Mundo

Índia lança sistema para vigiar comunicações de cidadãos

O Sistema de Monitoração Central (SMC) oferece às agências de segurança indianas uma 'única janela' para 'interceptar legalmente internet e telefones'


	Monitoramento: sistema indiano é similar ao polêmico Prism, dos Estados Unidos
 (Mikhail Popov/Stock Exchange)

Monitoramento: sistema indiano é similar ao polêmico Prism, dos Estados Unidos (Mikhail Popov/Stock Exchange)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de junho de 2013 às 09h46.

Nova Délhi - A Índia lançou um sistema de monitoração de ligações, mensagens, e-mails e conversas de redes sociais parecido ao programa de espionagem das telecomunicações do escândalo dos Estados Unidos.

O Sistema de Monitoração Central (SMC) oferece às agências de segurança indianas uma 'única janela' para 'interceptar legalmente internet e telefones', segundo o relatório anual de 2013 do Departamento de Telecomunicações da Índia.

O SMC começou a colocar em andamento em maio sem um debate público ou parlamentar, seu quartel-general fica em Nova Délhi e tem um orçamento de US$ 73 milhões, segundo a imprensa local.

Até agora, as agências de segurança indianas tinham que realizar pedidos individuais às companhias de telecomunicações para monitorar a atividade de uma pessoa.

Mas o novo sistema, ao qual estão conectadas as companhias de telefone e internet, permite às agências de segurança monitorar, interceptar e analisar qualquer comunicação diretamente.

Tudo isso em nome da segurança nacional e a privacidade dos cidadãos.

'O SMC vai salvaguardar a privacidade das pessoas dos operadores de telecomunicações e protegerá a segurança nacional', afirmou o secretário de Estado de Tecnologias da Informação e Comunicação, Milind Deora, em um recente encontro online com internautas.

Mas a falta de transparência do sistema, do qual se divulgou pouca informação, e os possíveis abusos da privacidade dos cidadãos despertaram as críticas de defensores das liberdades civis.

'O Governo indiano deu a si mesmo poderes sem precedentes para vigiar as comunicações', disse à Agência Efe o advogado Pavan Duggal, especializado em internet e telecomunicações.

'As possibilidades de abuso são tremendas', assegurou.

Duggal explicou que as emendas às leis indianas de 2000 e 2008 - após o ataque terrorista em Mumbai que causou 166 mortos - permitiam ao Governo a monitoração das comunicações, que agora dispõe dos meios técnicos.

O advogado afirmou que embora a Constituição indiana estabeleça o direito à privacidade, não existe uma lei que o regule e de fato a legislação do país decreta que a segurança e integridade nacional prevalecem sobre a privacidade de um indivíduo.

As críticas em relação a este sistema de vigilância pouco transparente também chegaram do exterior.

'O sistema de monitoração do Governo indiano é apavorante, tendo em vista o uso irresponsável e imprudente das leis de internet e de distúrbios', disse em comunicado Cynthia Wong, pesquisadora da organização Human Rights Watch.

É que o Governo da Índia - uma gerontocracia em um país com a metade de sua população com menos de 25 anos -, mantém uma relação difícil com as novas tecnologias.

Nos últimos anos as autoridades indianas receberam críticas por causa de suas tentativas de regular a internet.

Em 2011, o Governo indiano estabeleceu que as companhias de internet devem eliminar conteúdos ofensivos em um prazo de 36 horas.

Assim, os gigantes Google e Facebook estão nos tribunais indianos por supostamente se negar a apagar conteúdos inapropriados, e pessoas foram detidas por criticar o Governo em redes sociais.

Além disso, o Governo manteve uma queda de braço durante quatro anos com a Research In Motion, fabricante dos telefones BlackBerry, para poder ter acesso a seu correio corporativo.

A Índia assegura que conseguiu o método para interceptar as mensagens de BlackBerry sem que a companhia proporcione os códigos de segurança.

O lançamento do SMC coincide com o escândalo da espionagem das telecomunicações nos EUA reveladas pelo ex-membro da CIA Edward Snowden ao jornal britânico 'The Guardian'.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores indiano, Syed Akbaruddin, se mostrou 'preocupado e surpreso' que a agência de inteligência americana interceptasse informação de forma secreta.

'Consideraríamos inaceitável se fosse descoberto que as leis indianas acerca da privacidade foram violadas', disse o porta-voz em referência à informação de 'The Guardian' que sustenta que a Índia é o quinto país mais espionado pelos EUA. EFE

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaCensuraÍndiaLiberdade de imprensa

Mais de Mundo

Trump nomeia Chris Wright, executivo de petróleo, como secretário do Departamento de Energia

Milei se reunirá com Xi Jinping durante cúpula do G20

Lula encontra Guterres e defende continuidade do G20 Social

Venezuela liberta 10 detidos durante protestos pós-eleições