Campanha: segundo cientistas políticos, a Irlanda do Norte poderá ficar por um período mínimo de seis meses sem governo (Charles McQuillan/Getty Images)
AFP
Publicado em 2 de março de 2017 às 10h02.
Última atualização em 13 de setembro de 2019 às 10h27.
A Irlanda do Norte vai às urnas nesta quinta-feira, pela segunda vez em dez meses, por causa de um escândalo de corrupção no governo de coalizão, com poucas possibilidades de sair deste atoleiro, sob a ameaça de Londres suspender sua autonomia.
A apuração dos votos nesta região semiautônoma com 1,9 milhão de habitantes, no extremo norte da Irlanda, começará na sexta-feira e os resultados não serão conhecidos até sábado.
Um escândalo de corrupção se somou a um ambiente ruim criado pelo Brexit e atingiu em cheio o governo de união entre protestantes pró-britânicos e católicos pró-irlandeses, resultado dos Acordos de Paz de Sexta-Feira Santa de 1998 que acabaram com décadas de violência religiosa.
O Partido Unionista Democrático (DUP), partidário da permanência no Reino Unido, e o Sinn Féin republicano, favorável à reunificação com a Irlanda, integravam a coalizão.
Mas, em janeiro, o vice-primeiro-ministro regional e integrante do Sinn Féin, Martin McGuinness, abandonou o governo, afirmando que não podia continuar trabalhando com a primeira-ministra Arlene Foster, do DUP.
McGuinness renunciou pelas suspeitas de corrupção em torno de um programa para promover a calefação não poluente que teve um sobrecusto milionário e que foi elaborado por Foster quando era ministra da Economia regional.
A reconciliação, segundo analistas, parece remota.
Se o Sinn Féin mantiver sua rejeição por Foster, que não pensa em renunciar, a Irlanda do Norte poderá ficar por um período mínimo de seis meses sem governo, segundo os cientistas políticos.
Nesse caso, o ministro britânico para a Irlanda do Norte, James Brokenshire, suspenderá a autonomia e administrará a província como durante os "troubles", ou os anos de desordem, como são conhecidas as três décadas de conflito que terminaram com o acordo de paz.
Será a quinta vez que Londres suspende a Assembleia desde 1998.
Nas eleições precedentes, em maio de 2016, o DUP ganhou com 38 cadeira à frente do Sinn Fein (28) e do UUP (Partido Unionista do Ulster, 16).
Os analistas prognosticam uma nova vitória do DUP.
E animosidade histórica entre as duas comunidades, e atual entre os partidos, pode aumentar agora por causa do Brexit.
Cinquenta e cinco por cento dos eleitores norte-irlandeses apoiaria a permanência na União Europeia, mas seu voto ficou diluído no panorama nacional onde o Brexit venceu com 52% a favor.
O DUP apoiou a saída do Reino Unido da UE e o Sinn Fein queria permanecer no bloco. Os nacionalistas, como os escoceses, sempre viram a UE como um contraponto de Londres.