Amazônia: estatal Petroequador, acusada de não ter alertado sobre o vazamento, entregou quase meio milhão de litros de água às comunidades em abril e realiza uma remediação ambiental que vai durar até julho (Sergi Reboredo/Getty Images)
AFP
Publicado em 5 de maio de 2020 às 15h36.
Dezenas de comunidades indígenas da Amazônia equatoriana exigem atenção das autoridades e empresas de petróleo para lidar com a contaminação de três rios que lhes fornecem água e pesca, devido a um vazamento de petróleo em plena pandemia de coronavírus.
Um deslizamento em 7 de abril destruiu três oleodutos, causando a fuga de cerca de 15.000 barris de petróleo e combustível, segundo dados oficiais, que foram despejados em rios como o Napo, um dos principais afluentes do Amazonas.
"Famílias, avós e mulheres que vivem nas margens estão sem comida, não têm onde tomar banho, não têm onde pegar água para beber", contou por telefone à AFP Marcia Andi, presidente da comunidade kichwa Mushuk Llacta, na província petrolífera de Orellana (leste e fronteira com o Peru).
De acordo com María Espinosa, advogada da ONG Amazon Frontlines que acompanha os indígenas da Amazônia, cerca de 27.000 indígenas kichwa e shuar que se estabeleceram nas margens dos rios Coca e Napo foram afetados pela contaminação, que ainda persiste quase um mês depois.
A estatal Petroequador, responsável pelo oleoduto que transporta 360.000 barris por dia (bd) e que já foi reparado, informou que 59 comunidades foram prejudicadas, às quais fornece água engarrafada.
A entidade, acusada de não ter alertado a tempo sobre o vazamento, entregou quase meio milhão de litros de água em abril. Além disso, realiza uma remediação ambiental que dura até julho e inclui o rio Quijos, outro dos afetados.
O vazamento de petróleo ocorreu em meio à emergência pelo coronavírus, que fez do Equador uma de suas maiores vítimas na América Latina, com cerca de 32.000 casos e mais de 1.500 mortes.
A crise da saúde levou as autoridades a suspender o trabalho presencial e as aulas por oito semanas e implantar o toque de recolher de 15 horas diárias para forçar o confinamento.
Após detectar as manchas pretas e oleosas de petróleo no rio Coca, Holger Gallo, presidente da comunidade kichwa Panduyaku, antecipou em abril que os moradores "encontraram peixes mortos, o que sugere que a fauna aquática do rio foi exterminada", sem que haja, até o momento, um pronunciamento oficial à respeito.
Diante da afetação, inclusive à saúde das pessoas, as comunidades entraram com uma ação de proteção contra o Estado e as empresas que operam os oleodutos perante um tribunal da Amazônia.
Os prejudicados demandam "que sejam geradas medidas imediatas para garantir que as pessoas (afetadas) tenham abastecimento de água, comida e acesso à saúde", enfatizou Espinosa à AFP.