Guerra no Oriente Médio: registro do ataque aéreo israelense nos subúrbios ao sul de Beirute, no Líbano, no sábado, 19 de outubro (AFP/Reprodução)
Agência de notícias
Publicado em 20 de outubro de 2024 às 18h17.
As Forças Armadas de Israel lançaram uma série de ataques contra ativos financeiros do movimento libanês Hezbollah neste domingo, 20, com bombardeios direcionados a agências da Al-Qard al-Hasan, uma organização não-bancária utilizada pelo grupo xiita para movimentar recursos e pagar seus agentes e operadores. Moradores de áreas adjacentes a agências da organização abandonaram suas casas durante a noite, após o anúncio antecipado de Israel sobre o ataque.
Quatro agências do Al-Qard al-Hasan foram bombardeados em Dahiya, no subúrbio sul de Beirute, e ao menos uma outra foi detonada no leste do país, no Vale do Bekaa, de acordo com um relato inicial da agência oficial de notícias libanesa ANI. Há relatos na imprensa libanesa e internacional sobre ataques em Baalbek, Hermel e Nabatiyeh. Não há balanço sobre mortos.
O principal porta-voz do Exército de Israel, o contra-almirante Daniel Hagari, fez um alerta horas antes do ataque, afirmando que "ativos financeiros" do Hezbollah seriam o próximo alvo da ofensiva de Israel, após ataques na manhã de domingo que eliminaram altos-funcionários do movimento libanês.
"Vamos atacar o poder econômico do Hezbollah", disse Hagari, referindo-se à organização, apontando que um grande número de alvos seria atacado nas próximas horas e "mais tarde na noite". "O objetivo é danificar a confiança dos agentes. Este banco, que não faz parte do sistema internacional, serve como um banco para tudo."
A partir do discurso do porta-voz, o Exército israelense emitiu 15 ordens de retirada em um período de menos de 20 minutos. As ruas de Beirute e Balbeek, no leste do país, foram palco de pequenos êxodos de civis, diante da ameaça de ataque israelense, e do alerta para residências a menos de 500 metros de agências. Uma hora depois, as primeiras detonações foram confirmadas.
O Al-Qard al-Hasan foi fundado pelo Hezbollah como uma organização de caridade entre 1982 e 1983, operando desde 1987 como uma organização sem fins lucrativos. Embora não seja uma instituição bancária, na prática, ela acaba sendo usada como tal por parte da população do país.
A publicação libanesa L'Orient detalhou que a organização leva o mesmo nome de um conceito religioso islâmico que prega o empréstimos sem juros e o princípio de fornecer ajuda sem esperar ganho financeiro com isso. O jornal indicou ainda que o grupo tem 31 agências espalhadas pela capital libanesa, pelo Vale do Bekaa e pelo sul do Líbano — todas regiões apontadas por Israel como áreas de atuação do Hezbollah.
Uma reportagem recente do Times of Israel, citando informações veiculadas no Voice of America, apontou que a organização, que opera sem uma licença de instituição financeira, foi colcada pelos Estados Unidos em uma lista negra, acusada de ser usada como fachada pelo movimento libanês para gerenciar ativos e acessar o sistema financeiro internacional.
Por outro lado, a instituição é parte da rede de serviços sociais do Hezbollah, da qual muitos apoiadores têm dependido fortemente em meio ao colapso econômico do Líbano, estando profundamente enraizada nas comunidades muçulmanas xiitas.
"Nos próximos dias, revelaremos como o Irã financia a atividade terrorista do Hezbollah usando instituições civis, organizações e associações como abrigos para atividades terroristas", prometeu Hagari em seu pronunciamento.
A preocupação com o ataque às agências — muitas delas situadas em andares térreos de prédios residenciais — movimentou civis e organizações ao longo da noite. Moradores de áreas sob ordem de evacuação de Israel fugiram de casa no meio da noite, ocupando calçadas e esquinas. Em Balbeek, pacientes de um hospital do governo foram transferidos para áreas do prédio longe de uma filial do Al-Qard al-Hasan, informou o Ministério da Saúde do Líbano.
Ao redor do país, porém, nem todos acataram a ordem israelense.
"Meu irmão ficou em casa. Ele se recusou a sair", afirmou Fatima Jneideh, uma moradora de Beirute ouvida pelo New York Times.
A Anistia Internacional criticou anteriormente as advertências israelenses em antecipação aos ataques, qualificando-as como "enganosas e inadequadas". De acordo com a organização, elas não absolvem Israel de suas obrigações sob o direito humanitário internacional de não atacar civis.
*Com AFP e NYT