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Islâmicos tunisianos chegam às eleições fortalecidos, mas divididos

Após 40 anos de repressão, eles passam por uma transição democrática

Revolta tunisiana que acabou com o regime de Zine El Abidine Ben Ali em janeiro  (Franck Prevel/Getty Images)

Revolta tunisiana que acabou com o regime de Zine El Abidine Ben Ali em janeiro (Franck Prevel/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 21 de outubro de 2011 às 17h44.

Túnis, Tunísia - Os islâmicos tunisianos vivem seu primeiro momento de liberdade depois de mais de 40 anos de repressão, imersos em uma transição democrática na qual moderados e fanáticos disputam votos para aplicar sua ideia de islã político.

A revolta tunisiana que acabou com o regime de Zine El Abidine Ben Ali em janeiro permitiu o retorno de milhares de islâmicos exilados ou presos, além da legalização do histórico partido pelo qual muitos pagaram um preço alto: Al Nahda (o Renascimento), herdeiro do Movimento da Tendência Islâmica, da década de 1980.

O Al Nahda, que conta com a simpatia de diversas camadas da população pelo alto preço pago por seus dirigentes e seguidores, é neste momento uma das alternativas políticas de direita com mais futuro político.

No entanto, esta época dourada do partido não esteve livre de tensões e dissensões internas, que poderiam afetar tanto seu resultado eleitoral como o futuro do partido a médio prazo.


O advogado Abdel Fatah Moro, fundador do Al Nahda junto com o atual líder da legenda, Rachid Ghannouchi, não só não se reincorporou ao partido, mas também decidiu se apresentar às eleições da Assembleia Constituinte do dia 23 em uma legenda independente, junto com personalidades islâmicas "progressistas e liberais".

Esta primeira cisão histórica, provocada pelo considerado pai do islamismo norte-africano diante da proximidade das eleições constituintes, é causa de inquietação no Al Nahda, que "receia perder votos", reconheceu à Agência Efe um de seus dirigentes.

Moro, que goza de uma imensa popularidade por basear seu modelo político no liberalismo "à moda tunisiana", e não "à moda turca", como o Al Nahda, é considerado pelos seguidores como "o advogado dos pobres".

O líder islâmico explicou à Agência Efe que a ruptura com o Al Nahda representa um "divórcio civilizado entre as duas partes".


Moro afirmou que decidiu se separar porque acredita que "a Tunísia precisa de partidos mais modernos, com menos ideologia, estruturas internas flexíveis e mais interessados em resolver os problemas reais do povo do que tomar o poder".

Além dessas divisões, existe a incógnita se o Al Nahda resistirá unido ao embates das eleições do dia 23. Dentro da organização islâmica, duas correntes são debatidas, uma composta pelos mais conservadores e apegados à tradição muçulmana, dirigida por Rachid Ghannouchi, e outra mais jovem e aberta, comandada por líderes como Sami Dilu.

No entanto, além das disputas entre conservadores moderados e progressistas, representantes islâmicos de ambas as correntes concordam que o problema mais sério e de difícil solução da transição é como moderar o salafismo mais radical que considera que a "Sharia" (Lei islâmica) deve ser aplicada de modo literal.

Estes salafistas "filosóficos", como são chamados, não são políticos, e seu desejo é seguir o Alcorão e as doutrinas de algum mestre muçulmano ao pé da letra para melhorar sua vida religiosa, dedicada ao culto exclusivo de Alá, dentro da mais pura ortodoxia religiosa.


"Eles não gostam nem se interessam por democracia. Detestam tudo o que se relaciona com a política, inclusive o Al Nahda e outros partidos, como o Partido da Libertação, que são salafistas, embora com aspirações políticas", disse o professor de sociologia Mehdi Mabrouk.

A corrente salafista começou a se espalhar pela Tunísia com a primeira guerra do Golfo e os apelos à jihad (guerra santa) no Iraque, e foi alimentada posteriormente por pregadores formados na Arábia Saudita, além de canais de televisão da capital saudita apoiados pelo regime egípcio de Hosni Mubarak.

Durante os últimos anos de Ben Ali, obcecado pela luta anti-islâmica, pelo menos 3 mil salafistas foram condenados à prisão, segundo seus advogados.

A revanche histórica não demorou a chegar, e esta minoria religiosa, aproveitando a recente liberdade, pressiona a opinião pública para impor e proteger o que considera como princípios islâmicos invioláveis, chegando a usar de métodos violentos em alguns casos.

Os recentes ataques a cinemas, a um canal de televisão, à Faculdade de Ciências e Letras da cidade de Sousse e o incêndio da casa do diretor de uma emissora de televisão colocaram em primeira linha de campanha o tema do islamismo e suas chances de vitória na reunião eleitoral do próximo domingo.

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