Homem armado, que se acredita estar a serviço da Rússia, monta guarda no em frente a uma área militar ucraniana na cidade de Sevastopol, na região da Crimeia (David Mdzinarishvili/Reuters)
Da Redação
Publicado em 7 de março de 2014 às 20h46.
Moscou/Sebastopol - A Rússia disse nesta sexta-feira que quaisquer sanções norte-americanas impostas a Moscou sobre a crise na Ucrânia vão ter efeito bumerangue nos Estados Unidos e que a Crimeia tem o direito de autodeterminação. No mesmo dia, homens armados tentaram tomar outra base militar ucraniana na península da Crimeia.
Em uma conversa por telefone com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, alertou contra "passos apressados e imprudentes" que poderiam prejudicar as relações russo-americanas, disse o Ministério das Relações Exteriores da Rússia nesta sexta-feira.
"As sanções ... inevitavelmente atingiriam os Estados Unidos como um bumerangue", acrescentou.
Num período de 24 horas esse foi o segundo contato em clima tenso de altas autoridades dos dois países, ex-inimigos da Guerra Fria, sobre a tomada de poder pró-russa na península ucraniana da Crimeia.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse depois de uma conversa telefônica de uma hora com o presidente dos EUA, Barack Obama, que as posições deles sobre a ex-república soviética ainda estavam distantes. Obama anunciou na quinta-feira as primeiras sanções contra a Rússia.
Putin, que em seguida inaugurou os Jogos Paralímpicos de Inverno em Sochi, boicotados por vários dirigentes ocidentais, disse que as novas autoridades da Ucrânia, pró-Ocidente, agiram de modo ilegítimo em relação às regiões leste, sudeste e a Crimeia.
"A Rússia não pode ignorar pedidos de ajuda e age em conformidade, em plena conformidade com o direito internacional", disse ele.
Segundo o assessor do comandante dos guardas de fronteira da Ucrânia, Serhiy Astakhov, 30.000 soldados russos estão agora na Crimeia, em comparação com os 11.000 antes da crise, os quais estão permanentemente alocados na base da frota russa do Mar Negro, no porto de Sebastopol.
Na sexta-feira à noite, homens armados que se supõe fossem russos conduziram um caminhão em direção a um posto de mísseis de defesa ucraniano na região da Crimeia, mas o impasse foi resolvido sem que nenhum tiro fosse disparado, disse uma testemunha. O primeiro-ministro da Crimeia, pró-russo, disse mais tarde que o impasse tinha acabado.
Putin nega que as forças sem insígnia nacional que estão cercando as tropas ucranianas em suas bases estejam sob o comando de Moscou, apesar de seus veículos terem placas militares russas. O Ocidente tem ridicularizado a sua negativa.
O mais grave confronto Leste-Oeste, desde o fim da Guerra Fria - resultante da deposição no mês passado do presidente Viktor Yanukovich, após protestos em Kiev que resultaram em violência - se intensificou na quinta-feira, quando o Parlamento da Crimeia, dominado por russos étnicos, votou a favor da adesão da região à Rússia.
O governo da Crimeia marcou para 16 de março um referendo para definir o status da região.
Armamento
A Turquia colocou seus caças em ação depois que um avião russo de reconhecimento voou ao longo da costa do Mar Negro e um navio de guerra dos EUA passou através do estreito de Bósforo, na Turquia, a caminho do Mar Negro, embora os militares dos EUA tenham dito que se tratava de uma movimentação de rotina.
Os líderes da União Europeia e Obama disseram que o plano de realização de um referendo é ilegítimo e violaria a Constituição da Ucrânia.
O chefe da câmara alta do Parlamento russo declarou, após uma reunião com parlamentares da Crimeia em visita à Rússia nesta sexta-feira, que a Crimeia tem o direito à autodeterminação, e descartou qualquer risco de guerra entre as duas nações "fraternas".
Obama ordenou na quinta-feira a proibição de concessão de vistos e o congelamento de bens de pessoas até agora não identificadas, mas consideradas responsáveis por ameaçar a soberania da Ucrânia.
No início da semana, um assessor do Kremlin disse que Moscou poderia recusar-se a pagar todos os empréstimos aos bancos norte-americanos - dos quais os quatro maiores são de cerca de 24 bilhões de dólares.