Teste de covid-19 em Mumbai, na Índia: embora ainda baixo pelo tamanho da população, número de mortes e casos vem crescendo (Ashish Vaishnav/SOPA Images/Sipa USA/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de abril de 2021 às 07h56.
Última atualização em 20 de abril de 2021 às 07h57.
Pressionado por uma onda de novos contágios, o governo da Índia colocou os mais de 20 milhões de habitantes da capital Nova Délhi em lockdown de uma semana. Autoridades indianas registraram nesta segunda-feira, 19, um recorde de 273.810 novas infecções em 24 horas, o quinto dia consecutivo com mais de 200 mil casos.
Apenas em Nova Délhi, 25,5 mil novos casos foram registrados no domingo. "Se não impusermos um lockdown agora, enfrentaremos um grande desastre", anunciou o chefe do governo local, Arvind Kejriwal. "Foi uma decisão difícil de tomar, mas não havia alternativa. O sistema de saúde da capital está prestes a entrar em colapso. A situação é crítica."
O isolamento da capital começa a partir da meia-noite de hoje (15h30 de ontem em Brasília) e será válido por uma semana. Apenas farmácias e mercados ficarão abertos. Apenas 50 pessoas serão permitidas em casamentos e até 20 pessoas em funerais. Todas as reuniões sociais, políticas e religiosas foram proibidas - eventos esportivos, sem a presença de público, no entanto, estão liberados.
Os hospitais da capital se queixam da falta de leitos - a ocupação das vagas de UTI passa de 97%. Diante da escassez de medicamentos, o governo indiano limitou o uso industrial de oxigênio para redirecioná-lo ao uso médico.
Oferta e demanda
A Índia é o maior produtor mundial de medicamentos e vacinas. Sua campanha de imunização começou no dia 16 de janeiro e atualmente os indianos dispõem de duas vacinas feitas localmente: o laboratório Bharat Biotech é capaz de produzir 12 milhões de doses por mês da Covaxin e o Instituto Serum, o maior produtor de imunizantes do mundo, pode fabricar até 100 milhões de doses por mês da Covishield, a vacina da Oxford/AstraZeneca.
Mas, até agora, o país de 1,3 bilhão de habitantes já aplicou duas doses em apenas 15,5 milhões de pessoas e uma dose em 90 milhões. Alguns dados são preocupantes. Na semana entre 3 e 9 de abril, foram 22,6 milhões de doses aplicadas. Na semana seguinte o número caiu para 18 milhões, indicando que a Índia estaria com problemas na oferta de imunizantes.
Por isso, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, suspendeu ontem as tarifas de importação e acertou a compra de novos lotes da Sputnik V, a vacina russa. O governo indiano fez ainda um pedido para que Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson vendam mais doses para a Índia.
Medidas radicais
Uma fonte do governo indiano, ouvida ontem pela agência Reuters, que pediu anonimato, afirmou que Modi analisa ainda a possibilidade de liberar a importação de vacinas por empresas privadas, sem a intervenção do governo. Para acelerar a imunização, autoridades indianas anunciaram que todas as pessoas acima de 18 anos estarão elegíveis para receber a vacina a partir de 1.º de maio.
Os fabricantes de vacinas também foram instruídos a fornecer 50% de suas doses mensais ao Laboratório Central de Medicamentos (CDL, na sigla em inglês), chefiado pelo governo da Índia, e oferecer o restante aos governos estaduais e ao mercado aberto.
A medida foi tomada porque muitos Estados vêm enfrentando escassez de imunizantes, sendo obrigados a suspender as campanhas de vacinação em várias regiões do país.
A situação da pandemia na Índia é importante para determinar a oferta de imunizantes em outras partes do mundo. Em março, o Instituto Serum avisou que atrasaria o envio de doses prontas da vacina de Oxford para a Fiocruz e alertou que deve atrasar as entregas de vacinas para o consórcio global Covax - uma coalizão de organizações internacionais apoiada pela OMS.
Mas o impacto vai além das vacinas. A Índia também proibiu a exportação do remdesivir, antiviral contra a covid-19, e de insumos farmacêuticos utilizados para a produção do medicamento. O remdesivir pode acelerar a recuperação de pacientes infectados com o coronavírus e é o único remédio recomendado para o tratamento no Brasil com aprovação da Anvisa. (Com agências internacionais).