Stena Impero: navio tem 23 tripulantes, que são 18 indianos, três russos, um filipino e um letão (Mizan News Agency/Reuters)
AFP
Publicado em 22 de julho de 2019 às 08h52.
Última atualização em 22 de julho de 2019 às 08h52.
A investigação que decidirá o destino do petroleiro britânico capturado na sexta-feira pelo Irã dependerá "da cooperação" da tripulação, advertiu neste domingo Teerã, depois de ter ignorado as chamadas internacionais para liberar rapidamente o navio.
Acusado de "não respeitar o código marítimo internacional", o "Stena Impero" permanece no porto de Bandar Abbas (sul).
Seus 23 tripulantes (18 indianos, três russos, um filipino e um letão) "estão com boa saúde", declarou Allah Morad Afifipoor, diretor geral da Autoridade Portuária e Marítima da província de Hormozgan.
"A investigação [...] depende da cooperação dos membros da tripulação do navio e também do nosso acesso às provas necessárias para examinar o caso", acrescentou em entrevista à Press TV, o canal de informação em língua inglesa da televisão estatal iraniana.
O petroleiro de bandeira britânica, de propriedade de um armador sueco, foi capturado na sexta-feira no Estreito de Ormuz pela Guarda Revolucionária iraniana.
De acordo com Afifipoor, o Stena Impero "colidiu com um barco de pesca que entrou em contato com o petroleiro, mas não obteve resposta". As autoridades iranianas abriram uma investigação sobre as causas do acidente, "conforme a lei".
De acordo com a gravação de áudio das comunicações via rádio, e cuja autenticidade foi comprovada pelo ministério da Defesa britânico, a Guarda Revolucionária intimou o petroleiro a mudar de rumo.
Segundo a mesma gravação, pouco antes da abordagem das forças iranianas, uma fragata britânica que estava na região entrou em contato com o "Stena Impero" para dizer que sua "passagem, em virtude direito internacional, não devia ser perturbada, obstacularizada, bloqueada ou freada".
No sábado, o Reino Unido instou o Irã a reduzir as tensões no Golfo liberando o "Stena Impero". Londres considerou sua captura "inaceitável".
O ministro britânico das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, anunciou que o Executivo informará o Parlamento na segunda-feira sobre "medidas complementares" que pretende adotar após esse novo caso.
Por sua vez, o secretário de Estado para a Defesa, Tobias Ellwood, garantiu neste domingo que irá "analisar uma série de opções" para responder à detenção do petroleiro.
Na noite deste domingo, um comunicado do governo britânico informou que Theresa May presidirá na segunda-feira de manhã uma reunião de crise para analisar o caso, com ênfase na "manutenção da segurança da navegação no Golfo".
Enquanto isso, Hunt dialogou com seus homólogos Jean-Yves Le Brian (França) e Heiko Maas (Alemanha) sobre a "detenção ilegal" do navio. Os três acordaram manter estreito contato sobre a situação.
O embaixador iraniano em Londres, Hamid Baeidinejad, exortou o governo britânico "a controlar as forças políticas internas que querem uma escalada das tensões entre o Irã e o Reino Unido".
O Irã "está preparado para diferentes cenários", acrescentou.
A apreensão do "Stena Impero" ocorreu horas depois que a justiça do enclave britânico de Gibraltar (extremo sul da Espanha) decidiu prolongar por 30 dias a retenção de um petroleiro iraniano, o "Grace 1".
Ele foi interceptado em 4 de julho sob suspeita de querer entregar petróleo à Síria, em violação das sanções europeias contra Damasco, embora o Irã tenha negado as acusações e ameaçado com represálias.
Para Hunt, a captura do "Stena Impero" é uma medida de retaliação pelo confisco de "Grace 1". Segundo ele, este último "foi legalmente [...] detido em violação das sanções da UE", enquanto o britânico "foi capturado em águas de Omã em flagrante violação do direito internacional".
O encarregado de negócios britânico nas Nações Unidas, Jonathan Allen, qualificou a intercepção como "interferência ilegal" em uma carta enviada ao presidente pro tempore do Conselho de Segurança, o peruano Gustavo Meza-Cuadra.
Allen afirmou que o "Stena Impero" foi interceptado em águas de Omã e que estava "exercendo o direito de trânsito em um estreito internacional". Também disse que não há provas da colisão com um pesqueiro.
Na terça, o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, declarou que o Irã responderia "no momento e lugar oportunos" à apreensão do "Grace One".
Os britânicos "roubaram e se respondeu e eles", considerou neste domingo o presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani.
Alemanha, França, UE, Otan e Omã, que compartilham o controle do Estreito de Ormuz com o Irã, exigiram que Teerã liberasse o navio.
A região do Golfo e o Estreito de Ormuz, por onde um terço do petróleo do mundo transita, é palco de tensões e de disputa entre o Irã e os Estados Unidos.
No final da semana, os Estados Unidos disseram que abateram um drone iraniano no estreito. O Irã, por sua vez, assegurou que não perdeu nenhum aparelho.
As tensões entre os dois países se deterioraram após a retirada unilateral dos EUA, em maio de 2018, do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano, assinado em 2015. Washington reimpôs então sanções ao Irã.