Homem limpa os destroços em sua casa, após bombardeios aéreos realizados próximo ao aeroporto de Sana (Mohammed Huwais/AFP)
Da Redação
Publicado em 31 de março de 2015 às 14h27.
Sana - O Irã e a Arábia Saudita se acusaram mutuamente nesta terça-feira de desestabilizar o Iêmen, onde a coalizão árabe liderada por Riad intensificou seus bombardeios aéreos sobre Sana.
A capital do Iêmen sofreu na noite de segunda-feira os bombardeios mais violentos desde o início dos ataques da coalizão árabe contra os rebeldes xiitas que controlam a cidade.
"Foram os ataques mais violentos em Sana desde quinta-feira", disse um morador da capital, a respeito da operação liderada pela Arábia Saudita.
"Aconteceram explosões durante toda a noite Foi horrível. Não conseguimos dormir", completou.
O alto comissário da ONU para os direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, considerou ser "extremamente alarmante" a situação no Iêmen, "com dezenas de civis mortos nos últimos quatro dias". "O país parece estar à beira do abismo", alertou em Genebra.
A tensão também aumentou no plano diplomático, com o Irã no centro, num dia em que todas as atenções estão voltadas para as negociações sobre o programa nuclear iraniana em Lausanne.
O ministro saudita das Relações Exteriores, o príncipe Saud al-Fayçal, empregou palavras muito duras contra os rebeldes, o ex-presidente iemenita Saleh e o Irã, que ele acusou de ser responsável pelo conflito.
"Os milicianos xiitas e o ex-presidente Saleh procuram, com o apoio do Irã, desestabilizar o Iêmen e embaralhar as cartas" neste país, disse ele à Majlis al-Shura, assembleia consultiva reunida em Riad.
"Nós não estamos indo para a guerra, mas quando soarem os tambores da guerra, estaremos prontos", acrescentou.
Em resposta, o Irã advertiu nesta terça-feira que o "ataque saudita" no Iêmen ameaça colocar em perigo todo o Oriente Médio e pediu o fim imediato" das operações militares.
"O fogo da guerra arrastará toda a região a brincar com fogo", afirmou o vice-ministro iraniano das Relações Exteriores, Hosein Amir Abdola, à imprensa, à margem da conferência de países doadores para a Síria, reunião que acontece no Kuwait.
"As operações militares devem parar imediatamente", completou.
Teerã é acusado por vários países árabes de procurar aumentar a sua influência no Oriente Médio, apoiando os rebeldes xiitas huthis que tomaram o controle de grandes porções do território iemenita nos últimos meses.
Depois de tomar Sana em setembro, eles conquistaram regiões no centro, oeste e sul, chegando a ameaçar a grande cidade de Aden, o que levou o início dos ataques da coalizão.
Noite de inferno em Sana
Os ataques contra Sana se concentraram segunda-feira à noite contra posições da Guarda Republicana, corpo armado fiel ao ex-presidente Ali Abdallah Saleh, atualmente aliado dos huthis.
"Todos os campos da Guarda Republicana em torno de Sana, bem como o aeroporto, foram bombardeados durante a noite", declarou um habitante.
Além de Sana, os ataques aéreos atingiram locais da Guarda Republicana e posições da DCA em várias regiões, de acordo com moradores.
A Liga Árabe, reunida durante o fim de semana no Egito, insistiu no domingo que a operação militar no Iêmen seguirá até que os milicianos xiitas huthis deponham as armas.
O porta-voz saudita da coalizão, o general Ahmed Assiri, admitiu implicitamente a responsabilidade da coalizão no ataque que matou 40 pessoas e feriu outras 200 na segunda-feira no campo de refugiados de Al-Mazrak, no noroeste do Iêmen.
"A coalizão foi alvo dos milicianos a partir de uma área residencial e a aviação da coalizão precisou replicar" em direção à fonte dos disparos, disse ele.
Em Genebra, uma porta-voz do alto comissário da ONU para os direitos Humanos disse que estava "chocado" com o ataque contra o campo de deslocados e denunciou outros ataques contra alvos civis.
"Nós condenamos todos os ataques contra hospitais e apelamos a todas as partes (em conflito) para proteger os civis", declarou Cecile Pouilly, porta-voz da agência da ONU.
Ela denunciou, em particular, um ataque em Daleh contra a 33º divisão blindada, favorável ao ex-presidente Saleh, e dos huthis contra três hospitais.
A sede da 33ª divisão sofreu um ataque da coalizão que fez 32 mortos entre os soldados, segundo indicou à AFP uma fonte médica na cidade.
Estas mortes se somam as de 47 outros civis e militares mortos segunda e terça-feira em ataques separados no sul.
Há muita confusão no sul, onde, além dos ataques aéreos da coalizão, confrontos opõem militares favoráveis ao presidente Abd Rabbo Mansur Hadi a huthis e seus aliados.
Neste clima, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha indicou nesta terça-feira que não obteve as garantias de segurança necessárias para enviar ao Iêmen um avião carregado com suprimentos médicos, enquanto um de seus funcionários, um iemenita, foi morto na segunda-feira, no sul.