Tony Blair: Blair renunciou ao cargo de chefe de Governo em 2007, mas sua credibilidade nunca se recuperou após a invasão de 2003 (Chris Jackson, Chris Jackson/AFP/AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de julho de 2016 às 12h28.
Sete anos depois do início dos trabalhos, a investigação oficial sobre o papel do Reino Unido na guerra no Iraque apresentará, nesta quarta-feira, suas conclusões, que não devem ser agradáveis para o então primeiro-ministro, Tony Blair.
A Investigação Chilcot - o diplomata John Chilcot preside os trabalhos - começou em 2009, quando as tropas britânicas se retiravam do Iraque. O objetivo era investigar a decisão de participar na guerra de 2003 e da ocupação subsequente.
Milhares de iraquianos morreram na guerra e no brutal conflito sectário posterior, assim como 179 soldados britânicos. As famílias dos militares exigem respostas.
A invasão foi polêmica na época e aconteceu sem um mandato explícito do Conselho de Segurança da ONU, com Estados Unidos e Reino Unido alegando que o regime de Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, que nunca foram encontradas.
Blair renunciou ao cargo de chefe de Governo em 2007, mas sua credibilidade nunca se recuperou após a invasão de 2003. Grande parte dos britânicos acredita que ele nunca deveria ter enviado o país ao vespeiro da guerra.
Um relatório de 2004 sobre as informações dos serviços de inteligência utilizadas na época descobriu que as evidências haviam sido exageradas, mas o autor, Robin Butler, afirmou na segunda-feira que Blair "acreditava realmente" que estava fazendo o correto.
O Relatório Chilcot não abordará a legalidade da decisão, mas trechos que já vazaram à imprensa dão a entender que deixará Blair em situação complicada a maneira como tomou as decisões.
Os críticos do ex-premier aguardam o documento com impaciência. O ex-chefe de governo escocês Alex Salmond está buscando apoio no Parlamento para abrir um processo de impeachment ou para levar Blair aos tribunais.
O impeachment, que pode ser retroativo, foi utilizado pela última vez no Reino Unido em 1806 e é considerado obsoleto, mas poderia ser retomado para punir Blair de maneira simbólica, porque ele não ocupa nenhum cargo.
Salmond disse no domingo que "é necessário prestar contas política ou judicialmente".
Blair não fez comentários antes da publicação do relatório, mas há alguns anos lamentou a perda de vidas, mas não a derrubada de Saddam Hussein.
O relatório tem 2,6 milhões de palavras - mais de quatro vezes superior a "Guerra e Paz", de Leon Tolstoi - e sua elaboração custou 10 milhões de libras (11,9 milhões de euros, 13,3 milhões de dólares).
Mais de 120 pessoas prestaram depoimento, de Blair e seu sucessor, Gordon Brown, a ministros e altos comandantes militares e dos serviços de inteligência.
A investigação deveria durar um ano, que viraram sete, durante os quais faleceu um dos cinco integrantes da comissão de investigação.
A discussão sobre o que poderia ser publicado prejudicou os trabalhos, por exemplo sobre a correspondência entre Blair e o então presidente americano, George W. Bush.
A demora provocou o desespero dos parentes dos soldados mortos no Iraque, que já estavam enfurecidos com o material utilizado pelas tropas.
Um exemplo é o dos veículos semiblindados Snatch Land Rover, chamados de "caixões sobre rodas" porque não tinham proteção no piso e eram muito vulneráveis às bombas que os rebeldes colocavam nas estradas.
A guerra, que no ponto máximo contou com 46.000 soldados britânicos, ainda pesa na política do Reino Unido.
Desde então, os governos britânicos demonstram dúvidas intensas sobre o envio de tropas ao exterior, por exemplo na Líbia e Síria, e o Partido Trabalhista de Blair segue dividido.