Situação dos soldados americanos no Iraque pode ficar ainda pior (Reuters/Reuters)
AFP
Publicado em 5 de janeiro de 2020 às 09h21.
São Paulo - O Parlamento iraquiano decide, neste domingo 05, o destino dos 5.200 soldados americanos em seu território, que as facções pró-Irã dizem estar prontas para atacar, apesar das ameaças de Washington, que afirma ter selecionado 52 alvos no Irã para atingir "muito rapidamente e com muita força".
O Exército iraniano expressou dúvidas de que os Estados Unidos tenha a "coragem" de cumprir sua ameaça, segundo a agência oficial iraniana Irna. Ao mesmo tempo, uma maré humana acompanhava em Ahvaz, no Irã, aos gritos de "Morte à América", o cortejo fúnebre do poderoso general Qassem Soleimani no primeiro de três dias de homenagens nacionais.
Desde o assassinato do general, arquiteto da estratégia iraniana no Oriente Médio, e de Abu Mehdi Al-Mouhandis, número dois da Hashd al-Shaabi, uma coalizão paramilitar pró-Irã integrada às forças de segurança, o mundo inteiro teme uma nova guerra na região.
Teerã clama "vingança" e ameaça com uma resposta "militar". Por sua vez, o presidente americano Donald Trump ameaça destruir 52 alvos iranianos - tantos quanto o número de americanos mantidos reféns por mais de um ano na embaixada Americana em Teerã em 1979.
Alguns desses alvos "são de alto nível e muito importantes para o Irã e para a cultura iraniana", disse Trump.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, alertou o presidente americano, dizendo que "atacar locais culturais é um crime de guerra".
Sábado à noite, após enormes manifestações em várias cidades do Iraque em homenagem a Soleimani, foguetes caíram na Zona Verde de Bagdá, onde está localizada a embaixada americana, e numa base aérea que abriga soldados americanos.
Nos últimos dois meses, dezenas de foguetes atingiram áreas onde diplomatas e soldados americanos estão localizados. Um funcionário americano terceirizado foi morto num desses ataques no final de dezembro, no que especialistas chamaram de guerra por procuração entre o Irã e os Estados Unidos em solo iraquiano.
Mas após a morte de Soleimani, "não é mais uma guerra por procuração, é uma guerra direta", assegura Erica Gaston, especialista em Irã na New America Foundation.
E os pró-iranianos não agem apenas no terreno militar. No Parlamento iraquiano, eles podem ter sucesso neste domingo obtendo o que tentam alcançar há tempos: a saída dos soldados americanos do país, provavelmente seguida por todas as tropas estrangeiras da coalizão anti-jihadista liderada por Washington.
Por medo de represálias, a Otan suspendeu suas operações no Iraque e a coalizão reduziu suas operações, fortalecendo também a segurança das bases onde os americanos estão posicionados. Washington, por sua vez, anunciou o envio de 3 000 a 3 500 soldados adicionais à região.
No Parlamento iraquiano, a sessão será uma das mais tensas de sua história: os pró-Irã já anunciaram que os ausentes e os que se opuseram à votação serão considerados "traidores da pátria", enquanto as minorias curdas e sunitas tentam salvar a presença americana que contrabalança a crescente influência do Irã no país.
Ao final da sessão, outro prazo foi estabelecido pelos pró-Irã.
As Brigadas do Hezbollah, a facção mais radical da Hashd, pediram aos soldados iraquianos que se afastassem "pelo menos 1 000 metros" dos locais onde soldados americanos estão presentes a partir das 14 horas (11 horas de Brasília).
Uma ameaça que o secretário de Estado americano Mike Pompeo levou a sério o suficiente para denunciar no Twitter um apelo lançado por "bandidos".
A Hashd pediu a seus combatentes que "se preparassem", enquanto um de seus líderes, Qaïs al-Khazali, trocou sua veste de religioso pelo uniforme militar.
O líder xiita iraquiano Moqtada Sadr, terror dos americanos durante a ocupação do Iraque de 2003 a 2011, reativou sua milícia.