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Irã volta a enriquecer urânio acima do limite permitido pelo acordo nuclear

A decisão vem depois da aprovação de uma lei para aumentar o programa nuclear como forma de pressionar a Europa a aliviar sanções econômicas

Irã: o anúncio foi feito pelo porta-voz do governo, Ali Rabie, à mídia estatal iraniana (AFP/AFP)

Irã: o anúncio foi feito pelo porta-voz do governo, Ali Rabie, à mídia estatal iraniana (AFP/AFP)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de janeiro de 2021 às 13h17.

Última atualização em 4 de janeiro de 2021 às 15h14.

O Irã reiniciou o processo de enriquecimento de urânio com um nível de pureza de 20% em uma instalação subterrânea, descumprindo os termos do Acordo Nuclear de 2015, assumido com os membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

O anúncio foi feito pelo porta-voz do governo, Ali Rabie, à mídia estatal iraniana. De acordo com Rabie, o presidente Hassan Rouhani deu a ordem para a mudança nas instalações de Fordo. Protegido pelas montanhas, Fordo é cercado por armas antiaéreas e outras fortificações. É do tamanho de um campo de futebol, grande o suficiente para abrigar 3.000 centrífugas.

Ainda de acordo com o porta-voz, os cientistas começaram o processo de enriquecimento na segunda-feira à tarde, após notificarem a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão de vigilância nuclear das Nações Unidas.

A decisão do Irã vem depois da aprovação no Parlamento de um projeto de lei para aumentar o programa nuclear como forma de pressionar a Europa a aliviar sanções econômicas. A medida também é vista como uma forma de pressionar o presidente dos Estados Unidos Joe Biden, antes mesmo de sua posse. Biden já disse estar disposto a entrar novamente no acordo nuclear, do qual os Estados Unidos se retiraram em 2018, na gestão de Donald Trump.

O acordo nuclear é um pacto feito entre o Irã e os países membros do Conselho de Segurança da ONU: China, Estados Unidos, França, Inglaterra e Rússia. A Alemanha também faz parte das negociações. O documento tem como objetivo geral impedir a produção de armas nucleares pelo Irã. Em troca, as sanções internacionais impostas ao país pelas potências — como Estados Unidos e países europeus — são gradualmente rompidas, em especial as relacionadas à exportação de petróleo iraniano e movimentações no sistema bancário internacional.

As principais demandas do acordo são relacionadas à quantidade produzida e ao nível de enriquecimento do urânio. Quanto maior o enriquecimento, maior sua capacidade explosiva.

Ficou acordado que o Irã só iria produzir a quantia máxima de 300 quilos de urânio enriquecido, durante um período de 15 anos. Tal quantia estabelecida para estoque equivale à uma redução de 98% em comparação ao que era fabricado.

O nível de enriquecimento de urânio também foi limitado para 3,67%, considerado o suficiente para produção de energia nuclear, como defendido pelo Irã. No momento da assinatura do acordo, o nível de enriquecimento estava em 20%, definido para produção de substâncias medicinais. O necessário para a produção de uma bomba atômica é superior a 90%.

Também foi estabelecida a redução em dois terços do número de centrífugas de enriquecimento de urânio em atividade, totalizando pouco mais de 5.000. O Irã se comprometeu a não ultrapassar esse número em um período de dez anos.

Ficou estabelecido, ainda, que o Irã deveria permitir acesso da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da ONU, às centrífugas e ao estoque, para certificar à comunidade internacional de que o país não estaria quebrando as regras do acordo nuclear.

(Com agências internacionais).

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