Francisco: Novas acusações de abusos surgiram nas semanas recentes contra a Igreja no Chile, incluindo acusações contra a ordem jesuíta do papa (Gregorio Borgia/Reuters)
Reuters
Publicado em 12 de junho de 2018 às 21h25.
Santiago - Os principais investigadores do Vaticano desembarcaram no Chile nesta terça-feira dizendo que possuem ordens do papa Francisco para garantir que a Igreja Católica Romana responda "cada caso de abuso sexual de menores cometido por clérigos" no país.
Novas acusações de abusos surgiram nas semanas recentes contra a Igreja no Chile, incluindo acusações contra a própria ordem jesuíta do papa. As acusações foram feitas depois da renúncia de três bispos após um escândalo de abuso e acobertamento que causou danos à reputação da Igreja no país.
"Estamos buscando fornecer conselhos concretos técnicos e legais... para que a Igreja possa dar uma resposta adequada para cada caso de abuso sexual", disse o arcebispo Charles Scicluna, de Malta, em entrevista coletiva em Santiago.
A Igreja informou que irá nomear um representante na segunda-feira para ficar em Santiago e receber acusações de abusos, como parte de um novo esforço para ajudar vítimas a receberem justiça rápida em casos ainda abertos, alguns de décadas atrás.
Scicluna e o padre Jordi Bertomeu, uma autoridade espanhola do Vaticano, também encorajaram vítimas a relatarem acusações diretamente à polícia.
O escândalo veio à tona quando o pontífice argentino visitou o Chile em janeiro. Ele primeiro enviou Scicluna e Bertomeu para investigar acusações de abusos em fevereiro, quando eles realizaram 64 entrevistas.
Diversas pessoas que dizem terem sido abusadas por membros das comunidades jesuítas e maristas no Chile disseram à Reuters que pediram momentos com Scicluna e Bertomeu durante a missão mais recente de "reparação e reconciliação" de uma semana no país.
Um dos acusadores mais recentes a se apresentar, Helmut Kramer, um engenheiro de 48 anos de Santiago, disse à Reuters na segunda-feira que aos 13 anos foi forçado a tirar a roupa e foi acariciado pelo padre Leonel Ibacache, um jesuíta, em encontros feitos sob pretexto de preparação para batismo e inscrição na escola jesuíta na cidade de Antofagasta, no norte do país, em 1983.
Kramer disse em entrevista que contou para uma autoridade sênior da Igreja sobre o abuso diversos anos depois, mas que nada foi feito. Esta autoridade também foi, mais tarde, acusada de abusos sexuais por jovens católicos e foi removida de seu cargo em 2013. Ibacache, que também lecionava na cidade de Puerto Montt, foi posteriormente transferido sem explicação pública para uma escola em Santiago.
"Eu fiquei quieto todos esses anos. Eu pensei que eu era o único no mundo que tinha sofrido com aquilo", disse Kramer. "Eu espero que ao menos o papa se sinta envergonhado de que isto aconteceu em sua própria ordem."
A ordem jesuíta chilena confirmou que havia recebido diversas queixas sobre Ibacache, agora na faixa dos 90 anos e aposentado, e disse que havia nomeado um advogado leigo independente e pedido para vítimas se apresentarem.