Migrantes a bordo do "Lifeline" em 21 de junho de 2018 após seu resgate em frente à costa da Líbia pelo navio da ONG alemã (ONG Lifeline/Reuters)
AFP
Publicado em 23 de junho de 2018 às 15h45.
As autoridades italianas mantinham neste sábado (23) seus portos fechados às embarcações de resgate com bandeiras estrangeiras, deixando no limbo um navio com 230 migrantes, fretado pela ONG alemã Lifeline, que aguarda uma solução em alto-mar.
Malta, que também veda a entrada do navio em seus portos, indicou ter enviado provisões para abastecer o navio "Lifeline".
"O 'Lifeline', um navio ilegal com 239 migrantes a bordo, está em águas maltesas", manifestou-se o ministro do Interior, Matteo Salvini (extrema direita) neste sábado no Facebook.
"Estes navios podem se esquecer de chegar à Itália, quero acabar com o negócio do tráfico e da máfia", acrescentou.
Estas declarações ocorrem na véspera de uma minicúpula em Bruxelas da União Europeia convocada para encontrar soluções para a acolhida de migrantes e refugiados, um tema que divide o bloco.
Apenas três semanas depois de ter assumido o poder, o novo governo italiano executa sua promessa de campanha: frear a chegada de migrantes, ameaçando confiscar os navios que os transportam ou rejeitando-lhes o ingresso aos portos italianos.
A crise migratória provocou atritos na Alemanha, onde a chanceler Angela Merkel enfrenta uma rebelião de seus aliados da coalizão devido à sua política.
No sábado, em três operações na costa da Espanha, mais de 550 migrantes foram resgatados, apenas alguns dias depois de o governo espanhol aceitar receber os mais de 600 migrantes que Itália e Malta se recusaram a acolher.
A guarda costeira líbia indicou ter resgatado mais de 200 migrantes náufragos em frente à sua costa, que tentavam chegar à Europa em duas embarcações. Cinco foram encontrados mortos.
- Ameaça de apreender barcos -
O governo italiano ameaçou na quinta-feira confiscar os navios fretados da ONG Mission Lifeline, o "Lifeline", e da ONG Sea-Eye, o "Seefuchs", e enviá-los a portos italianos para investigar o status legal dos barcos.
A Itália acusa a ONG Lifeline de ter atuado em contravenção ao direito internacional, ao aceitar embarcar migrantes quando a guarda costeira líbia estava intervindo.
Na sexta-feira, Salvini disse que Malta deveria abrir seus portos ao "Lifeline" e que "claramente, o barco deveria ser confiscado imediatamente e sua tripulação, detida".
Mas o primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat, disse que o "Lifeline" "quebrou as regras", ignorando as diretrizes italianas, e que deveria voltar ao seu primeiro destino.
"Apesar de não serem responsáveis (pela situação) #Malta acaba de entregar ajuda humanitária", enquanto suas forças armadas procederam à evacuação médica de um passageiro, disse.
Entretanto, o armador dinamarquês Maersk Line anunciou neste sábado que um de seus barcos porta-contêineres resgatou 113 migrantes na costa do sul da Itália e se encontra agora em frente ao porto siciliano de Pozzallo esperando instruções das autoridades.
- 'À espera de solução diplomática' -
Neste sábado, o "Lifeline" estava no limbo. A ONG que o fretou rejeitou as acusações das autoridades italianas em relação à guarda costeira líbia, explicando que era um navio mais bem equipado para ajudar.
"Esperamos uma solução diplomática, há discussões entre diferentes Estados" para permitir o acesso do "Lifeline" e dos náufragos resgatados, disse à AFP Axel Steier, representante da ONG na Alemanha, negando-se a dar mais detalhes.
Após a recusa da Itália a receber o "Aquarius", o tema dos migrantes voltou ao centro da agenda do bloco europeu.
O "Aquarius" dez ouvidos moucos à polêmica com a intenção de continuar com seu trabalho. Neste sábado, um fotógrafo da AFP a bordo do navio indicou que a tripulação estava respondendo a um pedido de socorro proveniente de águas tunisianas.
- Tensão na União Europeia -
No domingo, em meio à tensão provocada pela decisão italiana, vários mandatários dos países da UE se reuniram em Bruxelas para analisar como ajustar o sistema de asilo do bloco, que está sob extrema pressão desde que estourou a crise migratória em 2015.
A chanceler alemã, que enfrenta uma rebelião em seu governo que tenta derrubar a política de abertura com que Berlim acolheu mais de um milhão de solicitantes de asilo, reduziu as expectativas de encontrar uma solução rápida.
"Sabemos que não haverá uma solução na quinta e sexta-feira entre os 28 membros sobre o tema da migração", disse em visita ao Líbano, em alusão à cúpula de chefes de Estado e de governo, na próxima semana, em Bruxelas. Segundo ele, devem ser alcançados acordos bilaterais e multilaterais.