A maioria das jovens pertence à casta dos dalits, a mais baixa, e são recrutadas sob um sistema conhecido como 'Sumangali' (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 10 de junho de 2011 às 06h41.
Nova Délhi - Milhares de jovens indianas trabalham sob um regime de escravidão em empresas têxteis com a promessa de que ao terminar os três anos de contrato receberão dinheiro suficiente para pagar o dote de seu casamento.
A denúncia da situação foi feita pela organização holandesa Centro de Pesquisa de Empresas Multinacionais (Somo, na sigla em holandês), em colaboração com o Comitê da Holanda para a Índia (ICN), em um relatório que divulgado recentemente sob o título "Presas pelo algodão".
Os fabricantes indianos produzem estes artigos no estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, para importantes marcas estrangeiras como Bestseller, Diesel, Gap, Inditex (Zara), El Corte Inglés e Cortefiel.
Embora algumas destas companhias tenham tomado "uma atitude no assunto", um grande número de "práticas abusivas continuam sendo adotadas", aponta o estudo.
A maioria das jovens pertence à casta dos dalits, a mais baixa, e são recrutadas sob um sistema conhecido como 'Sumangali'.
Trata-se da palavra tâmil para se referir a uma mulher feliz no casamento e que vive com seu marido uma vida abençoada e plena, algo que está relacionado com o pagamento do dote.
As meninas 'sumangali' são recrutadas com a promessa de um salário decente e um alojamento confortável, além do incentivo de receberem uma soma considerável de dinheiro após a finalização do período de trabalho, que varia entre 400 e 800 euros, que a jovem usará para pagar o dote, o único modo de famílias pobres conseguirem casar suas filhas.
Segundo a Somo, nos últimos 10 anos mais de 120 mil mulheres foram empregadas desta forma, em sua maioria em caráter temporário (entre 60% e 80%), para "evitar que se organizem e queiram lutar por seus direitos".
Além disso, um estudo da Universidade indiana Bharathidasan, mencionado no relatório, indica que entre 10% e 20% das trabalhadoras tinham entre 12 a 14 anos quando foram contratadas, "algo denunciável como exploração infantil".
Monika, que tinha 13 anos quando começou a trabalhar nessas condições e 15 quando foi entrevistada pela Somo, disse: "Ninguém vai trabalhar lá porque quer, algumas fazem porque os pais obrigam e outras pelas necessidades familiares".
"As mulheres recebem a promessa de que terão boas condições de trabalho e alojamento, algo que não acontece porque trabalham demais e são confinadas durante o tempo restante em um centro de hospedagem", denunciou à Efe a ativista indiana Pallvi Mansingh.
"Nas raras ocasiões em que têm permissão para sair, sempre vão acompanhadas, sem poder falar com ninguém de fora da empresa", acrescentou Mansingh, diretora do Centro para a Educação e a Comunicação em Nova Délhi.
"Seu único contato verbal com o exterior são as visitas, esporádicas, de seus pais", concluiu a ativista.
A experiência de Prithi, de 19 anos e narrada em uma entrevista à Somo, exemplifica as difíceis condições nas quais as jovens de Tamil Nadu trabalham.
"Completei os três anos e me deram 30 mil rúpias (aproximadamente 450 euros). Quando terminei, estava muito doente e ao descobrir que tinha uma bola de algodão no estômago - por inalá-lo durante o trabalho - tive que ser operada", explicou.
E acrescentou: "Gastei todo o dinheiro que tinha nas despesas médicas e meus pais tiveram que cancelar meu casamento por não poderem pagar o dote".