Autoridades de Saúde de Gaza afirmam que cerca de 230 pessoas já morreram desde o começo do confronto (SAID KHATIB/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de maio de 2021 às 08h09.
Em meio ao 11º dia de conflitos entre Israel e grupos armados palestinos e com o aumento da pressão internacional por um fim da violência na região, informações sobre o avanço de negociações para um cessar-fogo começam a surgir nos dois lados da fronteira. Representantes do governo de Israel e do Hamas - principal grupo armado envolvido no conflito - afirmaram que um acordo de paz pode ser firmado nos próximos dias, em declarações à imprensa internacional.
Um alto funcionário do governo israelense afirmou ao jornal norte-americano The New York Times que "provavelmente" chegarão a um acordo nos próximos dois dias. A mesma versão foi revelada por Moussa Abu Marzouk, um dos líderes do Hamas, que afirmou que o cessar-fogo deve ser confirmado "em um ou dois dias" em entrevista a uma rede de TV libanesa.
Ainda de acordo com a publicação norte-americana, o cessar-fogo em discussão viria em etapas. A primeira condição seria o fim dos ataques israelenses contra a infraestrutura e instalações do Hamas e o fim das tentativas de matar representantes do grupo.
Em contrapartida, o Hamas teria que interromper todos disparos de foguetes contra cidades israelenses. Israel também estaria exigindo que os palestinos parem de cavar túneis de ataque em direção a Israel e com as manifestações violentas na fronteira Gaza-Israel.
O acordo também incluiria etapas posteriores ao cessar-fogo entrar em vigor, incluindo a devolução dos corpos de dois soldados capturados pelo Hamas e de dois civis israelenses detidos pelo grupo. Em troca, disseram as autoridades, Israel permitiria a passagem de bens e fundos para Gaza.
Negociadores egípcios que trabalham na construção do acordo, em conversas reservadas com a Associated Press, afirmaram que aguardam a resposta de Israel sobre a proposta de cessar-fogo.
Oficialmente, Israel negou a existência de negociações ou a iminente assinatura de um acordo, mas essa pode ser uma tática destinada a pressionar o Hamas, mostrando que Israel não teme uma nova escalada.
Na quarta-feira, 19, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, prometeu continuar a operação no enclave palestino até que os objetivos israelenses sejam alcançados. "Estou determinado a prosseguir essa operação até que o objetivo final seja alcançado, que é restaurar a paz e a segurança aos cidadãos israelenses", afirmou o premiê.
A declaração de Netanyahu foi feita após a Casa Branca divulgar um comunicado que revelava que o presidente norte-americano, Joe Biden, cobrou uma "desaceleração significativa" do conflito no mesmo dia.
Nem só dos americanos vem a pressão internacional por um cessar-fogo. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, viajou até a região. Maas reafirmou o direito de defesa de Israel "contra ataques inaceitáveis", mas também expressou preocupação com o número de vítimas civis no conflito.
Autoridades de Saúde de Gaza afirmam que cerca de 230 pessoas já morreram no enclave desde o começo do confronto, incluindo 65 crianças. Doze pessoas morreram do lado israelense durante bombardeios do Hamas, sendo duas crianças.
O chefe da diplomacia alemã será recebido durante a noite pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, mas não terá conversas diretas com o Hamas, organização considerada "terrorista" pela União Europeia e pelos Estados Unidos.
Confrontos continuam apesar das negociações
Mesmo com as negociações avançando, segundo as autoridades, novos bombardeios ocorreram entre a noite da quarta-feira, 19, e a manhã desta quinta, 20. O Exército israelense divulgou que estava ampliando seus ataques contra alvos militantes no sul de Gaza para conter os disparos contínuos de foguetes do Hamas.
Caças israelenses bombardearam as casas de pelo menos seis dirigentes do grupo palestino, segundo o exército. Ao mesmo tempo, sirenes foram acionadas no sul de Israel por uma nova salva de foguetes, reivindicada pela Jihad Islâmica, outro grupo armado sediado em Gaza.
Os movimentos armados palestinos já lançaram contra o território israelense mais de 4.000 foguetes, mas a maioria foi interceptada pelo Domo de Ferro.
Residentes de Gaza relatam que pelo menos cinco casas foram destruídas na cidade de Khan Younis, ao sul.
Em uma delas, estilhaços atingiram a tia do proprietário, matando-a, e feriram sua filha e dois primos. Weam Fares, porta-voz de um hospital próximo, confirmou a morte e disse que pelo menos 10 pessoas ficaram feridas em ataques durante a noite. Também houve bombardeios na rua al-Saftawi, uma via comercial na cidade de Gaza.