Agência de notícias
Publicado em 26 de setembro de 2024 às 06h53.
Última atualização em 26 de setembro de 2024 às 08h15.
Israel anunciou nesta quarta-feira, 25, que preparava uma "possível" ofensiva terrestre no Líbano, após dias de bombardeios contra posições do grupo xiita Hezbollah, uma escalada que pode levar a uma "guerra total" no Oriente Médio, advertiu o presidente americano, Joe Biden.
"É possível ouvir os aviões daqui; estamos atacando o dia todo. Tanto para preparar o terreno para uma possível entrada, quanto para continuar atacando o Hezbollah", declarou o chefe do estado-maior israelense, tenente-general Herzi Halevi, diante de uma brigada de tanques. "Sua entrada ali com força mostrará [ao Hezbollah] o que é encontrar uma força de combate profissional."
O Exército israelense havia anunciado antes a mobilização de duas brigadas de reserva e o seu deslocamento para o norte do país, para "continuar a luta" contra o Hezbollah.
Em entrevista à rede de TV ABC logo após esses anúncios, Biden advertiu que "uma guerra total é possível", mas ressaltou que "ainda está em jogo a oportunidade de se chegar a um acordo".
“Pedimos um cessar-fogo imediato de 21 dias na fronteira entre o Líbano e Israel, para alcançar uma solução diplomática", diz um texto assinado por Estados Unidos, França, União Europeia, Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes.
O embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, agradeceu “a todos os que estão fazendo um esfoço sincero com a diplomacia para evitar uma escalada”, mas ressaltou que "todos os meios" serão usados para que o país alcance seus objetivos.
Israel afirma que seu objetivo é garantir o retorno dos habitantes do norte deslocados pelas hostilidades com o Hezbollah, iniciadas com a explosão do conflito na Faixa de Gaza.
Nesta quarta-feira, terceiro dia consecutivo de bombardeios intensos de Israel, 72 pessoas morreram e quase 400 ficaram feridas, segundo o Ministério da Saúde libanês.
Mais de 90.000 pessoas foram forçadas desde a segunda-feira a abandonar suas casas no Líbano devido aos ataques israelenses, informou a Organização Internacional para as Migrações (OIM), uma agência da ONU.
O Exército israelense indicou que havia bombardeado "mais de 2.000" posições do Hezbollah neste intervalo, incluindo "várias centenas" nesta quarta-feira.
Na segunda-feira, os primeiros ataques maciços israelenses no Líbano mataram 558 pessoas e feriram mais de 1.800, segundo autoridades libanesas, o número mais alto em um dia desde o fim da guerra civil no país (1975-1990). Desde outubro, 1.247 pessoas, a maioria civis, morreram no Líbano em confrontos entre o Hezbollah e Israel.
Nur Hamad, estudante de 22 anos de Baalbek, descreveu nesta quarta-feira o que chamou de "clima de terror" desde que começaram os bombardeios nos arredores da cidade. "Passamos quatro ou cinco dias sem dormir, sem saber se iríamos acordar pela manhã. As crianças têm medo, os adultos também", disse.
Em Israel, as sirenes antiaéreas soaram ao amanhecer em Tel Aviv, 100 km ao sul da fronteira libanesa, quando o Hezbollah disparou um míssil terra-terra que foi interceptado, segundo o Exército. "É a primeira vez que um míssil do Hezbollah alcança a área de Tel Aviv."
O movimento islamita afirmou que o alvo do míssil era a sede do Mossad, serviço de inteligência exterior israelense, cujos agentes considera "responsáveis pelo assassinato dos líderes" do Hezbollah "e pelas explosões de pagers e rádios comunicadores" que deixaram dezenas de mortos na semana passada.
Durante a noite, a organização pró-iraniana Resistência Islâmica no Iraque reivindicou um ataque com drones na cidade portuária de Eilat, no sul de Israel.
O Exército israelense disse ter interceptado um drone vindo do leste e que outro caiu perto de Eilat, enquanto equipes de resgate relataram duas pessoas levemente feridas pelo ataque.
O Irã alertou que o Oriente Médio está “à beira de uma catástrofe em larga escala”, e prometeu na ONU apoiar o Líbano. O secretário-geral da organização, António Guterres, advertiu que “o mundo não pode permitir que o Líbano se torne outra Faixa de Gaza”.
O papa denunciou no Vaticano o que chamou de "escalada terrível" no Líbano, que considerou inaceitável.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque letal do Hamas que deixou 1.205 mortos em Israel, em sua maioria civis, segundo um levantamento da AFP baseado em dados oficiais israelenses, que incluem os reféns que morreram ou foram assassinados no cativeiro em Gaza. Das 251 pessoas sequestradas, 97 permanecem em Gaza, 33 das quais foram declaradas mortas pelo Exército israelense.
Em represália, Israel lançou uma ofensiva na Faixa de Gaza que até o momento deixou 41.495 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
Israel faz uma onda de ataques ao grupo Hezbollah, do Líbano, desde a semana passada. Primeiro, houve uma série de explosões de pagers e rádios de comunicação usados pelo grupo, que matou dezenas de pessoas e deixou cerca de 3.000 feridos. Em represália, o Hezbollah lançou mísseis contra o norte de Israel.
Em seguida, vieram fotes bombardeios do Israel ao Líbano, em alvos ligados ao Hezbollah, que já dura alguns dias.
O Hezbollah é considerado uma entidade terrorista pelos Estados Unidos, por Israel e outros países. O grupo paramilitar foi formado nos anos 1980, para lutar contra Israel, que ocupava partes do Líbano na época. Mesmo com o fim da guerra entre os países, nos anos 2000, os dois lados seguiram trocando ataques esporádicos.
A partir de outubro de 2023, o Hezbollah fez uma série ataques a Israel como represália pela invasão israelense da Faixa de Gaza, o que fez com que centenas de moradores da região tivessem de deixar suas casas. O governo israelense diz que a operação atual contra o Hezbollah tem como objetivo permitir que os moradores israelenses desalojados voltem para casa.
"Estamos intensificando nossos ataques no Líbano, as ações continuarão até que alcancemos nosso objetivo de retornar os moradores do norte com segurança para suas casas", disse o Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, em um vídeo nesta segunda.
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, disse que há um plano de destruição lançado por Israel contra o seu país e apelou à ONU e aos países influentes para "dissuadirem" o governo israelense.