Funcionário dentro da arena de hóquei de Druzhba, completamente destruída, na cidade de Donetsk (AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2014 às 17h46.
Com saques a um supermercado e a lojas de carros e o fechamento de bancos, lojas e restaurantes devido à insegurança, um clima de anarquia se instala em Donetsk, maior cidade do leste da Ucrânia, tomada por separatistas pró-russos.
Em meio ao caos, um ato de vandalismo particularmente simbólico foi registrado. Um armazém de chocolates Roshen, empresa pertencente ao novo presidente da Ucrânia Petro Poroshenko, foi roubado em Makiivka, perto de Donetsk, indicou à AFP o serviço de imprensa da polícia local.
No mesmo dia, um supermercado foi saqueado durante várias horas por homens armados, sem a intervenção da polícia, de acordo com vários sites de notícias de Donetsk.
Ainda na tarde desta quinta, homens com armas automáticas e lança-granadas chegaram à sede da administração regional em Donetsk, alegando aos jornalistas presentes no local que "estavam procurando os responsáveis pelo saque ao supermercado".
Um dos líderes dos insurgentes pró-russos, Denis Puchiline, reconheceu nesta quinta durante uma coletiva de imprensa que grande parte dos bens roubados no supermercado tinha sido encontrada na sede da administração regional. "Várias pessoas foram presas", garantiu.
Carros roubados "pela revolução"
As pilhagens desse tipo aumentaram nos últimos dias.
"Há alguns dias, homens armados e mascarados chegaram em duas lojas de carros exigindo 'dez veículos para a revolução'. Quem são essas pessoas, ninguém sabe. Mas o que fazer diante de uma kalashnikov?", relatou Tikhon, amigo do proprietário de uma das lojas, referindo-se ao fuzil da fabricação russa.
A polícia local, que passou para o lado dos insurgentes pró-russos que controlam a cidade de um milhão de habitantes, vem mantendo uma atuação discreta há semanas e parece estar ausente das ruas.
Segunda-feira, foi a vez do complexo esportivo da equipe de hóquei de Donbass ser atacado por homens armados em Donetsk.
"Homens armados amarraram os guardas e levaram computadores, telas planas, um cofre e um carro antes de atearem fogo ao edifício", indica um comunicado do clube.
A poucos quilômetros do aeroporto de Donetsk, retomado na segunda pelas forças da Ucrânia depois de uma batalha que deixou 40 mortos entre os pró-russos, a Avenida Kiev foi bloqueada por um novo posto de controle.
Da parte interditada ao trânsito chega um furgão blindado com o logotipo de um banco ucraniano. Ativistas pró-russos armados saem do veículo.
"Vários veículos blindados de transporte de fundos bancários foram apreendidos pelos pró-russos. Muitos bancos pararam de enviar dinheiro para Donetsk, por considerarem muito arriscado. É por isso que é cada vez mais difícil encontrar dinheiro na cidade", diz Roman, um aposentado que acabara de encontrar a porta do DeltaBank fechada.
Na entrada deste banco e de outros dois nas proximidades, um cartaz anuncia laconicamente seu fechamento "devido à instabilidade na região".
Diploma reconhecido por quem?
Enquanto a maioria das lojas e restaurantes continua a funcionar normalmente, outras preferiram suspender as suas atividades, incluindo as redes de fast food americanas.
As autoridades pró-russas de Donetsk não parecem capazes de controlar os vários grupos armados, às vezes rivais, que coexistem. Além disso, as informações oficial dificilmente chegam à população.
"Nós não sabemos o que está acontecendo, Na terça-feira, as novas autoridades anunciaram que um toque de recolher seria imposto na cidade das 22h00 às 06h00. No dia seguinte, as mesmas autoridades disseram que isso não era verdade", suspira Tatiana Nikolaevna, uma advogada de 58 anos.
"No trabalho, perguntamos aos nossos chefes qual lei deveríamos aplicar, a lei da Ucrânia ou a lei russa. Ninguém sabe", acrescenta.
Terça-feira, o líder rebelde Denis Puchiline anunciou que o território separatista adotaria a legislação russa.
A ansiedade e a incerteza também afetam o setor da educação. "Minha filha terminou os seus estudos universitários. Ela terá um diploma ucraniano ou um da República de Donetsk, que não é reconhecido por ninguém?", disse Roman, um pai de 45 anos que não quis dar seu sobrenome e que pensa seriamente em deixar Donetsk, onde nasceu e vive até agora.