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Israel recusa trégua, outra vítima brasileira morre e bombardeios avançam no Líbano

Com Hezbollah no alvo, Israel mantém operação militar enquanto comunidade internacional busca solução diplomática

Além de negar o cessar-fogo, Israel intensificou os ataques ao sul do Líbano na manhã desta quinta-feira, 26. (AFP)

Além de negar o cessar-fogo, Israel intensificou os ataques ao sul do Líbano na manhã desta quinta-feira, 26. (AFP)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 27 de setembro de 2024 às 07h00.

Última atualização em 27 de setembro de 2024 às 15h03.

O governo israelense rejeitou na quinta-feira uma proposta de cessar-fogo de 21 dias elaborada pelos Estados Unidos e França, que visava interromper os ataques entre Israel e o Hezbollah. A proposta, apresentada após discussões na Organização das Nações Unidas (ONU), tinha o objetivo de evitar uma escalada do conflito, que já deixou centenas de mortos no Líbano. No mesmo dia, um segundo brasileiro morreu no conflito.

Nesta sexta-feira, 27, um segundo ataque teria matado nove pessoas da mesma família na cidade fronteiriça de Shebaa, no sul do Líbano, incluindo quatro crianças, segundo declaração do prefeito Mohammad Saab à Reuters. O Exército de Israel afirmou que as forças do país atacaram 75 alvos do Hezbollah no dia anterior. Em 24 horas, 92 pessoas morreram e outras 153 ficaram feridas, de acordo com informações do Ministério da Saúde libanês.

Mesmo com os apelos internacionais, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, foi claro ao afirmar que não haverá cessar-fogo no norte do país. Segundo ele, o foco de Israel é continuar combatendo o Hezbollah até que a segurança dos moradores das regiões fronteiriças seja restaurada.

Na quinta-feira, um bombardeio israelense atingiu a capital libanesa, Beirute, matando dois civis e ferindo 15 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde do Líbano. A investida também resultou na morte de Mohammad Surur, comandante de uma unidade aérea do Hezbollah. Desde o início da ofensiva, na segunda-feira, 23, mais de 600 pessoas já morreram, aumentando as preocupações sobre uma possível escalada regional.

Os ataques entre Israel e o Hezbollah fazem parte de uma série de confrontos que começaram após o grupo libanês intensificar suas operações em solidariedade aos militantes palestinos na Faixa de Gaza. O Hezbollah, que é apoiado pelo Irã, vem lançando ataques contra o norte de Israel, forçando a evacuação de milhares de civis da região.

Diante desse cenário, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reafirmou o compromisso de continuar a ofensiva militar. Antes de partir para Nova York, onde fará um discurso na Assembleia Geral da ONU, Netanyahu declarou que a operação militar contra o Hezbollah será conduzida com "força total" até que todos os objetivos de Israel sejam alcançados.

O Hezbollah, por sua vez, intensificou os ataques contra cidades israelenses, incluindo o lançamento de um míssil balístico em direção a Tel Aviv, que foi interceptado pelas defesas aéreas de Israel. Além disso, o grupo disparou dezenas de foguetes em áreas do norte de Israel, embora a maioria tenha sido interceptada pelas forças israelenses.

Tentativas de cessar-fogo enfrentam resistência

Enquanto a comunidade internacional tenta negociar uma solução pacífica, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente francês, Emmanuel Macron, continuam a defender a proposta de trégua de 21 dias entre Israel e Hezbollah. A trégua abriria caminho para negociações mais duradouras que pudessem evitar um conflito maior no Oriente Médio.

No entanto, as pressões internas no governo israelense complicam a aceitação do acordo. Membros da ala ultranacionalista, incluindo o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, se opõem veementemente a qualquer tipo de cessar-fogo, afirmando que a única solução seria a rendição total do Hezbollah. Esses líderes políticos argumentam que dar tempo ao Hezbollah permitiria ao grupo rearmar-se e continuar a guerra.

