Manifestantes indianos queimam bandeira da China: conflito entre os países neste mês acirrou os ânimos, mas, desde o começo da pandemia, indianos já culpavam chineses por coronavírus (Rupak De Chowdhuri/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 22 de junho de 2020 às 10h28.
Última atualização em 22 de junho de 2020 às 12h42.
Um movimento nas redes sociais da Índia pede à população que boicote celulares e outros produtos chineses, com postagens que incluem imagens de indianos esmagando celulares com os pés.
O conflito entre os dois países, que é histórico, se intensificou depois de um confronto na fronteira entre Índia e China no último dia 16 de junho. O episódio, na região do Himalaia, deixou 20 militares indianos mortos.
Mesmo antes do conflito na fronteira, indianos já vinham culpando a China por, segundo parte da população, ser responsável pelo surgimento do novo coronavírus -- acusação que não é validada por autoridades de saúde, como a Organização Mundial da Saúde, mas que já foi feita por outros líderes mundiais, como o presidente americano, Donald Trump.
Diversas postagens pedindo boicote a celulares chineses e esmagando os aparelhos datam ainda das primeiras semanas da pandemia. Televisões sendo quebradas também aparecem nos vídeos. Hashtags como "#BoicoteChina" e "#BoicoteProdutosChineses" circulam nas redes indianas nos últimos meses, mas os protestos se intensificaram após o confronto na fronteira.
Na semana passada, em protestos de rua devido à morte dos soldados indianos, manifestantes também quebraram vidraças de lojas vendendo produtos chineses em algumas cidades da Índia.
O problema, para os indianos, é que boicotar os celulares chineses será uma tarefa difícil. Na Índia, 80% dos celulares vendidos são fabricados na China. A líder é a Xiaomi, seguida pela Vivo, ambas chinesas.
Segundo a consultoria Counterpoint Research, entre as cinco marcas mais vendidas no primeiro trimestre de 2020, a única não-chinesa é a sul-coreana Samsung. A Samsung respondeu no período por 16% dos aparelhos vendidos, ante 17% da Vivo e 30% da Xiaomi.
O confronto na semana passada elevou a temperatura entre os dois países, potências nucleares e donas das maiores populações do planeta. Índia e China disputam há décadas essa região e entraram em guerra em razão disso em 1962. O local do embate é conhecido como Linha de Controle Real e fica no vale de Galwan (Ladakh). Faz parte da Caxemira, uma área altamente militarizada e disputada, e é uma fronteira comum de cerca de 3.500 quilômetros.