Índia: quase 40 mil casos de estupro foram registrados em 2016 (Amit Dave/File Photo/Reuters)
AFP
Publicado em 7 de maio de 2018 às 10h41.
Uma adolescente indiana lutava por sua vida, nesta segunda-feira (7), depois de ter sido estuprada e queimada - anunciou a Polícia, no segundo caso deste tipo no país na última semana.
"A jovem sofreu queimaduras de primeiro grau em 70% do corpo", disse à AFP Shailendra Barnwal, comandante da Polícia no distrito de Pakur, no estado de Jharkhand, leste do país.
As forças de segurança prenderam um jovem de 19 anos que mora no mesmo bairro da vítima, que tem 17 anos.
"Ele jogou querosene na adolescente e a queimou", relatou Barnwal.
O ataque aconteceu na sexta-feira (4), no mesmo dia e região em que uma adolescente de 16 anos foi estuprada e queimada viva.
O principal suspeito deste caso, que escandalizou a opinião pública, e o chefe da aldeia, na qual aconteceu o crime, foram detidos. A família da vítima está sob proteção especial da Polícia.
A jovem do distrito de Chatra foi sequestrada em sua casa na quinta-feira passada enquanto sua família estava em um casamento. Ela foi estuprada em uma floresta.
A família apresentou uma denúncia ao conselho de anciãos da aldeia, que na sexta-feira ordenou que dois acusados fizessem uma centena de abdominais e pagassem uma multa de 50.000 rúpias (750 dólares).
Furiosos com a sentença, Dhanu Bhuiyan e outros suspeitos espancaram os pais da menina e incendiaram sua casa com a jovem dentro da residência.
Os crimes foram registrados após uma série de agressões sexuais brutais contra mulheres na Índia, apesar de uma legislação mais rígida para os crimes.
Essas tragédias acontecem no momento de endurecimento da legislação, depois que um estupro coletivo cometido em Nova Délhi, em 2012, chocou o planeta.
O governo instituiu a pena de morte para estupradores de menores de 12 anos após o estupro e assassinato de uma menina muçulmana de 8 anos em Kathua, no estado de Jammu e Caxemira (norte). O crime foi cometido por moradores hindus da localidade.
Segundo a Polícia, o crime tinha uma dimensão política, ilustrando as tensões intercomunitárias na Índia, onde os nacionalistas hindus do premiê Narendra Modi estão no poder desde 2014.
De acordo com as conclusões da investigação, moradores da maioria hindu da região de Jammu estupraram e mataram a menina para aterrorizar sua comunidade muçulmana nômade e forçá-los a deixar a área.
A prisão de oito suspeitos deflagrou manifestações de hindus, denunciando que a investigação da Polícia estava enviesada.
Sinal do contexto explosivo, no mês passado, a Suprema Corte colocou sob proteção policial a família da vítima e seu advogado, que disse ter recebido ameaças de morte.
Em uma nova decisão nesta segunda, a mais alta corte desse país de 1,25 bilhão de habitantes determinou a transferência do processo de Kathua para Pathankot, cidade vizinha, mas administrativamente situada em outro estado.
Em 2016, quase 40 mil estupros foram registrados na Índia. Esse número seria muito maior, de acordo com especialistas, já que o silêncio ainda impera no que diz respeito a este tipo de crime em uma sociedade que continua sendo muito patriarcal.