Iraque: vítimas de um conflito que já se arrasta mais de uma década (Ahmed Jadallah/Reuters)
EFE
Publicado em 18 de dezembro de 2018 às 21h38.
Bagdá - O Iraque viveu em 2018 um ano de estagnação governamental e fragmentação política após as primeiras eleições parlamentares desde a derrota do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), um complicado panorama em meio à crise que se arrasta após muitos anos de guerras e conflitos.
O ano de 2018 deixa para o Iraque a imagem de um país destruído pelas guerras e as tensões sectárias, apesar da estabilidade e da segurança projetada no país após a derrota militar dos extremistas em 9 de dezembro de 2017.
Naquele dia, o então primeiro-ministro, Haidar al Abadi, se proclamou como o líder que salvou o povo iraquiano das "garras do terrorismo", mas, cinco meses depois, sofreu uma derrota eleitoral que o deixou, até o momento, fora do jogo político.
Em 12 de maio ocorreram no país as primeiras eleições após a derrota do EI, que chegou a ocupar desde 2014 um terço do território e declarou seu "califado" na cidade de Mossul, que transformou em sua capital e que ficou totalmente em ruínas durante a ofensiva que a libertou em 10 de julho de 2017.
Os resultados dessas eleições foram uma surpresa: Abadi perdeu mesmo com a vitória no campo de batalha e ganhou a coalizão Sairoun (Marchamos, em árabe), liderada pelo influente clérigo xiita Moqtada al Sadr, que não tem boas relações com os EUA, mas que tampouco se aproxima da influência iraniana.
No entanto, poucos dias depois do pleito, começou a polêmica pela troca de acusações de fraude eleitoral devido, entre outros motivos, ao voto eletrônico, que foi utilizado pela primeira vez no Iraque e foi alvo de muitas queixas em diferentes seções eleitorais no país por seu funcionamento.
Isso fez com que o parlamento iraquiano ordenasse em 6 de junho a apuração manual dos votos em todos as seções eleitorais, mas a tensão aumentou após um incêndio ocorrido cinco dias depois em vários armazéns que mantinham as cédulas de votação em Bagdá.
Uma possível repetição do pleito foi ventilada por alguns líderes iraquianos, mas, finalmente, o Supremo deu validade aos votos nulos e encaminhou a formação do governo.
O verão iraquiano (hemisfério norte) passou sem nenhum movimento até que, em outubro, finalmente foram eleitos em apenas um dia, 2 de outubro, Adil Abdel-Mahdi como primeiro-ministro e Barham Saleh como presidente do país.
A partir daí, começou uma corrida para formar o governo o mais rápido possível.
Até o momento, foram aprovados 14 ministérios, mas restam oito a serem designados, entre eles os de Interior e Defesa, que estão sendo os mais discutidos nas sessões parlamentares, nas quais os adiamentos nas votações são constantes pela falta de acordo entre os blocos parlamentares.
O cargo de Abdel-Mahdi como chefe de Estado corre riscos pela fragmentação da Câmara.
Além disso, o futuro governo tem que enfrentar vários desafios, como atenuar a crise social e ambiental no sul iraquiano e promover a reconstrução do país.
Os protestos na província de Basra (sul), que começaram em julho e deixaram dezenas de mortos, contribuíram para aquecer ainda mais a situação na política externa, concretamente entre Washington e Teerã.
O consulado iraniano em Basra foi incendiado em setembro e os EUA fecharam o seu alegando ameaças contra o mesmo.
Além dos protestos dos cidadãos para pôr fim à corrupção governamental e ao desemprego, sobretudo entre os jovens, se soma uma crise ambiental no rio Shatt al Arab, que atravessa o sul iraquiano.
Dezenas de milhares de pessoas se viram afetadas pela contaminação da água provocada pela seca, que reduziu o fluxo dos rios procedentes do Irã e da Turquia, e que tem se agravado pela deterioração e pela idade avançada das usinas de tratamento e do sistema de canalização de água.
Apesar de tudo, o Iraque procura crescer com o foco na liberalização de sua economia para diversificar suas fontes de receitas, e não depender somente do petróleo, e proteger as empresas que investirem no país.
Além do campo econômico, o novo governo tem uma tarefa importante para cumprir: a reconstrução do país para que os 2,9 milhões de iraquianos que ainda vivem em campos de deslocados, segundo a ONU, retornem a seus lares. EFE