Venizelos anunciou o fracasso dos contatos com o Syriza (Louisa Gouliamaki/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de maio de 2012 às 21h31.
Atenas - A Grécia continua imersa na incerteza política, sem saber se terá um governo de coalizão ou se deverá reeditar o processo eleitoral, após o fracasso das tentativas dos esquerdistas gregos para formar o Poder Executivo.
Segundo maior partido político na atual composição do Parlamento, a Coalizão da Esquerda Radical (Syriza), com 52 deputados e atual encarregada de formar um governo, se reuniu com o resto das formações políticas, mas a grande atomização do novo Legislativo eleito no domingo passado dificulta a tarefa de buscar alianças.
O atual Parlamento está dominado, em ordem decrescente, pelos partidos Nova Democracia (ND, com 108 deputados, 50 de presente por ter sido a força mais votada); Syriza (52); o social-democrata Pasok (41); o nacionalista Gregos Independentes (33); o Partido Comunista (26); os neonazistas do Amanhecer Dourado (21); e os centro-esquerdistas do Dimar (19).
O líder do Syriza, Alexis Tsipras, se reuniu nesta quarta-feira com nacionalistas, social-democratas e conservadores, mas também não alcançou o apoio para criar um governo oposto ao memorando de austeridade patrocinado por Bruxelas.
''Os 52 deputados do Syriza, os 33 do Gregos Independentes e os 19 do Fotis Kouvelis (líder do Dimar) não nos permitem sequer formar um governo de minoria contra o memorando'', explicou Panos Kammenos, líder do nacionalista Gregos Independentes após seu encontro com Tsipras.
Mais tarde, durante as negociações com o líder do Pasok, Evangelos Venizelos, este propôs ao Syriza a possibilidade de um pacto entre ND, Pasok e Dimar, que juntos somam 149 deputados, dois a menos que a maioria absoluta.
Mas tanto o Syriza como o Dimar se negam a apoiar os partidos tradicionais (o conservador ND e o socialista Pasok) caso estes não renunciem ao memorando, ao que os gregos culpam da grande piora de suas condições de vida nos últimos anos.
O político social-democrata mencionou inclusive a possibilidade de manifestar apoio externo a um governo em minoria do Syriza, Dimar e Gregos Independentes desde que aceitem manter o país na zona do euro, mas nem sequer assim se chega aos deputados necessários para a maioria absoluta.
Após a reunião, Venizelos anunciou o fracasso dos contatos com o Syriza e disse que, nesta quinta-feira, como líder da terceira força política mais votada, receberá a incumbência de formar governo a pedido do presidente da República, Karolos Papoulias.
''Neste sentido, a incumbência que o presidente da República dará amanhã ao Pasok para formar governo pode ser muito importante, pois é necessário que o debate continue'', explicou em entrevista coletiva o ex-ministro das Finanças. ''O povo grego quer estabilidade, um governo que dê soluções e não leve o país às eleições nem provoque a saída do euro''.
Propostas semelhantes às do Pasok fez o líder da ND, Antonis Samaras, que afirmou após a reunião que inclusive se mostrou disposto ''a apoiar um governo de minoria para negociar mudanças do memorando sob a condição de que o país não saia da zona do euro''.
Em relação a este ponto e contra as advertências feitas à Grécia nos últimos dias, Samaras disse que a necessidade de mudanças nas medidas de austeridade impostas por Bruxelas ''é cada dia mais óbvia''.
Mas advertiu que o programa político do Syriza ''não é renegociar o memorando, mas fazer o país sair da zona do euro'', algo que considerou inaceitável. ''Nós somos a única força política que pode renegociar o memorando permanecendo na zona do euro, e faremos isso''.
Se nos próximos dias o Pasok de Venizelos não conseguir pactuar as alianças suficientes para um Executivo, o presidente da República terá de se reunir com os líderes de todos os partidos com representação parlamentar para buscar um governo de união nacional. Caso tampouco isto funcione, serão convocadas novas eleições no prazo de um mês.
Em mensagem considerada chave eleitoral, Samaras já fez nesta quarta-feira um apelo à criação de uma ''frente de centro-direita''.
O problema é que os líderes de todos os partidos, desde a centro-direita liberal até a extrema-direita (com exceção dos neonazistas), são ex-membros da ND expulsos por suas desavenças com os chefes do principal partido conservador e, portanto, as diferenças pessoais parecem insolúveis.