções pelo vírus, a maioria na província de Hubei.

A cúpula anual do Congresso Nacional do Povo da China e de seu comitê permanente costumam acontecer todos os anos a partir do dia 5 de março, em Pequim, e durar mais de duas semanas.

A Xinhua, agência estatal de notícias do país, informou que um terço dos 3 mil delegados do congresso são funcionários de províncias ou municípios com relevantes papéis de liderança na linha de frente da batalha contra a epidemia.

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