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Índios denunciam máfias que ameaçam e matam nativos

Líderes indígenas brasileiros e peruanos assassinados em setembro denunciaram a presença de quadrilhas de madeireiros ilegais, que matam e ameaçam nativos

O líder indígena brasileiro Isaac Piyaco fala durante coletiva de imprensa na COP20, em Lima (Eitan Abramovich/AFP)

O líder indígena brasileiro Isaac Piyaco fala durante coletiva de imprensa na COP20, em Lima (Eitan Abramovich/AFP)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2014 às 21h28.

Lima - Líderes indígenas brasileiros e esposas de ashaninkas peruanos assassinados em setembro denunciaram nesta quarta-feira a presença de quadrilhas de madeireiros ilegais na fronteira, que matam e ameaçam nativos para que abandonem suas terras.

"São máfias presentes no lado peruano - totalmente desprotegido - que estão matando líderes como os quatro da comunidade ashaninka peruana de Saweto", disse em coletiva de imprensa Francisco Piyako, líder da comunidade ashaninka brasileira de Apiwtxa, localizada no Acre, na fronteira entre Brasil e Peru.

Piyako reforçou que sua comunidade se solidariza com as viúvas em seu apelo ao governo para que se investigue a morte de seus maridos e para que lhes sejam entregues os títulos de suas terras.

O assassinato dos líderes peruanos de Saweto, localizada nas cabeceiras do Rio Tamaya, ocorreram no dia 1º de setembro e seus corpos foram encontrados em lugares diferentes. Dois deles continuam desaparecidos, apesar da morte dos quatro ter sido confirmada pelas autoridades.

Os ashaninkas protegiam os recursos naturais das máfias de madeireiros ilegais instaladas na zona fronteiriça entre Brasil e Peru.

"Nós somos irmãos, não existe fronteira. Estamos preocupados com a situação da comunidade de Saweto, que não recebe ajuda do governo e de mais ninguém", disse Piyako.

Isaac Piyako, outro líder de Apiwtxa, disse que a forma como os indígenas têm de enfrentar essas máfias é obtendo a titulação das terras, como aconteceu no Brasil quando, em 1992, deram-lhes os documentos e desde então receberam proteção do Estado.

Ergilia Engrifo, esposa do líder assassinado Jorge Ríos, disse que, depois da morte de seus familiares, receberam "apenas promessas".

"A presidenta do Conselho de Ministros, Ana Jara, disse-lhes que em dez dias entregaria a titulação de suas terras e os culpados pelas mortes", contou. Isso "nunca aconteceu. Estamos há semanas em Lima exigindo justiça e ajuda para nosso povo, mas o governo não nos recebe".

Também a acompanhavam Julia Pérez, esposa do líder indígena Edwin Chota, Adelina Vargas, esposa de Francisco Pinedo e Lita roja, de Leoncio Quincima.

Os extratores ilegais, muitos de nacionalidade peruana e brasileira, entram nas áreas peruanas sob domínio indígena para extrair madeira, desenvolvendo suas atividades mediante ameaças às comunidades, disse o americano David Salisbury, antropólogo e geólogo que trabalha com as comunidades da Amazônia.

"A situação se agrava por falta de titulação das terras. No lado brasileiro não há problema porque os Apiwtxa têm títulos, meios de comunicação, postos de saúde, policial e militar, internet e escolas", disse.

A coletiva de imprensa foi organizada pela Rainforest Foundation US em um marco da Conferência das Partes (COP20) das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece em Lima e reúne representantes de 195 países.

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