Líder do Força Itália, Silvio Berlusconi; aliança costurada pelo veterano pode se consagrar a vencedora nas eleições gerais de domingo (Alessandro Bianchi/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 3 de março de 2018 às 06h00.
Última atualização em 3 de março de 2018 às 06h00.
São Paulo – Ah, Itália! Desde 1946, foram mais de 60 governos. Entre os seus seis últimos primeiros-ministros, cinco renunciaram antes do final do mandato e 60% da população está insatisfeita com forma como a democracia vem funcionando (ou não) no país.
É nesse clima de instabilidade que os italianos irão às urnas neste domingo (4) em eleições gerais para nomear os novos deputados e senadores. O pleito foi marcado no final de 2017, depois de o presidente do país, Sergio Mattarella, ter anunciado a dissolução do Parlamento com o aval do primeiro-ministro, Paolo Gentiloni.
O cenário na Itália, hoje, é complexo, assim como o seu sistema eleitoral. Abaixo, o site EXAME reuniu alguns dos principais pontos sobre essas eleições.
As turbulências políticas na Itália são antigas e resultado de diferentes fatores, entre econômicos e políticos. Mas a última, digamos, onda de turbulência começou nos idos de 2014, quando Enrico Letta, que assumiu o posto de primeiro-ministro em 2013, se demitiu do cargo depois da aprovação de um novo governo pelo seu Partido Democrata (PD).
Matteo Renzi (PD) entra em cena e se torna o primeiro-ministro mais jovem da Itália moderna, com planos de reformas políticas e econômicas, especialmente focadas na criação de emprego. Em 2016, a trapalhada: ao propor um referendo popular para aprovar uma reforma constitucional que visava tornar a máquina pública mais eficiente, Renzi prometeu renunciar na ocasião da derrota. Fracassou e cumpriu a promessa.
Desde então, Gentiloni (PD) atua como o primeiro-ministro da Itália. Agora, a comunidade internacional, especialmente a União Europeia, está de olhos abertos para os próximos capítulos da novela italiana. Terceira maior economia do bloco, a Itália ainda não conseguiu se recuperar da crise econômica de 2008 e o desemprego, hoje, está em 11%.
Bem, a esperança é a de que as eleições gerais estabilizem a crise política o país vem passando há anos para que se concentre no futuro. O pleito será, ainda, um importante teste para a nova lei eleitoral que foi aprovada em outubro passado e que acabou por se tornar uma fonte de ansiedade, uma vez que está será a primeira vez em que será colocada em ação.
Em linhas gerais, a legislação italiana agora combina regras de votação proporcional e maioria simples, o que deixou tudo um pouco mais complicado. Ao todo, serão escolhidos 630 nomes para a Câmara Baixa e 315 para o Senado. 232 deputados e 315 senadores serão eleitos por maioria simples, enquanto 386 deputados e 193 senadores pelo sistema proporcional. Cidadãos italianos que vivem fora do país elegerão 12 deputados e 6 senadores.
Para especialistas, embora esse sistema possa privilegiar partidos unidos em coalizão, tornará ainda mais difícil o surgimento de uma maioria de governo – um fator de extrema preocupação. Segundo a Reuters, para assegurar a maioria, o partido ou coalizão terá de obter ao menos 40% dos votos. Um cenário difícil de se delinear, ainda mais quando se lembra que nenhum dos candidatos chegou próximo disso nas pesquisas de opinião.
São dezenas de partidos, mas o eleitorado está basicamente dividido em três grupos: a coalizão centro-esquerda, que é liderada por Renzi, o anti-establishment Movimento 5 Estrelas (M5S), chefiado pelo jovem Luigi Di Maio, e o grupo centro-direita/extrema-direita que une o Forza Itália (FI, centro-direita), de Silvio Berlusconi (primeiro-ministro em quatro ocasiões), e o Liga do Norte (Liga, extrema-direita), de Matteo Salvini.
Espera-se que 50 milhões de pessoas compareçam às urnas e pesquisas mostram que, deste total, ao menos 10 milhões estão indecisas. As últimas projeções foram conduzidas até o dia 16 de fevereiro, já que a lei italiana proíbe a divulgação de pesquisas de opinião nos 15 dias anteriores ao pleito. Segundo esses resultados, a união Berlusconi/Salvini estaria com 37% das intenções de voto, o M5S com 28% e o grupo de centro-esquerda com 27%.
Vitória da coalizão centro-direita/extrema-direita
A coalizão reúne quatro partidos, entre eles o FI, de Berlusconi, que está proibido de assumir qualquer cargo público até 2019, uma condenação por fraude fiscal, e a Liga de Salvini. O partido que ficar com a liderança vai dirigir o governo.
Se for a FI, Berlusconi aposta em Antonio Tajani, presidente do Parlamento Europeu, para o cargo de primeiro-ministro (e ele já aceitou o convite para assumir o posto). Agora, se a Liga levar a melhor, Salvini será o chefe de governo, mas Berlusconi certamente terá uma voz ativa.
Grande coalizão
Berlusconi e Renzi ainda não podem se dar ao luxo de evocar um cenário de “grande aliança”, mas os membros de seus partidos já conversaram em algumas ocasiões. Em 2013, por exemplo, lembrou o site Votewatch, os membros da FI no Parlamento Europeu votaram em 74% dos casos como seus colegas do PD, mas apenas 36% das vezes como os da Liga, atual aliada.
Nada garante, porém, que esses grupos irão conseguir uma quantidade suficiente de cadeiras para garantir a maioria nas duas casas.
Uma outra coalizão poderia reunir eurocéticos, a Liga e o M5S, mas essa aliança hipotética tampouco tem garantia de que conseguirá a maioria. Vale lembrar que o M5S já disse em diversas ocasiões que não entraria em uma coalizão ou aliança.
Sem maioria
Sem uma maioria clara e um parlamento fragmentado, o papel de Mattarella será central, já que ele, como chefe de estado, poderá tentar costurar um acordo intrapartidário. Se nem isso acontecer, existe um consenso entre alguns políticos italianos de que Gentiloni continue no posto até que novas eleições sejam convocadas.