Bandeira do Irã: a República Islâmica sobreviveu, mas enfrenta hoje enormes desafios (Nick Taylor/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 4 de junho de 2014 às 14h31.
Teerã - Um quarto de século após a morte do fundador da República Islâmica, o aiatolá Ruhollah Khomeini, o Irã segue em uma encruzilhada, com uma economia debilitada, uma diplomacia isolada e muitas batalhas políticas internas.
O guia espiritual e político iraniano morreu no dia 4 de junho de 1989, aos 89 anos, mas sua imagem segue onipresente, impressa em notas bancárias, em cartazes presos nos edifícios ou simplesmente pintada nos muros do país.
Milhares de pessoas participaram nesta quarta-feira à cerimônia de luto anual, no imenso mausoléu construído em sua memória ao sul de Teerã. Seu sucessor, o aiatolá Ali Khamenei, pronunciou no local um discurso no qual criticou a arrogância mundial dos Estados Unidos.
"O desafio exterior são as turbulências semeadas pela arrogância mundial e, sejamos francos, pelos Estados Unidos", afirmou o aiatolá Khamenei no mausoléu de Khomeini.
Ao derrubar em janeiro de 1979 o xá do Irã, da dinastia dos Pahlevi, apoiada pelos Estados unidos, o guia Khomeini encarnou um renascimento e uma revolta do Islã frente à decadência ocidental e a corrupção governamental.
A República Islâmica, nascida de sua visão de uma democracia muçulmana baseada na sharia, sobreviveu, mas enfrenta hoje enormes desafios.
Para Dina Esfandiary, do Instituto Internacional de Pesquisas Estratégicas (IISS), a influência do Irã diminuiu, enquanto a Síria - seu principal aliado - está afundada em uma guerra civil há três anos e o movimento palestino Hamas, no poder em Gaza, se distanciou de Teerã.
O Irã se converteu em potência regional nos anos 1990 graças ao seu crescimento econômico, fruto da política de reconstrução do presidente Akbar Hashemi Rafsandyani (1989-1997), e depois de Mohamad Khatami (1997-2005).
Nos anos 80 o país havia vivido uma devastadora guerra de oito anos contra o Iraque, que deixou ao menos um milhão de mortos.
Aquela abertura econômica dos 90 esteve acompanhada por uma relativa abertura cultural e social. Mas as riquezas nacionais foram dilapidadas pelo presidente sucessor, Mahmud Ahmadinejad (2005-2013), acusado de má gestão com a introdução de ajudas diretas à população que substituiu um grande programa de subsídios públicos.
A economia iraniana também afundou com as severas sanções internacionais decretadas em resposta ao programa nuclear de Teerã, que, segundo o Ocidente, tem cunho militar.
"Sem economia forte, não há influência geopolítica", afirma à AFP Said Laylaz, analista baseado em Teerã.
O Grande Satã
Durante muitos anos, o Irã, hostil ao Ocidente e inimigo dos Estados Unidos, classificados por Teerã de "Grande Satã", viveu isolado internacionalmente.
Por isso, o atual presidente, Hassan Rohani, eleito em junho de 2013, enfrenta vários desafios: deve reativar a economia - atingida por um elevado desemprego e uma alta inflação - e retomar laços com a comunidade internacional, após um duplo mandato de Ahmadinejad marcado pelo embate com o Ocidente e a repressão interna de manifestações, como ocorreu em sua questionada reeleição de 2009.
Rohani teve um primeiro êxito ao alcançar um acordo de seis meses com as grandes potências, ao congelar parte das atividades nucleares até julho, em troca de que algumas das sanções contra o Irã sejam suspensas.
O presidente, considerado um moderado, também precisa enfrentar as críticas internas, que consideram que qualquer concessão sobre o tema nuclear é uma renúncia aos direitos em energia atômica do Irã.
Rohani, afundado em um sistema político complexo onde persiste uma retórica antiocidental, também deve enfrentar os opositores hostis a qualquer passo a favor das liberdades individuais e sociais, uma de suas promessas de campanha.