Donald Trump: presidente norte-americano ordenou ataque à general do Irã e deu início a conflito entre os dois países (Eva Marie Uzcategui/Reuters)
Reuters
Publicado em 5 de janeiro de 2020 às 13h48.
Dubai - O Irã classificou neste domingo o presidente norte-americano, Donald Trump, como um "terrorista de terno", após o republicano ter ameaçado atingir 52 alvos no Irã caso Teerã ataque cidadãos ou ativos dos Estados Unidos em retaliação à morte do comandante militar Qassem Soleimani.
Em meio à guerra de palavras entre os dois lados, a União Europeia, o Reino Unido e o Omã pediram para que os envolvidos diminuam o tom.
Soleimani, então comandante militar do Irã, foi morto na sexta-feira por um drone norte-americano enquanto estava em um comboio no aeroporto de Bagdá. O ataque elevou as longas hostilidades entre Teerã e Washington e aumentou o temor de conflito no Oriente Médio.
Milhares de pessoas, muitas gritando contra os EUA e batendo no peito, protestaram no Irã depois de o corpo de Soleimani ter chegado ao país com ares de herói nacional.
"Como o Estado Islâmico, como Hitler, como Genghis! Eles todos odeiam as culturas. Trump é um terrorista de terno. Ele aprenderá em breve que NINGUÉM pode derrotar a 'grande nação e cultura iranianas", disse pelo Twitter o ministro da Informação e das Telecomunicações, Mohammad Javad Azari-Jahromi.
Soleimani era o arquiteto por trás das operações militares e inteligência no exterior da Força Quds, da Guarda Revolucionária do Ira. O líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, prometeu uma dura vingança pela sua morte.
O secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, disse que se o Irã atacar alvos norte-americanos Washington responderá com ataques contra as pessoas que orquestraram tais atos.
Trump postou no Twitter que o Irã "está muito agressivo na retórica sobre atingir alguns ativos dos EUA" e que os EUA têm "52 alvos no Irã, alguns de valor e importância muito grandes para o Irã e a cultura iraniana, e que esses alvos, e o próprio Irã, SERÃO ATINGIDOS MUITO RÁPIDO E MUITO FORTEMENTE".
Os 52 alvos representariam os 52 reféns norte-americanos que foram capturados pelo Irã na Embaixada dos EUA durante a Revolução Islâmica de 1979, de acordo com Trump.
O Irã convocou neste domingo o embaixador suíço, representante dos EUA em Teerã, para protestar contra os "comentários hostis de Trump", segundo a TV estatal do Irã.
As tensões entre as nações aumentaram após os EUA saírem do acordo nuclear com o país em 2018 e restaurarem sanções econômicas sobre o país. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Abbas Mousavi, disse que o país avaliará neste domingo sobre seu compromisso futuro com o acordo.
O chefe do Exército iraniano, major-general Abdolrahim Mousavi, disse à TV estatal neste domingo que os EUA não têm coragem para entrar em um conflito armado com o Irã.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos,Mike Pompeo, disse neste domingo que qualquer ação militar de Washington contra o Irã estará de acordo com a lei internacional, depois que o presidente Donald Trump ameaçou atacar alvos iranianos, incluindo locais históricos.
"Agiremos legalmente e dentro do sistema", afirmou Pompeo à rede ABC. "Sempre o fizemos e sempre o faremos". Pompeo se recusou a dar detalhes sobre os possíveis 52 alvos, mas disse que Trump "nunca se esquivará de proteger os Estados Unidos".
"O povo americano deve saber que todo alvo que atacaremos será um alvo legal e com uma missão única: de proteger e defender os Estados Unidos".
A ameaça de Trump na noite de sábado provocou acusações generalizadas de opositores democratas de que violaria a Convenção de Genebra, que estabelece que qualquer ataque a locais culturais constitui um crime de guerra.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamad Javad Zarif, também tuitou que "atacar locais culturais é um crime de guerra".
Pompeo afirmou que há uma "probabilidade real" de o Irã tentar atacar as tropas americanas, depois do bombardeio orquestrado por Washington.
"Achamos que há uma probabilidade real de o Irã cometer um erro e tomar a decisão de atacar algumas de nossas forças militares no Iraque ou solados no nordeste da Síria", afirmou Pompeo à Fox News neste domingo.