Ações deste ano de Israel fugiram da escala de qualquer previsão (Mahmoud Zayyat/AFP)
Repórter colaborador
Publicado em 30 de setembro de 2024 às 10h57.
Última atualização em 30 de setembro de 2024 às 11h38.
Israel vem intensificando seus ataques no Líbano nos últimos dias. As ações recentes mataram líderes históricos do grupo Hezbollah, como Hassan Nasrallah, e dirigentes importantes do Hamas e da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP). Em meio a isso, há a ameaça de que as forças israelenses possam invadir o território libanês, o que aumentaria a escalada das tensões.
A morte de Nasrallah, figura central do grupo apoiado pelo Irã, intensificou as tensões entre Israel e o Hezbollah, gerando preocupações de uma escalada ainda maior do conflito, com a possibilidade de envolvimento direto do Irã e dos Estados Unidos.
Nesta segunda-feira, um ataque israelense atingiu a cidade de Tiro, no sul do Líbano, matando o líder do Hamas, Fateh Sherif Abu el-Amin, juntamente com sua esposa e os dois filhos. O ataque ocorreu em um campo de refugiados, onde o grupo mantém operações na região.
Israel tem um histórico de ataques e invasões contra o Líbano (a Síria, com bastante influência no país, também participou dos confrontos), que vem de décadas.
Quando o estado de Israel foi criado, em 1947, os países vizinhos deram apoio aos Palestinos, que eram contrários ao novo país. Começou então um conflito entre israelenses e palestinos, que dura até hoje, e teve desdobramentos nos países vizinhos, como o Líbano.
As tensões entre os dois países atingiram o pico em 1978, com a Guerra Civil Libanesa. Na época, soldados israelenses entraram no Líbano para caçar militantes palestinos que haviam se refugiado ali.
Esta invasão levou ao envio de forças de paz das Nações Unidas para o sul do Líbano. Israel invadiu o Líbano novamente em 1982 e, em aliança com as Forças Libanesas Cristãs, e expulsou a Organização para a Libertação da Palestina.
No ano seguinte, os dois países assinaram um acordo para estabelecer relações bilaterais, mas o processo de aproximação foi interrompido após o ganho de território por parte de milícias xiitas e drusas em 1984.Israel, assim, se retirou da maior parte do Líbano em 1985, mas ainda teve o controle de uma zona de segurança de 19 quilômetros. No mesmo ano, o Hezbollah, grupo xiita patrocinado pelo Irã, convocou uma luta contra ocupação israelense no sul do Líbano.
Em 1993 e 1996, Israel lançou duas grandes operações no sul do Líbano. A luta contra o Hezbollah enfraqueceu as posições israelenses, que foram obrigadas, em 2000, a se retirarem para seu lado da fronteira designada pela ONU.Com o discurso contra a ocupação israelense da fazendas de Shebaa, o Hezbollah seguiu com ataques até 2006. Naquele ano, a captura de dois soldados israelenses pelo grupo xiita deu início à Guerra do Líbano. As hostilidades duraram de julho a agosto, e foram oficialmente encerradas em 8 de setembro, com o cessar-fogo exigindo o desarmamento do Hezbollah e o respeito à integridade territorial e à soberania do Líbano por Israel.
Após a guerra de 2006, a situação ficou relativamente calma, apesar de ambos os lados violarem os acordos de cessar-fogo. A guerra Israel-Hamas, a partir de outubro de 2023, desencadeou um novo conflito Israel-Hezbollah, começando um dia após o ataque liderado pelo grupo palestino.
O conflito consistiu inicialmente em ataques aéreos e bombardeios, mas neste ano as ações fugiram da escala de qualquer previsão - como o ataque aéreo israelense ao consulado iraniano em Damasco, em abril, e os assassinatos de Fuad Shukr e Ismail Haniyeh em julho.
Em setembro, a explosão em série de pagers e walkie talkies libaneses elevou a tensão entre os dois países, com ataques aéreos israelenses matando pelo menos 569 e provocando uma evacuação em massa do sul do Líbano. Esta foi a maior perda de vidas relacionada ao conflito em um único dia no Líbano desde 2006.
Não há um dado independente sobre o número de vítimas até aqui no confronto. Segundo algumas estimativas, mais de 190 civis israelenses foram mortos. Do lado libanês, seriam de 15 mil a 20 mil mortos, sendo a maioria civis.