O Líbano, por sua vez, tem buscado uma solução para a crise. O ministro das Relações Exteriores libanês, Abdallah Bou Habib, apelou à ONU para que intervenha antes que a situação se torne incontrolável, agravando ainda mais a crise humanitária no país. O Líbano abriga cerca de 1,5 milhão de refugiados sírios, muitos dos quais também foram atingidos pelos recentes bombardeios israelenses.

A situação no Líbano, agravada pela crise econômica e política, ameaça desestabilizar ainda mais a região. Enquanto as negociações diplomáticas prosseguem, a possibilidade de uma nova guerra envolvendo Israel e o Hezbollah continua a ser uma preocupação global.

Dois brasileiros morrem em bombardeios; FAB está de 'prontidão'

Dois brasileiros foram mortos em bombardeios no Líbano, resultado dos intensos confrontos entre Israel e o Hezbollah. Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, nascido em Foz do Iguaçu, e seu pai, Kamal Hussein Abdallah, de 64 anos, de nacionalidade paraguaia, morreram após um foguete atingir a cidade de Kelya, no Vale do Bekaa. A família havia morado no Brasil por mais de uma década antes de retornar ao Líbano, onde abriram uma empresa em Sohmor, cidade próxima ao local do ataque.

Outra vítima brasileira foi Mirna Raef Nasser, de 16 anos, nascida em Balneário Camboriú, Santa Catarina. Mirna havia se mudado para o Líbano ainda criança e vivia na mesma cidade da família Abdallah, em Kelya. Ela era vizinha de Ali Kamal e morreu em um ataque aéreo que atingiu a região. A notícia da morte de Mirna abalou familiares e amigos, que relataram a convivência próxima entre as duas famílias.

A Força Aérea Brasileira (FAB) já se prepara para uma possível operação de resgate de brasileiros no Líbano, caso o governo decida evacuar seus cidadãos da região de conflito. A aeronave que será utilizada na operação, o KC-30, é a mesma que foi enviada anteriormente para resgatar brasileiros que estavam na Faixa de Gaza. Com capacidade para mais de 230 passageiros, o avião tem autonomia de voo de até 12 horas, permitindo uma viagem direta do Brasil ao Líbano, sem escalas consideráveis.

Fontes da Aeronáutica afirmaram estar "de prontidão" para o caso de o governo brasileiro dar o aval para a missão. Além disso, a Embaixada do Brasil em Beirute já começou a consultar os cidadãos brasileiros que vivem no Líbano sobre o interesse em receber apoio para deixar o país. A ordem para iniciar essas consultas foi dada pelo chanceler Mauro Vieira, que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque.

Por que Israel está fazendo ataques?

Israel faz uma onda de ataques ao grupo Hezbollah, do Líbano, desde a semana passada. Primeiro, houve uma série de explosões de pagers e rádios de comunicação usados pelo grupo, que matou dezenas de pessoas e deixou cerca de 3.000 feridos. Em represália, o Hezbollah lançou mísseis contra o norte de Israel.

Em seguida, vieram fortes bombardeios do Israel ao Líbano, em alvos ligados ao Hezbollah, que já dura alguns dias.

O Hezbollah é considerado uma entidade terrorista pelos Estados Unidos, por Israel e outros países. O grupo paramilitar foi formado nos anos 1980, para lutar contra Israel, que ocupava partes do Líbano na época. Mesmo com o fim da guerra entre os países, nos anos 2000, os dois lados seguiram trocando ataques esporádicos.

A partir de outubro de 2023, o Hezbollah fez uma série ataques a Israel como represália pela invasão israelense da Faixa de Gaza, o que fez com que centenas de moradores da região tivessem de deixar suas casas. O governo israelense diz que a operação atual contra o Hezbollah tem como objetivo permitir que os moradores israelenses desalojados voltem para casa.

"Estamos intensificando nossos ataques no Líbano, as ações continuarão até que alcancemos nosso objetivo de retornar os moradores do norte com segurança para suas casas", disse o Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, em um vídeo nesta segunda.

O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, disse que há um plano de destruição lançado por Israel contra o seu país e apelou à ONU e aos países influentes para "dissuadirem" o governo israelense.

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