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Irmãos Kouachi passaram despercebidos pela França

Said e Cherif Kouachi são dois velhos conhecidos da polícia francesa, mas tinham conseguido não disparar um alerta sobre suas intenções criminosas


	Cherif e Said Kouachi: nos últimos anos, eles desapareceram dos radares dos serviços de inteligência franceses
 (Polícia de Paris/Divulgação via Reuters)

Cherif e Said Kouachi: nos últimos anos, eles desapareceram dos radares dos serviços de inteligência franceses (Polícia de Paris/Divulgação via Reuters)

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Da Redação

Publicado em 8 de janeiro de 2015 às 18h10.

Paris - Os principais suspeitos de terem cometido o massacre na revista "Charlie Hebdo", os irmãos Said e Cherif Kouachi, são dois velhos conhecidos da polícia francesa, mas tinham conseguido não disparar um alerta sobre suas intenções criminosas.

Cherif Kouachi, de 32 anos e irmão mais novo de Said, de 34, tem o histórico criminal mais cheio e já tinha passado pela prisão por vínculos com redes jihadistas em Paris que captavam combatentes para o Iraque.

Enquanto Said só aparece nos documentos policiais de forma periférica, Chérif foi condenado em 2008 a três anos de prisão - a metade em liberdade condicional - por participar da chamada "rede de Buttes Chaumont", nome de um parque no nordeste de Paris, que recrutava jovens marginais para a causa fundamentalista.

Em 2005, ele chegou a viajar à Síria para entrar ilegalmente no Iraque e se unir à "jihad" (guerra santa).

Detido logo antes de embarcar para Damasco, o caçula dos Kouachi era então entregador de pizzas.

"Suas primeiras palavras foram de alívio por ter sido detido, porque assim não teria que viajar à Síria", afirmou nesta quinta-feira à rede de televisão "BFMTV" seu então advogado, Vincent Olivier.

Nascidos no distrito X, em Paris, órfãos desde a infância e criados em um orfanato em Rennes, os irmãos apresentavam um perfil de pouca perspectiva, eram jovens sem profissão nem formação que um dia se sentiram atraídos pelo discurso radical.

Um obscuro imã, Farid Benyettou, que predicava na mesquita Dawa, do bairro de Stalingrad, nesse mesmo distrito, atraiu Kouachi, como muitos outros jovens, para sua visão fundamentalista do islã.

Os rapazes, como destacou o jornal "Le Monde" em artigo publicado em 2008, rapidamente deixaram de fumar, juntaram seus trapos e viajaram, de forma escalonada, ao Iraque.

O advogado deles explicou que "redes terroristas atuam como as seitas. Buscam gente com um psicológico frágil e desenraizado, e esse era o caso de Chérif na época. Mas não notei uma evolução rumo ao fanatismo religioso durante sua reclusão".

No entanto, ele foi descrito por seus cúmplices como "violentamente antissemita", segundo o Ministério do Interior.

É aquele Chérif a mesma pessoa que aparece nos vídeos caseiros gravados ontem atirando a sangue frio em um policial ferido no chão? Seu advogado não consegue acreditar.

"O menino quase criança que conheci não se encaixa com o que as imagens mostraram", alegou.

Nos últimos anos, os Kouachi desapareceram dos radares dos serviços de inteligência franceses.

Os irmãos Kouachi deixaram a capital para se instalar em províncias, na tranquila região de Reims, a nordeste de Paris, onde seus vizinhos os lembram como tranquilos e educados.

O ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, reconheceu hoje que os irmãos tinham sido alvo de vigilância do serviço secreto, mas "não havia elementos que apontassem a iminência de um atentado".

"Tomamos 100% das precauções, mas isso não significa risco zero", admitiu Cazeneuve.

Os Kouachi continuam em paradeiro desconhecido, embora tenham sido vistos hoje em um posto de gasolina de uma estrada nas proximidades de Villers Cotterêts, a nordeste da capital, onde também foi ativado um forte esquema de segurança.

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