Ano passado foi o mais quente já registrado na Coreia do Sul (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 26 de março de 2025 às 09h52.
Última atualização em 26 de março de 2025 às 09h54.
Um dos piores surtos de incêndios florestais na história da Coreia do Sul matou pelo menos 24 pessoas, informaram autoridades nesta quarta-feira, com múltiplos focos de incêndio causando "danos sem precedentes" e ameaçando dois locais listados como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
Mais de uma dúzia de incêndios irromperam no fim de semana, queimando vastas áreas do sudeste do país e forçando cerca de 27.000 pessoas a evacuarem urgentemente. O fogo cortou estradas e derrubou linhas de comunicação, enquanto moradores fugiam em pânico.
O número de mortos subiu para 24 nesta quarta-feira, à medida que chamas impulsionadas pelo vento devastavam bairros e destruíam um templo antigo.
"Vinte e quatro pessoas estão confirmadas como mortas nos incêndios florestais até agora", disse um funcionário do Ministério do Interior e Segurança à AFP, acrescentando que 12 pessoas ficaram gravemente feridas e que os números são "preliminares", podendo aumentar.
A maioria das vítimas era residente local, mas pelo menos três bombeiros morreram e um piloto de helicóptero de combate a incêndios faleceu quando sua aeronave caiu em uma área montanhosa, informaram as autoridades.
De acordo com o Ministério do Interior, os incêndios já queimaram 17.398 hectares (42.991 acres), sendo que o fogo no condado de Uiseong representa sozinho 87% dessa área. A extensão dos danos já faz desse o segundo maior incêndio da história do país, atrás apenas do ocorrido em abril de 2000, que devastou 23.913 hectares na costa leste.
O governo elevou o alerta de crise para o nível mais alto e tomou a medida incomum de transferir alguns detentos das prisões na região. "Os incêndios florestais, que queimam pelo quinto dia consecutivo, estão causando danos sem precedentes", disse o presidente interino da Coreia do Sul, Han Duck-soo.
Ele afirmou, durante uma reunião de emergência sobre segurança e desastres, que os incêndios estavam "se desenvolvendo de uma maneira que supera tanto os modelos preditivos existentes quanto as expectativas anteriores". "Durante toda a noite, o caos continuou, com cortes de energia e de comunicações em várias áreas e estradas bloqueadas", acrescentou.
Na cidade de Andong, alguns evacuados abrigados no ginásio de uma escola primária disseram à AFP que tiveram que fugir tão rapidamente que não puderam levar nada consigo. "O vento estava muito forte", relatou Kwon So-han, um morador de Andong de 79 anos, à AFP, acrescentando que, assim que recebeu a ordem de evacuação, partiu imediatamente.
As autoridades estavam utilizando helicópteros para combater os incêndios, mas suspenderam todas as operações aéreas após a queda de uma aeronave nesta quarta-feira, que matou o piloto. As autoridades disseram que as mudanças nos padrões do vento e o clima seco demonstraram as limitações dos métodos convencionais de combate ao fogo.
Os incêndios são "os mais devastadores" já registrados na Coreia do Sul, afirmou o presidente interino Han.
Até esta quarta-feira, dois locais listados como patrimônio da UNESCO e populares entre os turistas — a histórica Vila Folclórica de Hahoe e a academia Confucionista Byeongsan Seowon — estavam sob ameaça. As autoridades informaram que o incêndio estava a apenas cinco quilômetros de Hahoe, uma vila onde algumas casas têm telhados de palha.
Bombeiros também estavam de prontidão em Byeongsan Seowon, conhecida por suas academias antigas em estilo pavilhão.
Grandes colunas de fumaça tornaram o céu cinza sobre a vila e enormes pedaços de cinzas flutuavam no ar, relataram repórteres da AFP, enquanto caminhões de bombeiros despejavam água e retardantes de fogo no local histórico, em uma tentativa desesperada de salvá-lo.
O ano passado foi o mais quente já registrado na Coreia do Sul, segundo a Administração Meteorológica Coreana, com uma temperatura média anual de 14,5 graus Celsius — dois graus acima da média dos 30 anos anteriores, que era de 12,5 graus.
A região atingida pelos incêndios vinha enfrentando um clima incomumente seco, com precipitações abaixo da média, disseram as autoridades. O país registrou mais do que o dobro do número de incêndios florestais este ano em comparação com o ano passado.
Alguns tipos de eventos climáticos extremos têm uma relação bem estabelecida com as mudanças climáticas, como ondas de calor e chuvas intensas.
Outros fenômenos, como incêndios florestais, secas, nevascas e tempestades tropicais, resultam de uma combinação de fatores complexos.
"Não podemos dizer que isso ocorre apenas devido às mudanças climáticas, mas elas estão afetando direta e indiretamente as transformações que estamos vivenciando agora. Isso é um fato incontestável", afirmou Yeh Sang-Wook, professor de climatologia da Universidade Hanyang, em Seul, à AFP.
"Os incêndios florestais se tornarão mais frequentes", acrescentou.
"À medida que a atmosfera se aquece devido às mudanças climáticas, a umidade do solo evapora mais facilmente, reduzindo a quantidade de água disponível no solo. Isso cria condições para que incêndios florestais ocorram com mais frequência."
O grande incêndio em Uiseong teria sido iniciado por uma pessoa que, ao cuidar de um túmulo familiar, acidentalmente deu início às chamas.
O agricultor de maçãs Cho Jae-oak contou à AFP que ele e sua esposa passaram o dia todo borrifando água ao redor de sua casa para protegê-la.
"Ficamos borrifando e protegendo. Quando o fogo estava queimando na montanha, bolas de fogo voavam para cá", disse ele, acrescentando que as chamas acabaram forçando-os a deixar o local.