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Da Redação
Publicado em 30 de maio de 2010 às 13h23.
Jerusalém - Israel, considerada a única potência nuclear do Oriente Médio, denunciou neste sábado a 'hipocrisia' do acordo da conferência de acompanhamento do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), que assinalou explicitamente o Estado hebreu, mas não citou o Irã.
"Esta resolução é profundamente hipócrita e mal feita. Ignora as realidades do Oriente Médio e as verdadeiras ameaças que a região e o mundo inteiro enfrentam", indicou um comunicado do governo israelense publicado em Toronto, onde o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, iniciou nesta sexta-feira uma visita de quatro dias no Canadá.
Mais cedo, um alto dirigente, que não quis ser identificado, também criticou a conferência da véspera.
"Este acordo tem o selo da hipocrisia. Somente Israel é mencionado em um texto que não cita outros países como a Índia, Paquistão, Coreia do Norte, que têm armas nucleares, ou, mais grave ainda, o Irã, que quer dotar-se delas", afirmou à AFP.
"O fat de que não tenha feito uma referência ao Irã é algo indignante, já que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) divulgou nesses últimos mees cada vez mais informações sobre a natureza militar dos projetos nucleares iranianos", acrescentou a fonte.
A conferência sobre o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) chegou na sexta-feira a um acordo - o primeiro em 10 anos - que inclui a criação de uma zona sem armas nucleares no Oriente Médio.
O Secretário-Geral da ONU "aprova particularmente o acordo sobre um processo que leve à implementação completa da resolução de 1995 que estabelece uma zona livre de armas de destruição em massa no Oriente Médio", disse Ban Ki-moon em um comunicado.
A conferência adotou por consenso um documento final que prevê quatro planos de ação sobre cada um dos três pilares do TNP - desarmamento, controle dos programas nucleares nacionais para garantir que são pacíficos e utilização pacífica da energia atômica -, além de um Oriente Médio sem armas atômicas.
No que diz respeito a esse último ponto, o documento planeja a organização, em 2012, de uma conferência internacional "na qual supõe-se que todos os Estados da região participem, com o objetivo de chegar à instauração" dessa zona sem armas nucleares, e onde é requerida a presença de Israel e do Irã.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, saudou o acordo, que "fortalece o regime de não proliferação mundial".
"Este acordo inclui passos equilibrados e práticos que farão avançar a não proliferação, o desarmamento nuclear e o uso pacífico da energía nuclear, que são as bases para o regime mundial de não proliferação", destacou Obama.
Os Estados Unidos comprometem-se a trabalhar para que esta conferência seja um sucesso, declarou a delegada americana Ellen Tauscher.
"Nos esforçaremos, com os países da região, para criar as condições de uma conferência de sucesso", disse Tauscher. Mas depois acrescentou: "Entretanto, afirmamos que nossa capacidade de realizá-la resulta seriamente diminuída pelo fato de que o documento final singulariza Israel em sua seção dedicada ao Oriente Médio, o que os Estados Unidos lamentam profundamente".
O texto também afirma que "é importante que Israel se junte ao tratado e ponha todas as suas instalações nucleares sob as garantias globais da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)".
Entretanto, o texto não menciona especialmente o Irã, que os ocidentais querem ver sancionado por sua violação das resoluções da ONU, exigindo que Teerã suspenda suas polêmicas atividades nucleares e demonstre o caráter civil de seu programa nuclear.
Egito e Irã fizeram campanha para que Israel fosse especificamente convidado a juntar-se ao TNP, o que exigiria do Estado hebreu a renúncia ao seu arsenal nuclear.
O assessor de Obama para a não-proliferação, Gary Samore, expressou dúvidas quanto à conferência planejada para 2012: "Não sei se esta conferência ocorrerá", confessou em coletiva de imprensa.
Os Estados Unidos aceitaram co-promover a reunião e não querem que o evento seja um fracasso, prosseguiu Samore. Também disse que Washington co-organizaria a conferência apenas se "as condições estivessem reunidas".
É a primeira vez, em 10 anos, que a conferência quinquenal de acompanhamento do TNP chega a um acordo para revisar o tratado que, desde que entrou em vigor, em 1970, serviu como diretriz mundial para limitar a proliferação de armas nucleares.