Bloqueio de concreto sendo construído em Jerusalém: entre outras ações os corpos dos palestinos autores de ataques abatidos pelas forças de segurança não serão entregues as suas famílias (Reuters / Ronen Zvulun)
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2015 às 14h52.
Israel começou nesta quarta-feira a instalar postos de controle nos acessos aos bairros palestinos de Jerusalém Oriental, em uma tentativa de deter a atual onda de ataques contra cidadãos israelenses.
Horas depois, a polícia israelense anunciou ter matado a tiros um homem que queria atacar com uma faca um guarda de segurança na entrada da Cidade Velha de Jerusalém, e ter atirado e "neutralizado" um homem armado com uma faca que esfaqueou uma mulher perto da estação central de ônibus da cidade.
A nova onda de violência deixou desde 1º de outubro sete mortos entre os israelenses e 30 entre os palestinos, entre eles vários autores de ataques cometidos sobretudo com faca.
Na terça-feira, dois homens mataram dois israelenses ao abrir fogo em um ônibus, e outro avançou contra um ponto de ônibus com seu carro, deixando um morto.
Neste contexto, o Estado de Israel anunciou novas medidas. Assim, entre outras ações os corpos dos palestinos autores dos ataques contra israelenses abatidos pelas forças de segurança não serão entregues as suas famílias e as regras de porte de armas se suavizarão.
O governo israelense já havia anunciado durante a noite uma série de medidas, entre elas a mobilização de soldados para ajudar os policiais nas cidades e nas estradas israelenses.
Também autorizou a polícia "a fechar ou impor um toque de recolher nos bairros de Jerusalém em caso de atritos ou incitações à violência", e anunciou que recrutará 300 agentes de segurança para os transportes públicos de Jerusalém.
Além de destruir as casas dos autores de atentados, como fazia até agora, Israel apreenderá seus bens e revogará seus direitos de residência permanente, afirmou o executivo de Benjamin Netanyahu.
Nesta quarta-feira, policiais armados controlavam cada carro que saía do bairro de Jabel Mukaber em Jerusalém Oriental, anexada e ocupada por Israel, de onde procediam a maioria dos palestinos envolvidos nos recentes ataques.
Estes atentados despertaram a memória dos ataques da segunda Intifada (2000-2005) e aumentam os temores de outra grande revolta palestina.
Apenas alguns poucos habitantes de Jerusalém se atreviam nesta quarta-feira a viajar de ônibus.
Medida impopular
Jabel Mukaber faz fronteira com a colônia judaica de Armon Hanatziv, onde ocorreu o atentado de terça-feira contra um ônibus. Um motorista israelense morreu ali em setembro, ao perder o controle de seu carro por culpa das pedras lançadas por cidadãos palestinos, segundo a polícia.
A instalação de postos de controle em Jerusalém Oriental já foi adotada em outras ocasiões e gerou a rejeição dos palestinos, já que complicava sua vida e seus deslocamentos, por exemplo os das crianças que vão à escola.
A medida terá um caráter extraordinário se for aplicada em grande escala.
A violência, que atinge os territórios palestinos há meses, se intensificou a partir de 1º de outubro, quando supostos membros do Hamas mataram a tiros um casal de colonos judeus na Cisjordânia, na presença de seus filhos.
As autoridades israelenses e palestinas não conseguiram deter este movimento composto, sobretudo, por jovens palestinos frustrados por suas condições de vida sob a ocupação israelense.
Riscos de divisão
Desde então foram registrados sucessivos confrontos entre palestinos e forças de segurança israelenses em Jerusalém Oriental e nos Territórios Palestinos.
Netanyahu também deverá evitar uma divisão efetiva de Jerusalém entre o Oeste e o Leste, apesar de Israel considerar toda a cidade, incluindo a parte palestina, como sua capital indivisível, algo que a comunidade internacional não reconhece.
No lado palestino, os funerais diários alimentam a raiva. Centenas de pessoas acompanharam nesta quarta-feira em Belém o enterro de Moataz Zawahra, de 28 anos, que morreu na véspera em confrontos.