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Imprensa britânica: no olho do furacão em escândalo de escutas telefônicas

Primeiro-ministro David Cameron nomeou um juiz com fama de rigoroso para realizar uma dupla investigação sobre as escutas e a ética nos meios de comunicação

Pedido de desculpas de Rupert Murdoch é publicado em jornais britânicos (Ben Stansall/AFP)

Pedido de desculpas de Rupert Murdoch é publicado em jornais britânicos (Ben Stansall/AFP)

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Da Redação

Publicado em 16 de julho de 2011 às 15h13.

Londres - O escândalo das escutas telefônicas não apenas acabou com o fechamento do jornal News of the World, decidido por seu proprietário, o magnata Rupert Murdoch, mas também mancha a imagem da imprensa britânica, no momento em que ela se encontra extremamente vulnerável.

O primeiro-ministro David Cameron nomeou um juiz com fama de rigoroso para realizar uma dupla investigação sobre as escutas e a ética nos meios de comunicação.

Lord Leveson, promotor no processo da assassina em série britânica Rose West, analisará desta vez as atividades da imprensa e também suas relações com a polícia e o mundo político.

Neste sábado, a imprensa britânica lançou muitas questões sobre a proximidade do primeiro-ministro com os diretores do império de Murdoch, lembrando que os trabalhistas não estiveram muito distantes do grupo durante seus 13 anos no poder.

Lord Leveson deve exigir um reforço das instâncias de controle da imprensa, hoje regulada pela Press Complaints Comission (PCC), considerada pouco eficaz.

A PCC reforçou seu código de deontologia após a "fúria" da mídia sobre a princesa Diana, mas mesmo assim suas sanções continuam tímidas. Em maio do ano passado, o periódico Daily Telegraph foi condenado simplesmente a publicar desculpas depois que duas de suas jornalistas, que se fizeram passar por eleitoras, montaram uma armadilha contra deputados liberal-democratas.

Escutas telefônicas, pagamento de fontes, corrupção policial, câmeras ocultas: outras tantas práticas que não são exclusividade da imprensa dita sensacionalista, como foi debatido em um recente seminário na London School of Economics.

O jornalista do Times, David Aaronovitch, afirmou que não havia encontrado nenhum vestígio de discussão em torno da ética nos jornais nos quais trabalhou, o que contrasta com o "debate intenso em vigor na BBC", que atualiza regularmente suas orientações aos profissionais.

"Perdemos nossa ética muito antes do caso Milly", lamentou Aaronovitch, referindo-se a uma das revelações sobre o grampo telefônico do News of the World no telefone de Milly Dowler, uma menina assassinada.

A ideia de uma autoridade de regulação da imprensa é rechaçada por muitos editores, que alegam a preservação da liberdade dos meios de comunicação.

"A resposta deve vir de dento dos jornais", defendeu Bob Satchwell, diretor da Sociedade de Editores. "Já perdemos um jornal, vamos evitar que isso continue", completou.

A imprensa nacional britânica tem uma tiragem diária de 10 milhões de exemplares (inclusive aos domingos), mas está perdendo eleitores. A queda se dá até mesmo em veículos sensacionalistas, como o The Sun, que caiu 5,81% em um ano.

Na imprensa considerada "séria", a diminuição é ainda mais drástica: queda de 12% no Times e de 10% no Guardian.

Os editores argumentam que uma maior regulação prejudicará os jornais na concorrência com a internet, que não sofre controles.

A ameaça é também de ordem econômica para a imprensa. Depois do fechamento do News of the World, surgiu uma avalanche de rumores sobre a possibilidade de Murdoch vender outros de seus jornais britânicos (Times, Sunday Times e Sun).

O magnata da imprensa desmentiu os boatos, mas a medida não desagradaria aos acionistas, pouco dispostos a sofrer perdas no setor da imprensa escrita.

Murdoch antes de tudo é "um homem de negócios e ele se livrará de tudo que for necessário em benefício do seu grupo", afirmou Charlie Beckett, analista em meios de comunicação da London School of Economics.

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