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Itália debate cidadania em meio a ressurgência do racismo

País é o que mais recebe imigrantes clandestinos por mar no sul da Europa

Imigrantes ilegais esperam para ser enviados para um centro temporário de acolhimento para estrangeiros em Lampedusa, na Itália (Marco Di Lauro/Getty Images)

Imigrantes ilegais esperam para ser enviados para um centro temporário de acolhimento para estrangeiros em Lampedusa, na Itália (Marco Di Lauro/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2013 às 11h44.

Roma - Savio Warnakulasuriya, nascido neste mês em Roma, terá de esperar até os 18 anos para ter certeza de que poderá permanecer no país onde veio ao mundo.

Até lá, seu direito de permanecer na Itália está vinculado aos vistos que permitem que seus pais, do Sri Lanka, trabalhem como empregados domésticos. Os documentos precisam ser renovados a cada dois anos.

Mas Savio poderia ser beneficiado por uma proposta da ministra da Integração, Cecile Kyenge, para que o direito à cidadania seja concedido já no nascimento -- algo que chocou muitos italianos e motivou uma enxurrada de insultos racistas contra a ministra, que é negra.

A Itália é o país que mais recebe imigrantes clandestinos por mar no sul da Europa. São milhares desembarcando todos os anos em embarcações precárias e superlotadas que vêm do norte da África. Partidos como o oposicionista Liga Norte fazem campanha contra o aumento dos direitos dos imigrantes, apontando diferenças culturais e índices de criminalidade.

Kyenge, que nasceu no Congo e se tornou a primeira pessoa negra a ocupar um cargo ministerial na Itália, acha que é hora de mudar a política de concessão de cidadania, de modo a estimular a integração de filhos de imigrantes.

Para o pai de Savio, Fernando, uma nova política seria positiva. "Quanto antes derem cidadania ao nosso filho, melhor. Estou um pouco preocupado, queremos que ele continue vivendo e trabalhando aqui sem problemas", afirmou ele à Reuters.

A secretária Erika Arribasplata, de 34 anos, romana filha de argentinos, se lembra das dificuldades que enfrentou na infância para se integrar na escola por não ser cidadã italiana.


"Eu me lembro, quando fui numa viagem da escola à Inglaterra, que eu não podia passar pelos controles de fronteira com o meu grupo, precisava pegar uma rota completamente diferente, onde tive de esperar mais e passar por mais verificações -- foi realmente chato", disse ele.

"Mas o mais chato era estar vinculada à autorização (para a permanência) dos meus pais, e a insegurança que decorria disso, porque nasci aqui e não me sentia parte da cultura deles, mas estava presa no meio", disse Arribasplata.

Aos 18 anos, ela solicitou a cidadania italiana e conseguiu -- mas outros não têm a mesma sorte.

O baixo índice de fertilidade na Itália, 1,4 filho por mulher, faz com que o país precise de sangue jovem para manter sua população, cada vez mais envelhecida.

Mas, por causa dos processos burocráticos que Kyenge deseja reduzir, alguns filhos de imigrantes nascidos na Itália podem ter sua cidadania rejeitada aos 18 anos, por terem, por exemplo, passado algum tempo longe da Itália durante a infância.

"Estamos falando de jovens que poderiam se tornar os futuros líderes deste país, ou que poderiam se perder na rua se repentinamente aos 18 anos descobrirem ser diferentes por causa de algum erro burocrático", disse Kyenge a jornalistas nesta semana.

No sábado, ela revelou um plano para facilitar a solicitação de cidadania por filhos de imigrantes que chegam à idade adulta. A proposta é parte de uma série de medidas que o governo do primeiro-ministro Enrico Letta está adotando para reduzir a burocracia e tirar a economia da recessão.

Kyenge disse que em breve irá ao Parlamento Europeu para propor uma abordagem comum de toda a União Europeia para as regras de concessão de cidadania.

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