Homens armados atacam a sede da revista Charlie Hebdo, em Paris (Handout via Reuters TV)
Da Redação
Publicado em 9 de janeiro de 2015 às 22h37.
Paris - Os três homens que aterrorizaram a França desde o atentado contra a revista satírica Charlie Hebdo, na última quarta-feira, até o sequestro no leste de Paris nesta sexta-feira afirmaram atuar de maneira coordenada e reivindicaram uma ligação com a Al Qaeda e com o grupo Estado Islâmico.
Os irmãos Kouachi
Os irmãos Said e Cherif Kouachi, de 32 e 34 anos, acusados do massacre na revista satírica Charlie Hebdo e mortos em uma ação das forças de segurança no nordeste de Paris, faziam parte de um grupo de jovens muçulmanos franceses doutrinados nos anos 2000 em Paris.
Em uma entrevista à televisão francesa BFMTV, horas antes do assalto, Chérif afirmou cumprir uma missão para a Al-Qaeda na na Península Arábica (AQPA), ramo da rede extremista na Arábia Saudita e no Iêmen.
O passado tumultuoso dos homens, abandonados ainda na infância pelos pais de origem argelina, lhes rendeu a inscrição "há muito tempo" na lista negra de terroristas nos Estados Unidos.
Chérif Kouachi, "um jovem bastante típico, que fumava, bebia e saía com garotas", segundo seu advogado, nasceu em novembro de 1982 em Paris e era um conhecido dos serviços antiterroristas franceses desde que se radicalizou.
De nacionalidade francesa, este homem, apelidado de Abou Issen, esteve vinculado à chamada rede de Buttes-Chaumont, o nome de um parque do norte de Paris, onde os integrantes faziam exercícios físicos e recrutavam combatentes para a jihad ("Guerra Santa") no Iraque.
Em 2005, foi detido antes de pegar o voo rumo à Síria, de onde viajaria ao Iraque. Disse na época que já não estava tão decidido e que havia seguido seus planos por orgulho, segundo fontes próximas ao caso.
Na prisão, entre novembro de 2005 e outubro de 2006, Cherif conheceu Djamal Beghal, uma figura do islã radical francês, que exerceu, segundo as fontes, "uma grande influência" e o levou a praticar "um Islã muito rigoroso".
Também foi durante o cárcere que Chérif conheceu Amedy Coulibaly, que morreu nesta sexta-feira durante um assalto das forças de segurança contra uma loja de produtos judaicos onde manteve reféns, um dias após ter matado uma policial no sul da capital francesa.
Em 2010, o nome de Chérif apareceu em um plano de fuga da prisão do islamita Smain Ait Ali Belkacem, ex-membro do Grupo Islâmico Armado Argelino (GIA), condenado em 2002 à prisão perpétua por cometer um atentado que deixou 30 feridos em uma parada de ônibus de Paris em outubro de 1995.
Indiciado no caso, foi absolvido. No entanto, Amedy Coulibaly foi condenado em 2013 a cinco anos de prisão pelos mesmos crimes.
Said, nascido em setembro de 1980 também em Paris, passou mais inadvertido. Frequentou uma universidade fundamentalista no Iêmen antes de receber o treinamento militar da Al-Qaeda para o manejo de armas.
Em 2013, participa com outros estudantes estrangeiros armados na defesa do centro salafista de Dammaj, norte do Iêmen, contra milícias xiitas.
Na França, Said morava em Reims (nordeste) com sua esposa e um filho pequeno.
Amédy Coulibaly
Amédy Coulibaly, autor do tiroteio e do sequestro em Paris que terminou com quatro mortos, é um criminoso reincidente de 32 anos, que se disse membro do Estado Islâmico.
Este homem franzido, de origem malinense, iniciou sua trajetória de delitos em 2000. sua primeira condenação, seguida de muitas outras, ocorreu em 2001, por roubo.
Em 2010, aparece pela primeira vez em um caso vinculado ao islamismo radical: o projeto de fuga de Smain Ait Ali Belkacem. Condenado a cinco anos de prisão, terminou de cumprir sua pena em maio de 2014.
Coulibaly, nascido na região parisiense, vivia em Fontenay-aux-Roses, nos arredores de Paris.
O jihadista, que tem diploma de ensino superior, trabalhou numa fábrica da Coca-Cola entre 2008 e 2010. Em julho de 2009, junto a outros jovens, foi recebido no palácio do Eliseu pelo então presidente da França, Nicolas Sarkozy.
A polícia continua as buscas por uma quarta pessoa: Hayat Boumeddienne, de 26 anos, que foi apresentada durante a investigação como sendo a esposa de Coulibaly, ambos casados religiosamente mas não civilmente.