Ativistas protestam contra sequestro de meninas na Nigéria: Boko Haram considera jovens sequestradas como escravas (Pius Utomi Ekpei/AFP)
Da Redação
Publicado em 6 de maio de 2014 às 14h33.
Kano - A comunidade internacional subiu o tom nesta terça-feira contra o grupo islamita nigeriano Boko Haram, que sequestrou mais de 200 meninas há três semanas e ameaça vendê-las como escravas.
Em um vídeo recebido pela AFP na segunda-feira, Abubakar Shekau, líder do grupo que matou milhares de pessoas desde o início de sua rebelião, há cinco anos, reivindicou o sequestro, ocorrido no dia 14 de abril no distrito de Chibok, no estado de Borno (nordeste).
No vídeo, Shekau declarou: "Por Alá que as venderei no mercado", acrescentando que o Boko Haram as considera como escravas.
"Estivemos todo este tempo imaginando o que poderia ocorrer com nossas filhas estando nas mãos desta gentalha", declarou à AFP desde Chibok Lawal Zanna, cuja filha está entre as 223 sequestradas.
"Agora Shekau confirmou nossos temores", afirmou.
O crime chamou a atenção da ONU e dos Estados Unidos, onde alguns senadores pediram inclusive uma intervenção.
"Não podemos fechar os olhos diante da evidência da barbaridade que está ocorrendo diante de nós na Nigéria", declarou a senadora democrata Amu Klobuchar na segunda-feira.
O ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, declarou nesta terça-feira que Londres está oferecendo à Nigéria ajuda prática para a libertação das meninas.
Com um tom mais ousado, a ONU avisou o grupo islamita de que o sequestro poderia ser um crime contra a humanidade.
"A legislação internacional proíbe absolutamente a escravidão, seja sexual ou não. Estes atos podem constituir, sob certas circunstâncias, um crime contra a humanidade", declarou Rupert Colville, porta-voz da Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay.
Já a atriz Angelina Jolie condenou como uma "crueldade inimaginável e do mal" o sequestro das adolescentes, durante uma entrevista em Paris sobre seu mais novo filme, "Malévola", da Disney.
"Infelizmente, é claro que existe mal de verdade no mundo, você assiste às notícias e vê todas as pessoas que sofrem e tanta crueldade", declarou.
"E é uma crueldade inimaginável, como essas meninas que foram sequestradas na Nigéria. Crueldade inimaginável e do mal", acrescentou.
O grupo islamita sequestrou 276 adolescentes estudantes em Chiboks. Delas, 223 continuam em cativeiro, enquanto outras 53 conseguiram escapar, segundo a polícia.
Uma angústia insuportável
Os pais das meninas criticaram a atuação do exército, e acreditam que, no início, ele não agiu com a urgência que a situação exigia.
Os militares se defendem declarando ter lançado uma ampla operação de busca, incluindo na selva de Sambisa, no estado de Borno, onde o Boko Haram tem acampamentos fortificados.
O Departamento de Estado americano declarou na segunda-feira que havia indícios de que as meninas poderiam ter sido levadas a países vizinhos.
Moradores da região declararam, sem que a informação pudesse ser confirmada, que algumas das meninas haviam sido vendidas a combatentes islamitas como futuras esposas no Camarões e no Chade.
Enoch Mark, muito crítico ao governo desde que sua filha foi sequestrada, declarou que o exército continua sem fazer o suficiente.
"Os membros do Boko Haram não são espíritos nem criaturas extraterrestres que não podem ser seguidos e dominados', declarou com sarcasmo à AFP.
"O governo deveria encontrar nossas filhas ou, se não for capaz, pedir ajuda internacional", acrescentou. "A angústia e o trauma que isto gera aos pais estão se tornando insuportáveis".
Mark advertiu ao governo que, se ele não conseguir resgatar as meninas, os islamitas podem ganhar confiança e sequestrar outras pessoas.
"Se as meninas não forem resgatadas, isso pode ser o início de mais sequestros e da anarquia", disse.
"Agora foi em Chibok, mas quem sabe onde será amanha?", se perguntou.